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terça-feira, 28 de abril de 2015

TELEFONES CELULARES EM SALAS DE AULA: FONTES DE CONHECIMENTO OU DE ALIENAÇÃO?


Nunca fui contra nenhuma lonjura. Tanto que hoje, especulando alguma situação teórica acerca do tema, decepcionei-me com as distâncias temporais e pouco práticas, pelos menos no que diz respeito à realidade. Reparei que os tendenciosos “ismos” sempre estavam em tudo, à frente, bem ali, tal como funciona uma boa utopia. Fique à espreita, abri os olhos para dentro e tentei encontrar respostas nas imagens que o dia-a-dia gerou. A teoria parecia não abastecer minhas frustrações. Construtivismos, behaviorismos... Nada. Isso tudo só me ajudava a tornar o real pouco palpável e perfumado. Lógico! Sei também que expondo isso posso sofrer alguma represália de algum amante que anda distante da vida real, mas mesmo assim, corajosamente, advirto: “não, celulares não fazem bem ao conhecimento e nem a boa convivência escolar”.
Há quem diga que ela (a tecnologia) pode servir de aliada às disciplinas, serviria como uma espécie de canal, de busca e aprofundamento do que se está estudado naquele momento. Confesso que isso é atraente. Bem bacana. Contudo, estejam certos de que as redes sociais são imãs mais poderosos do que um artigo confiável que venha a enriquecer alguma riqueza empobrecida pelo “tudo pode”. Culpa do professor? Natural culpá-los, já que deixo meu filho ignorá-los em algum deserto de quadro, livros e giz.
Ainda outro dia, enquanto conversava com uma colega em algum desses momentos de intervalo, uma menina nos surpreendeu com a seguinte pergunta: “Alguém tem um carregador para me emprestar?” “Não, por quê?” “Minha mãe pode me ligar.” “Mas ela não sabe onde você está? Poderia ligar para a escola, ninguém terá problemas em repassar a mensagem.” Certamente que a vontade não estava em contatar a casa, ela se abastecia pela vontade de querer saber o que a “Ágora” moderna estava comentando sobre uma fotinho que havia tirado em sala de aula, quem sabe na aula de matemática, talvez. (Engenharia está fora de cogitação).
Não se enganem, meus amigos, sempre gostei muito de teoria, mas não troco a fala de um profissional real por uma teoria laboratorial. Ninguém quer impedir que a tecnologia avance. Somos devedores de muitos benefícios que ela nos trouxe. Porém (e sempre há um porém) a mesma dama pode também nos servir um perigoso paradoxo: a comunicação que não sabe se comunicar. Antiquado? Acho que a palavra seria: realista.

Se desconfia disso, entre em uma sala de aula, alguns corpos ainda estarão por ali, mas grande parte dos espíritos volitará em outro lugar, seres perdidos aí pelo mundo a insuflar de pobreza algum universo virtual. 

domingo, 26 de abril de 2015

RAÇAS DO TEMPO


Certo dia, sentada em frente da casa, uma senhora de espíritos rejuvenescido pelo excesso de idade foi abordada por um velho que somava, no máximo, quinze anos:
O que está olhando?          
– Nada. – desassuntou a mulher.
– Ora, nada! Não vê que me assustou, sua bruxa?!
Pobre senhor de pouca raça! (Sim, o tempo te dá muitas raças. Cada versão nova de nós pertence a uma devida e única etnia. Quanto mais se (des)vive, mais povoamos o corpo de juventude) O que o idoso não sabia era que o nada também é de tudo um pouco, ele pode ser um mestiço ou a multidadão de muitas nações. Aquele olhar que havia recebido pertencia a uma plural verdade que, por ser tão vivido de uma só vida, jamais poderia entender. Ele mesmo, debutante, não tinha olhos para lamber os outros gostos que teve de si mesmo até aqui. Sendo assim, nunca poderia entender de juventudes, sempre achou que o Sol de ontem é o mesmo de hoje.  
Menino, meu nome é Marta, a dona da casa. Bruxa?
– Por que ficou me encarando enquanto eu passava? Fique assustado.
– Nada. Como eu disse, nada.
– Então, sra. Marta, gasta vida  tentando ver nada nas pessoas?
– Moço, sem água as piranhas não tem poderes. Sem as pessoas, eu é que não tenho. Construo meus tudos através das várias raças de tempo que os olhares me trazem.
– Maluca!
E se foi.
A mulher ficou ali. Tentou buscar outra em suas interioridades, aquela que, como o rapaz, não ultrapassava os quinze. Encontrou. O tempo, tal como havia previsto, trouxe novamente aquela velha que tirou do baú. Contudo, logo recordou: “Oitenta! Esta sim é a mais nova de todas as que fui.” Sentia-se mal por não poder mais retornar às suas oitentações. Olhou para o rio que passava do outro lado da rua, mas as águas pareciam parar.
Assim, Dona Marta deixou de habitar aquela casa para fazer parte da correnteza. Aquela última foi a mais jovem que a força daquelas raças ribeirinhas poderiam lhe dar. Atravessou e ficou bem ali, presa com aquela de si mesma que recordou: uma terceiraidosa de quinze anos de idade.

