"É sempre agradável ver-se um destruidor de fábulas
ser vítima de uma fábula."
(BACHELARD,
Gaston. In:
SCLIAR, Moacyr. O centauro no jardim.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 5).
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"Muito bem, disse
o senhor, já que assim o quiseram, assim o vão ter, a partir de agora
acabou-se-lhes a boa vida, tu, eva, não só sofrerá todos os incómodos da
gravidez, incluindo os enjoos, como parirás com dores, e não obstante sentirás
atracção pelo teu homem, e ele mandará em ti."
(SARAMAGO, José. Caim. São Paulo: Companhia das Letras,
2009, p. 17-18).
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"Guardava
o rouxinol numa caixinha. Tudo o que queria era andar com o rouxinol
empoleirado no dedo. Mas, se abrisse a caixinha, ah! certamente fugiria.
Então
amorosamente cortou o dedo. E, através de uma mínima fresta, o enfiou na
caixinha."
(COLASANTI, Marina.
Para sentir seu leve peso. In:___. Um
espinho de marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 13).
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"É verdade: amamos a vida não porque estejamos
habituados à vida, mas estamos habituados a amar."
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Trad. Antônio Carlos Braga. 3. ed. São
Paulo: Escala, 2007, p. 53).
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"Há sempre algo de loucura no amor, mas também
há sempre algo de razão na loucura."
(NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Trad. Antônio Carlos Braga. 3. ed. São
Paulo: Escala, 2007, p. 53).
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A
MOÇA TECELÃ
Acordava ainda no escuro, como se
ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia.
Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos,
enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam
tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim
pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do
algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um
fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva
vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o
frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com
seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado
para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça
passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia
um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa,
pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que
entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia
tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era
tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria
trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como
seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho
de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e
as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo,
chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava
justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando
bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão
na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a
moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se
o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o
poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia
lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse
para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as
mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a
casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu
suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter
palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de
pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a
moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía
lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não
tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar
batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre
tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da
mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete —
ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as
estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos
do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de
criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em
que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E
pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se
enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não
fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha
nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o
outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as
estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as
maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o
jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido
estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo
de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus
pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo,
tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol,
a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios,
delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
(COLASANTI, Marina. Um espinho de marfim e outras histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 09-12).
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A PAIXÃO DE SUA
VIDA
Amava
a morte. Mas não era correspondido.
Tomou
veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe
o abraço.
Quando
finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada,
estourou-lhe o coração.
(COLASANTI, Marina. Um espinho de marfim e outras histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 87).
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UMA
ENGRENAGEM
Desmontou
a cabeça, peça por peça. Azeitou, poliu, limpou com flanela. Depois começou a
montar. Pronta, viu que uma engrenagem tinha ficado na mesa. Pensou em
recomeçar. Tentou. Não conseguiu. Faltava, para saber desmontar, aquela
engrenagem principal.
(COLASANTI, Marina. Um espinho de marfim e outras histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 164).
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"Por baixo das palavras que dizes percebo que
há outras que calas."
(SARAMAGO, José. Caim.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 45).
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“Nonada, arma de vivente é fia de muitas morte que
fica fazendo casa na gente. Não precisa sabê de letra pra entendê dessas
morada. Arma é alma, guri!”
(SANTOS, Dilso J. dos. As mães e os guaxos. In:___.
"Desassossegados". Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2016, p. 82).
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"Assim, não se
pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. [...] Chegando o
momento, o amor e a morte atacarão – mas não se tem a mínima ideia de quando
isso acontecerá. Quando acontecer, vai pegar você desprevenido."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
17).
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"No mundo real,
tal como nos desenhos do Tom & Jerry, talvez alguns gatos tenham sete vidas
ou até mais, e talvez alguns convertidos possam acreditar na ressurreição – mas
permanece o fato de que a morte, assim como o nascimento, só ocorre uma vez.
