Bastou um pingo para que o universo inteiro mudasse.
Se ele acontecesse diferente, seríamos outros. O que dizer então da chuva?
Às vezes nos esquecemos
de que o outro é o outro e que também somos outros para ele. Pois é. Como o
dia, existem situações em que é melhor fechar-se. A experiência nos obriga a ‘noturnar’
de vez em quando. Tarde vamos sentindo que o fígado precisa estar saudável para
continuarmos certa existência – mesmo que breve.
Verdade. Há momentos em
que nos resta a impressão de que estamos virando ostras; em outros, clarões:
multidões solitárias.
Mas nem tudo é
desespero e extremos existenciais. A música e a literatura têm o poder de ‘reacordar’
dos cantinhos aqueles meninos que fomos (de abrir o que estava fechado nessas
multidões solitárias das quais falei) – e a filosofia, sempre arteira, faz
questão de deixar os olhos faceiros ao iluminar toda essa ‘refestelação’. Sem
isso cairíamos num ostracismo perpétuo e medroso em relação a nós mesmos, às pessoas
e às coisas. E pensar que tudo acontece dentro da gente...
Quem nunca teve medo de
passar pela existência sem sequer desenvolver certa consciência de ter de fato
existido? Você existe? Eu existo? Nós existimos? Tem certeza disso? Que bom!
Agora, para continuar, exista para mais alguém. Assim fica mais um tempinho por
aqui. Boa maneira de driblar, por hora, aquele esquecimento inevitável e, por
conta disso, temido, pois só existimos assim, vivos e conscientes – pelo menos
para nós mesmos.
Então, só somos de fato
quando temos consciência de ser – a existência nos exige este espanto.
"Dessabidos" disso, ainda nem nascemos. Estamos apenas grávidos de
nós mesmos. To be, or not to be, that is
the question.
Sim, amigos, escrever
tem lá o seu valor, uma vez que, cedo ou tarde, mesmo com os pensamentos
quietinhos, voltamos de onde estivermos pelo simples empréstimo das vozes de
algum curioso qualquer. Alguém que saiba despertar aquela ‘conscienciazinha’
que tínhamos – aquela luz.
Putz, como é difícil
existir! Agora que fui pensar nisso:
"Cogito ergo
sum" (Penso, logo existo).
Não, não me esqueci da
pergunta. Retomo: Você existe? Olhe para suas mãos, para este texto. Olhou?
Então acaba de ganhar e dar existência, já que foi você quem os pensou.
Bom, acho que não
deveria escrever enquanto bebo, dá nisso! Desculpem.