E o rio continuou de onde havia parado...

sábado, 25 de abril de 2015

EJA – EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS

Quando pensamos que o mundo já deu o que tinha que dar e que não há mais o que fazer, surgem os adultos para nos animar e ensinar alguns caminhos novos e possíveis dentro dos educandários. Não estou falando simplesmente de alunos comuns (como muitos que “zumbinam” em nossa realidade e que ficam nos corredores das Escolas somente para preencher vagas ou garantir certo benefício social). Falo do EJA (Educação para jovens e adultos), homens e mulheres sem tempo a perder, pois como já escreveu Sêneca: “[...] ninguém pensa que alguém lhes deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou”. Roubar o tempo do outro sempre custa caro, ele não pode ser devolvido, ele se perde.
Não pense o leitor que, ao expormos isso, estamos denegrindo ou atacando algum grupo social. Isso nem nos passa pela cabeça, a verdade é que queríamos garantir a todos uma educação de qualidade e que formasse, no mínimo, cidadãos críticos e civilizados. Contudo – não se espantem –, já que nem sempre a realidade corresponde ao que queremos ouvir. Lógico, sempre é mais fácil delegar aos professores a educação de nossos filhos. Jeitinho brasileiro, esta histórica maneira cega de isentar nossas responsabilidades para que possamos assistir a nossas novelas em paz.  
Sorte que, ainda, temos noites mais claras ao “noturnarmos” com alguns estudantes que não têm mais tempo a perder. Gente madura e com essa maturidade, vêm encantar e ajudar a fazer da Escola noturna um lugar iluminado e nobre, como outrora. Amigos que trazem uma educação forte e de outros tempos para encantar e melhorar o nosso. E é justamente por isso que são merecedores de toda nossa dedicação e ouvidos, pois, quando eles falam, aprendemos junto e, inclusive, alguns são tão sábios, que não têm nenhum medo de aprender também: são ricos que nos enriquecem.  

Sim, meus nobres, precisamos desenvolver outros ouvidos. Não desenvolvendo, todos nos perderemos pela matemática macabra que nos envolve, a matematização do que é humano. Explico: muito número para pouca qualidade. Por estes e outros motivos que nos motivamos ao entrar em uma turma repleta dessas pérolas bonitas e que vêm de um tempo onde a Escola ainda era um ambiente de respeito e sabedoria. O correto seria até que alguns desses alunos fossem professores de certos pais que reclamam sem saber nada sobre o que são seus filhos longe de seus olhos e dentro dessas instituições tão “sagradas” a que chamamos comumente de Escolas. 

sábado, 11 de abril de 2015

UM LUGAR CHAMADO ESCOLA...

Sabem aqueles templos aonde as pessoas vão para rezar? Alguns chamam de igreja, santuário... O nome pouco importa. O que interessa mesmo são os porquês.
Outro dia ouvi falar de um local considerado tão sagrado que as pessoas, automaticamente, tiravam os chapéus para entrar. É estranho o modo com que os mitos são sempre mais bem-vindos do que algumas outras verdades que envolvem a sociedade, as reais.
 Acompanhem: um médico salva vidas – não é mesmo? –, um padre, um pastor (tal como alguns acreditam) salvam almas. Tudo bem! Mas e os Lentes? Aí é que está. As marcas deixadas pelos bisturis dos professores é que são realmente delicadas e perigosas, até. Eles operam a todos - a todos os espíritos - e, se não forem empunhados por homens e mulheres apaixonados (as), podem até frustrar as mãos que poderiam te salvar, futuramente, em uma sala de cirurgia ou te levar ao suicídio em uma sessão qualquer.
Pensando nisso, por que será que a Escola não merece ter o reconhecimento e a postura utilizada ao adentrarmos num santuário, numa sala de cirurgia, numa sessão espírita, ou algo assim?
 Willian Blake já sabia: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê." No que, por sua vez, completamos com Nietzsche: "A primeira tarefa da escola é ensinar a ver". Enfim, o desafio é difícil, deve-se amar primeiro as cores. Por esta razão este tipo de educação é tão dolorida. Ver dói, já que na prática somos todos cegos pregando mais escuridão. A luz fere. A verdade, pelo menos em nosso tempo, anda podre, opaca e cheia de pimenta. Desprezamos a educação e amamos rezas e pedidos egoístas aos nossos deuses. Queremos mudar, não a nossa maneira de ver, mas desejamos que o mundo mude sozinho, não queremos fazer esforços. Assim, os educandários (estes sim deveriam ser reverenciados) acabam sendo oprimidos pelo senso do “tudo pode”, porque o ganhar tudo (tal como um pedinte rezador faz) é o que importa. Fazer?! Não, isso deixamos para os outros. Criem meus filhos, pois sou filho de “deus”, mas não sou pai nem mãe de ninguém – é isso o que impõem alguns bons santos.
É, meus amigos, não é fácil, ser professor é como estar em uma gangorra e sentir prazer tanto no alto quanto no baixo. É ter que amar em todos os níveis. É nivelar-se a cada tamanho e, às vezes, até negar-se um pouco para que todos ganhem certa altitude no outro extremo do brinquedo. Fácil? Não é mesmo. Se um piano só se afina com muita escuta, imaginem uma orquestra inteira que já vem desafinada de casa.
Vamos orar, irmãs! Quem sabe alguns dias aprendam a louvar os verdadeiros deuses: o Bom-senso e o Futuro.