Não há como aprender a "fazer certo na próxima oportunidade" com um
evento que jamais voltaremos a vivenciar."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
18).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Em vez de haver
mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões
foram baixados. Como resultado, o conjunto de experiências às quais nos
referimos com a palavra amor expandiu-se muito. Noites avulsas de sexo são
referidas pelo codinome "fazer amor"."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
19).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Em todo amor há
pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
21).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Sem humildade e
coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e
contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não mapeada. E é esse
território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres
humanos."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
22).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Eros move a mão
que se estende na direção do outro – mas mãos que acariciam também podem
prender e esmagar."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
23).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Amar é contribuir
para o mundo, cada contribuição sendo um traço vivo do eu que ama. No amor, o
eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o mundo."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
24).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"A solidão produz
insegurança – mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação,
você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes
que você dá à ansiedade."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
30).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Eu amo você, e
assim permito que você seja como é e insiste em ser, apesar das dúvidas que eu
possa ter quanto à sensatez de sua escolha. Não importa o mal que sua
obstinação possa me causar: não ousarei contradizer você, muito menos
pressionar para que você escolha entre a sua liberdade e o meu amor."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
32).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"A noção de pecado
que domina muitas crianças e jovens e que geralmente se estende até a fase
posterior da vida é uma tristeza e fonte de distorção que não serve a nenhum
propósito útil. É produzido, quase que inteiramente, por ensinamentos morais
convencionais na esfera do sexo. O sentimento de que o sexo é maligno faz com
que o amor feliz seja impossível, levando os homens a desprezar as mulheres com
quem têm relações e geralmente a ter impulsos de crueldade em relação a elas."
(RUSSELL, Bertrand. A
nova geração. In:___. Por que não sou
cristão. Trad. Ana Ban. Porto Alegre: L&PM, 2016, p. 131).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Onde há dois não
há certeza."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
35).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Se tratarmos as
pessoas como merecem, nenhuma escapa ao chicote."
(SHAKESPEARE, William. Hamlet. In:___. Obras escolhidas. Trad. Beatriz Viégas-Faria e Millôr
Fernandes. 3. ed. Porto Alegre: L&PM, 2012, p. 556).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Morrer – dormir –
dormir! Talvez sonhar."
(SHAKESPEARE, William. Hamlet. In:___. Obras escolhidas. Trad.
Beatriz Viégas-Faria e Millôr Fernandes. 3. ed. Porto Alegre: L&PM, 2012,
p. 560).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Qualquer que seja
a capacidade geradora de fusão que o sexo possa ter, ela vem de sua
"camaradagem" com o amor."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
63).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Para cada ganho
há uma perda. Para cada realização, um preço."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
66).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Ele ficou ali
sentado fazendo hora, embrulhando o tempo. Ele, que sempre gostava de gente,
agora queria ficar sozinho. Não pensava em nada de especial, deixava o
pensamento vadiar."
(DOURADO, Autran. Ópera dos mortos. 8. ed. São Paulo: Difel,
1980, p. 153).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Não se deixe
apanhar. Evite abraços muito apertados. Lembre-se de que, quanto mais profundas
e densas suas ligações, compromissos e engajamentos, maiores os riscos. Não
confunda a rede – um turbilhão de caminhos sobre os quais se pode deslizar –
com uma malha, essa coisa traiçoeira que, vista de dentro, parece uma
gaiola."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
78).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"O advento da
proximidade virtual torna as conexões humanas simultaneamente mais frequentes e
mais banais, mais intensas e mais breves. As conexões tendem a ser
demasiadamente breves e banais para poderem condensar-se em laços. [...] A distância não é obstáculo para se entrar
em contado – mas entrar em contato não é obstáculo para se permanecer à parte."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
82).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Nós entramos em
nossas casas separadamente e fechamos a porta, e então entramos em nossos
quartos separados e fechamos a porta. A casa torna-se um centro de lazer
multiuso em que os membros da família podem viver, por assim dizer,
separadamente lado a lado."
(LEE, David; SCHLUTER, Michael. In:
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre
a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Zahar, 2004, p. 84).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"A solidariedade
humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
96).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Outros devem nos
amar primeiro para que comecemos a amar a nós mesmos."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
100).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Continuo a pensar
que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão
escrevo."
(ABREU, Caio Fernando. Pequenas epifanias. 2. ed. Rio de
Janeiro: Edigraf Ltda., 2012, p. 19).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"O eu permanece,
assim, totalmente do lado receptor. Sofre
as ações dos outros em vez de ser um ator por direito próprio."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
117).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Somos todos imortais.
Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Por que nunca
consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no
trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. [...]
Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem
nenhuma preparação, ela acontece de repente."
(ABREU, Caio Fernando.
Em memória de Lilian. In:___. Pequenas
epifanias. 2. ed. Rio de Janeiro: Edigraf Ltda., 2012, p. 25).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"[...] pois o amor
também é uma espécie de morte."
