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quinta-feira, 31 de julho de 2014

NUNCA HAVERÁ NADA MAIS BONITO DO QUE AS MÃOS DE MEU PAI...

Então ele partiu. Seu rosto era de quem se deixava ficar, mas seu corpo se ia, apequenava-se na estrada. Quando o mundo chama, as chamas se acendem por dentro e só deixam de queimar quando voltamos para casa. Ah, as casas! Dizem que elas não ficam. Elas nos vão morando nas entranhas até que, de volta, resolvemos inverter as interioridades.
Assim eram todos os dias. Meu pai só se demorava à noite, o dia o devorava e a luz natural não sabia nada de sua pele. O velho patrão não queria saber se a tal de vitamina ‘A’ desenvolvia-se quando entrávamos em contato com alguma brecha de raio solar. Não, ele (o mundo moderno) não se importava com engrenagens substituíveis, com filhos alheios e muito menos com lares descarregados de pais. O mundo só queria saber de funcionar para ele mesmo e de como lucraria ainda mais com essa geração tão órfã de figuras paternas.
Um rosto era tudo que eu podia ver na escuridão de uma lâmpada acesa. Ele se perdia em olheiras que carregavam olhos cansados e tristes. Os lábios acompanhavam braços pesados e que tentavam sorrir quando me puxavam para um beijo. Era tudo.
Em uma tardinha resolvi dar ouvidos ao que diziam as mãos desse homem noturno. Peguei-as enquanto esperávamos o jantar. Percebi então, sob o olhar caloroso dele, rugas divididas entre veias grossas e ossos que articulavam os dedos de um homem magro. Ao virá-las, notei que as linhas não se alinhavam mais, perdiam-se em calos e sujeiras incapazes de serem limpas. A grossura delas não podia ser medida, nem parecia pertencer aos mesmos olhos doces que acompanham minha expedição. A criança que havia em mim ainda não sabia entender tanta judiação. Eu não entendia que aquelas mãos eram as que me traziam infância, e que seu dono, sorrindo, sempre encontrava um tempinho para fabricar um e outro brinquedo ao meu comando. Ainda as sinto revirando meus cabelos quando chegavam para noturnar conosco. Ah, as mãos! Elas deveriam ter vozes mais claras ao invés de ficarem atemporando lembranças em um silêncio que só sei entender hoje.

Enfim, adulto, percebo o tempo pesando, empurrando seus dedos dormentes e unindo palmas para, ainda, fazerem orações preocupadas para mim.  Aquelas mãos até hoje me fazem bem e o que sou leva-me a pensar que, por elas, tenho que continuar a fazer mais, mesmo sabendo que nunca haverá nada mais bonito do que as mãos de meu pai. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

(4ª parte) NOTAS DE DESACONTESSÊNCIAS: frases, máximas e pensamentos.

Todas as vozes precisam ganhar outras para se reinventar e parir mais outras - e nem todas são sonoras, mesmo as bem ouvidas.

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Não se ama um pássaro impedindo-o de voar.

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Morremos quando esquecemos os próprios pratos para alimentar a fome pela comida alheia.


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O sonho de ser professor há tempos já deixou de ser passado, porque este meu hoje é o futuro de um ontem bem duro e de pura paixão. Sim, minhas pretensões se resumem nisso, mas se o excesso anda a se fazer oportunidade, vivamos ainda mais felizes nesse contínuo de faceirice que está me fazendo crer até mesmo em utopias. Ah, meu amigo ‘desacontecente’, os sonhos me querem sonhar... e claro! Eu vou deixar. Estou deixando...

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O futuro é um presente que já nasce grávido de mais presentes.

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Os ‘daqui-a-poucos’ reservam sempre uma versão renovada de nós, porque os 'ontens' é que são velhos.

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Entre mim e o que fui há uma população de 'mins': confie no último.

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O presente gosta de estar bonito, ele se veste de futuro.

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Não sei se o tempo já vem temperado de escolhas, ou se as escolhas é que nos vão aprimorando no tempo.

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Parece que a vida que levo anda me levando bem. Surpresas bonitas que, dedo a dedo, vão enluvando e se encontrando aos poucos nas mãos.

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Se nenhum olhar escapar, continuaremos livres por dentro.

