Ah, que bom que já estou conseguindo escrever um
pouco! Sim, estive desatento e, neste meio tempo, confesso, aprendi que a falta
de concentração é bastante comum quando o novo aparece para deixarem velhos
aqueles hábitos que achávamos inteiramente naturais. Refiro-me à nicotina e ao
seu companheirismo caro de ‘mata-corpos’. Se sinto falta? Claro que sim. Como
poderia não sentir? Os sentidos todos funcionavam como radares que se apuravam
ao menor som da perninha de um grilo. Mesmo assim, neste momento, sinto que já
começo a me acostumar, uma vez que quase havia me esquecido, por exemplo, das
cores do cheiro do café, da língua esfumaçada que nos experimenta a cada
golinho de 'estalalábios'... Ai! Mas apesar disso, queria voltar a ser o número
33 (contando de trás para frente) daquele que fui. Por que 33? 33 vértebras,
ora!, só que agora – se pudesse – organizaria cada uma delas um pouco mais
retas, sei lá. Acho que este de mim anda demasiado torto para seguir com está. Sorte
que sou teimoso, tento daqui. Mas sem vícios ou mitologias. Preciso voltar a
ser livre, se não em tudo, ao menos em algumas partes deste novato que me
tornei hoje.
Confie em mim, ponha a ponta do dedo na língua, como
um teste. Aponte-o para o alto e aguarde... Se nesse meio tempo a temperatura
não se ajustar à umidade, então saia. Lugares muito secos atraem fogo fácil
demais. Perigoso. Ficar – meu amigo –, exige adaptação e uma perda trocada por
ganhos cancerígenos. Explico: se fumam, fico; fumantes não me forçam a fumar.
Por outro lado, se o assunto for religião, recuso-me, pois a fumaça que me
impedia de viver (mesmo de forma prazerosamente) através dos cigarros,
entupiria de fumaça tudo aquilo em que acredito – o que não está incluído uma
versão infantil de um amigo imaginário que mora em algum lugar por entre as
nuvens.
Enfim, perdoem-me os mais moralistas. Existem dias
que demoram a passar. Bons, ruins... Não importa. Quando a inquietação bate é
melhor deixá-la entrar, já que vai entrar de qualquer maneira mesmo. É! Não tem
jeito, esta hóspede geralmente aparece só para esticar o que seriam momentos
breves e de outras preocupações despreocupadas por ocuparem de menos a cabeça
da gente. Então ficamos cheios de visitas, de pensamentos que vão se engordando
em mais e mais inquietações. Estou quase livre dos vícios. Mente e corpo se
somam quando a saúde do pensamento não dependem mais de neblinas para
funcionar. Acho que há certo equilíbrio nisso. Há certa clareza em enxergar,
finalmente, através do nevoeiro. Que bom! Consigo sentir já o gosto das coisas,
as cores das coisas. Sim, sou livre: ateu e ex-fumante.