(ABREU, Caio Fernando.
Em memória de Lilian. In:___. Pequenas
epifanias. 2. ed. Rio de Janeiro: Edigraf Ltda., 2012, p. 25).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"[...] as cidade se tornam depósitos de lixo para
problemas gerados globalmente. Os moradores das cidades e seus
representantes eleitos tendem a ser confrontados com uma tarefa que nem por
exagero de imaginação seriam capazes de cumprir: a de encontrar soluções locais
para contradições globais."
(BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.
124).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Os animais
brincam tal como os homens. Bastará que observemos os cachorrinhos para
constatar que, em suas alegres evoluções, encontram-se presentes todos os
elementos essenciais do jogo humano. Convidam uns aos outros para brincar
mediante um certo ritual de atitudes e gestos. Respeitam a regra que os proíbem
morderem, ou pelo menos com violência, a orelha do próximo. Fingem ficar
zangados e, o que é mais importante, eles, em tudo isto, experimentam
evidentemente imenso prazer e divertimento."
(HUIZINGA, J. Homo Ludens: o jogo como elemento da
cultura. Trad. João Paulo Monteiro. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996, p. 3).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Sonhei que você
sonhava comigo. Mais tarde, talvez eu até ficasse confuso, sem saber ao certo
se fui eu mesmo quem sonhou que você sonhava comigo, ou ao contrário, foi quem
sabe você quem sonhou que eu sonhava com você."
(ABREU, Caio Fernando.
Por trás da vidraça. In:___. Pequenas
epifanias. 2. ed. Rio de Janeiro: Edigraf Ltda., 2012, p. 101).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Diz a mãe: a vida
faz-se como uma corda. É preciso trançá-la até não distinguirmos os fios dos
dedos."
(COUTO, Mia. Mulheres de cinzas: as areias do
imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 13).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Chamo-me
Imani. Este nome que me deram não é um nome. Na minha língua materna "Imani" quer dizer "quem é?". Bate-se a uma porta e, do
outro lado, alguém indaga:
–
Imani?
(COUTO, Mia. Mulheres de cinzas: as areias do
imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 15).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Porque não nasci para ser pessoa. Sou uma
raça, sou uma tribo, sou um sexo, sou tudo o que me impede de ser eu
mesma."
(COUTO, Mia. Mulheres
de cinzas: as areias do imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2015,
p. 17).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"São assim os
homens, explicou: têm medo das mulheres quando elas falam e mais ainda quando
ficam caladas."
(COUTO, Mia. Mulheres de cinzas: as areias do
imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 28).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Estou aqui no meu canto mas estou vendo tudo.
Nesta terra só quem não tem razão é pobre."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009, p. 38).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"Conheci seu pai,
seu Manuel Ferreira, era homem de palavra: dizia a todo mundo que não pagava a
ninguém e nunca pagou conta mesmo."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 82).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"– Comadre, isto é
conversa para homem. Negro e mulher não têm que se meter."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 84).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
–
O que é um voto, meu compadre?
–
Um voto é uma opinião. É uma ordem que o senhor dá aos que estão de cima. O
senhor está na sua tenda e está mandando num deputado, num governador.
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 85).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"A gente aprende
muita coisa, mestre, mas só enxada é que dá feijão e farinha."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 101).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"– Solta o negro,
deixa ele que eu lhe tiro a catinga de uma vez. Comadre, negro só mesmo no
chicote. Um homem branco como eu não se rebaixa a trocar desaforo com uma
desgraça desta."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 113).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
"E ali, em frente
do marido, que ela temia como a um duro senhor, sentiu-se mais forte, mais dona
de sua vida. Zeca abriu os olhos, olhou para ela como se quisesse esmagá-la,
com uma raiva de demônio. Deu um grito, e correu para a cozinha. Vira na cara
do marido a cara do diabo."
(REGO, José Lins do. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2009, p. 124).
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"A ação é a
atividade que corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que a
Terra e o mundo são habitados não pelo Homem, mas por homens e mulheres
portadores de uma singularidade única – iguais enquanto humanos, mas
radicalmente distintos e irrepetíveis, de modo que a pluralidade humana, mais
do que a infinita diversidade de todos os entes, é a "paradoxal
pluralidade de seres únicos"."
(CORREIA, Adriano.
Apresentação à nova edição brasileira. In: ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. 11. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2014, p. 29-30).
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