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O mundo me promove a arisco, um medroso que se esconde nas próprias entranhas. Ainda bem que, volta e meia, meus espíritos se vazam pelos dedos, desafiam-se para além destas carnes e se reescrevem em abismos forasteiros. O que lês são meros cacos, limalhas caídas daqui. Junte-as todas, se possível, e me refaça com um pouco de ti. Não permita que eu siga quebrado neste escuro interior: me leia!

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Só há fogueira se antes já houver uma centelha, o que fazemos é soprar.

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O mundo não diminui quando crescemos. Ele decresce quando a poesia (que é elástica) cansa sua borracha e dá lugar à rotina, que, por sua vez, aperta nossas crianças.

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Toda palavra precisa ganhar tom em alguma voz, mesmo que se perca pelos cantos.

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"É preciso ser muito bom para ser simples, guri!"

(Meu pai)

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Toda música que consiga ser melhor do que os silêncios consegue fazer sucesso em mim.

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Não somos papéis, somos pele pura. Diplomas? Ah, eles não podem sentir, são apenas consequências do que seguimos sentindo!

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Em tempos de ultrarrapidez, sinto-me até um maluco folheando Otelo e alimentando pouco a pouco certa raiva por um Iago de papel.

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A leitura ilumina os cantinhos que tu nem sabias que tinha.

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Ler é como sair para dentro de si mesmo.

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Desconheço vontade mais musical. Chove, pode chover.

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Tuas lonjuras estão infestadas de logo alis.

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Estou atrás de uma porta que só abre pelo lado de fora. Se me deixar sair eu saio. Se não quiser, tente evitar o buraco da fechadura.

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Não queremos guerras, já temos as nossas - e quanta paz teríamos se cada um de nós se entendesse com as suas próprias!

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Nem tudo é matemática: o "eu te amo" nem sempre se soma ao "eu te amo também".

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Escrevo o que sinto. Não sinta o que escrevo. Escreva o que eu digo. Não digo o que vejo.

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O mal é um bem reprimido.

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Só cultivo pretensões se me trouxerem prazer, não trazendo, viro para o lado e passo a contemplar outro horizonte.

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Não nos exclua de sua verdade, há muitas verdades. Na dúvida, deixe que façamos a nossa, só não se assuste se não forem da mesma cor, não se chateie, pois é assim mesmo. O que pedimos é que nos deixe colorir, queremos também sentir o gosto de algumas.

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 Não sei se fico ou se vou. Se for, fico por ir. Ficando, me vou por ficar.

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Sempre começamos na hora certa, porque a hora começa agora, não deixa cauda, não mostra fim. Os relógios não sabem de nada. Os tempos, para fora deles, estão sempre prontos para novas multidões.

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E a chuva vai secando os nervos das nuvens para irrigar e acalmar os nossos...

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Queria sentir as penas dos passarinhos, elas sim é que fazem voar. A pena humana é medíocre, só sentimos por quem julgamos não poder se levantar. 

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Só amamos quando aprendemos, desaprendemos e reaprendemos a afinar todas as cordas de nossas razões.

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 Ontem sonhei com o futuro, acordei.

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Nossas peles revestem multidões que na superfície parece com(o)um.

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Os tantos que somos não são os poucos que parecemos.

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E as lavadeiras torcem as nuvens...

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Vejo um outro a cada dia. Em minhas fotos antigas algum sujeito estranho me sorri.
É, sinto que estou me afastando de mim!

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Se não tem desejo por livros, não justifique me acusando de ter mais tempo do que tu. Os tempos são os mesmos, a intensidade é que parece não ser. Não quer ler não leia, não tenho nada com isso! Só vire o disco. Cansei do lado B.

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Todos somos conjugáveis: eu dilso, tu dilsas, ele dilsa... até os nomes se diluírem em alguma outra coisa que não mais eu, nem tu.

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O Mário morreu? Claro que não, meus amigos, ele deve só estar descansando em algum 'quintanare'! Não acredita? Então leia um poema para ver se ele não te passarinha uma visita!

