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sábado, 2 de outubro de 2010

Os teares da escrita e a importância de tecer

  O tecido pode ser o melhor condutor para sentirmos que o prazer pode ser experimentado, também, através das pontas de nossos dedos... O mundo compreendido pelo tato pode fazer com que reflitamos sobre algo mais do que o simples fim e a futura utilidade que o pano terá. O tipo de fio, a maneira como ele foi tramado e, enfim, a forma que tomou, contribui para que aprendamos sobre as várias texturas até que possamos, finalmente, poder tecer – fiando com nossas próprias linhas coloridas – uma “fazenda” (do verbo fazer) que muitos poderão observar, sentir e compreender como uma contribuição nossa para o mundo.
  Ao lermos boas obras com atenção, infalivelmente, sentiremos em seus veludos, desde um simples véu até as mais finas das sedas, pois é necessário primeiro sentir para depois fazer-se sentir pelos tecidos produzidos dentro de nossos próprios teares. Sabendo disso, não é difícil perceber a relação de tessitum, tecido, textura, texto...
  Enfim, ao contrário do que muitos pensam, o ato de produzir um texto não está vinculado a nenhuma força divina que nos sopra aos ouvidos e nos vem inspirar. A palavra chave para uma boa produção textual é ‘trabalho’. Deve-se cultivar o hábito da leitura e submeter suas produções a releitura, a reescrita e – fundamentalmente – à crítica (pedir para que outros sintam a textura e apontem para os fios soltos que precisam ser consertados). Estes são alguns elementos que fazem parte dessa construção. A atenção a esses pontos é essencial para que não se abandone o processo de estar sempre trabalhando com ideias já desenvolvidas. Pois o texto, assim como nosso conhecimento de mundo, sempre está em constante transformação. E é assim que vamos dando forma e cor aos nossos tecidos.
  Agora é sentar, puxar um fio e começar a tramá-lo.