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Pensei, pensei e não, não vou me gastar, virar zumbi, sou um homem da razão e preciso afinar as cordas frouxas, as apaixonadas. Lamentos são irracionais, imorais, meu negócio são os silêncios. Afino todos para desafinar a baixeza que circula no mundo mais pobre, na volta da raiva indomável dos desrazoados. Os baixos que subam em uma cadeira se quiserem ver "ou-vir". Sigo voando!

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 A vida é quem empresta poesia aos poemas.

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Quando a realidade me agride, a poesia me salva.

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Ah, os silêncios! Tenho uma pintura cheia deles no meu quarto, chama-se janela. Ali cada silêncio serve de tinta para o mundo, para os meus e para os de outros tantos que há. Só que com um detalhe: ela sempre se renova nas cores.

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Uns possuem o dom de organizar todos os sons em cores; outros, menos populares, em silêncios. Acho que pertenço ao último.

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 O que fazer quando o mundo não sabe o que quer de nós? De um lado, a seriedade e o trabalho duro; de outro, a necessidade alheia de não poder cobrar. O que esperam os jovens de nós, professores? Se formos firmes, somos considerados chatos; deixando a natureza imperar, os relapsos; rebatendo um ataque pessoal, os "ele-não-pode-dizer-isso". Não, não estou questionando minhas paixões, apenas deixo as inquietações tomarem força e autonomia nesta fala indiscreta, uma vez que, em tempos de "liberdade", o prisioneiro acabou sendo o educador.

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Não sei como a vida pode caminhar. Temos uma gama de informações bem na palma de nossas mãos. A força de um universo inteirinho ao nosso dispor. Como podemos não ser, no mínimo, melhores? Respondo: é porque junto com essa dádiva toda veio também o "tudo-pronto", receber pronto. Só que não nos adianta tudo isso se não tivermos o conhecimento, ou ao menos a curiosidade para podermos usufruir desse bem tão indispensável para os dias de hoje. Ignoramos a elasticidade do que os gregos já chamavam 'kairós': o tempo da oportunidade. É, acho que quanto mais temos, menos somos, mais esperamos e menos esforços fazemos para caminhar, não há direções. Por isso não entendo de nenhuma estrada, pois elas ainda não se fizeram.

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A noite é um olho fechado que nos olha por dentro.

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Só quero agarrar um silêncio pela cauda e me enrolar todo com ele.

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Um pedaço de pão e um pouquinho de circo, eis a poção do esquecimento... Que ópio poderoso!

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Os gatos são encantadores de silêncios, eles servem aos bichanos, tal como um bom leitor se serve das vozes de um texto.

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Construo meus mundos sobre a inquietude dos silêncios. Para isso, leio sempre junto a um bom maestro de obras.

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O domingo não descansa, ele tem medo de dormir e acorda numa segunda-feira.

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E que os escuros possam ser bem mais do que um silêncio, que sejam silêncios!

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A saudade é uma gordura que nos emagrece.

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Quem não se encontra por dentro, acha-se.
Quem se encontra, perde-se mais...

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Somos escravos do que dizemos e reféns do que não falamos.

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O mundo é feito de sombras que se revezam na luz, tal como o coração, o Sol não sabe desligar.

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Os silêncios da madrugada são o que arejam as interioridades.

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 O que me falta em espírito quem supre é o gato. 

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A não ser que se acrescentem alguns 'O’s nos 'oooooooooois' de um sorriso faceiro, os 'ois' não se poetizam.

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A noite é um silêncio que engorda fantasmas.

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A falha dos olhos está no ponto de vista.

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O nada é um silêncio cheio de timidez.

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Ando sempre na moda: me visto por dentro.

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Só saio comigo junto!

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Sem nome nem sobrenome, só o homem.

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 Facebook: a melhor maneira de encontrar-se com todos sem precisar estar com ninguém - solidão moderna.

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O amor acaba quando nos damos conta de que, não sendo uma cópia de nós, o outro é capaz de existir sozinho. Quebrando o egoísmo, quebra-se o encanto.

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Nenhuma palavra deve ficar presa. Contidas, vão se tornando vozes que te acompanharão até os infernos. Quanto mais demorar a libertá-las, mais forte ficarão quando saírem – cedo ou tarde elas sempre saem, viram monstros.

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O futuro é este presente que o passado mandou pra nós.

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Os silêncios vão se soltando para que, tranquilos, os pensamentos possam tricotá-los sem embolar.

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Já que não podemos desacontecer, melhor mesmo é reacontecer nas acontecências que nos vão acontecendo.

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A utopia só entope as veias de quem não sonha.

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O futuro é um doente ansiado por 'daqui a poucos'.

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As palavras são anjos atletas: usam as próprias auréolas para treinar arremessos com nossas cabeças.

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Somos o futuro de um ontem cujo passado será amanhã.

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O amanhã é um canibal idoso que tenta devorar os agoras.

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Só me demoro em lugares que não ficam e que, só de olhar, me levam junto.

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A noite acontece para clarear nossos escuros.

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Precisamos de olhares críticos que, de tão eróticos, possam desejar ver através de qualquer roupagem.

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Uma vez me questionaram: 'Professor sem paixão (d)existe?' 'Não sei, trabalho com os silêncios - respondi.' Então foram os barulhos que desistiram de ti?' ' Não, eles é que me fizeram silenciar: existo assim.' 'Existe ou desistiu de existir?' 'Quando alguém leva nos olhos alguma de minhas inquietações, passo a existir nele, tal como fui/sou povoado quando tu me pegas quietinho lendo, engordando paixões e me barulhando todo por dentro.'

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Todas as manhã – ansioso –, sempre aguardo aquele outro, que será a versão mais nova de mim. Se o Sol nasce, ou seu parto é tolido por algumas nuvens metidas, tanto faz, o importante é que, mesmo escondido, ele esteja ali para engordar esta minha povoação.

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Os escuros se encontram nos pensamentos de quem não sabe se perder nos silêncios.

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O medo é o combustível do ódio. Não tenha medo para que não odeie amanhã. Já odiei muito, hora de ter coragem e nutrir as faceirices dos bons combates.

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Não sei por quem os sinos dobram... Espero que não por mim, não gosto de badalos. Contudo, nenhum silêncio se desorganiza assim, por nada. Há sempre um sei lá o quê de arranjo nessa vontade de ser canção.
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Se der certo acertaremos as certezas que não se acertavam mais...

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Não nos declare guerra, já temos tantas acontecendo dentro de nós...

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Um revólver desapontado mata só os silêncios... Aponte um lápis, escreva pra mim, assim não desaponta meus ouvidos: eles são de papel.

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Há dias em que nos libertamos tanto a ponto de nos prendermos na soltura.

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Sempre pensei que as lonjuras fossem 'logo alis' que moram perto, dentro de nós. Estive errado, hoje alguns de meus 'dentros' resolveram olhar pra fora: foram até a janela e te viram partir. 

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A saudade é uma casa que nos habita: Quem fica mora dentro. Quem parte leva junto.

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 Mãe: um sol que nos enlua em qualquer escuridão.

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Os olhos pensam que os ouvidos piscam, que perdem os detalhes da canção - só que eles nunca fecham, nem para dormir conosco...

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Não haveria literatura se não houvesse o desejo. Querer não basta. O querer ensurdece as palavras.

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A quem me pergunta sobre qual livro deve ler, digo sempre o mesmo: “tanto faz!”. “Mas como assim, tanto faz?”. “Tanto faz, ué! Desde que não queira só ler!” “Eu quero, do contrário não te perguntaria!” Tá bom, mas o quanto quer?” “Muito, muito mesmo!” “Deseja isso?” “Sim.” “Deseja quanto?” “Ah, cara, pare com essas perguntas! Responde e pronto!” “Desculpe, fico surpreso. Por que perguntar? Pegue qualquer livro e veja o que ele te diz. Ouça. Ele é quem deve te dizer.” “Tá, mas o que o desejo tem a ver com isso?” “Tudo, pois se não houver um impulso quase sexual. Um desejo sem pudores não adianta, ninguém passa das primeiras páginas.” “E como vou saber se desejo?” “O saber é outra coisa, vem depois. Falo de sentir. Use teus direitos de leitor.” “E como faço isso?” “Simples, leia, depois pergunte!” “Leio o quê, pô!” “Comece lendo a si mesmo. Pergunte-se com quem quer fazer amor hoje. Qual voz quer ouvir primeiro. Os livros estão cheios delas”.

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