Cansada de desacordos, Srª. Nadica decide esquivar-se de si mesma e enfrentar a vida pelo avesso.
Ao primeiro impacto, agora com os olhares abertos, não sabia ao certo o que via. Tudo lhe parecia opaco, longínquo... Naturalmente foi se sentido oblíquoitada, borrada por aqueles excessos de iluminação. Os olhos pareciam descrer naquelas exterioridades.
No segundo momento – acostumando-se –, já conseguia aceitar que aquelas mãos eram suas. Resolveu então apalpar-se e, sim, teve a impressão de ir dando à luz a si mesma.
O dia já ia pedindo pernoite e suas pálpebras, silenciosas, caindo pelas beiradas do mundo. O sono vinha chegando devagarzinho, devagarzinhando e desiluminando a Terra por metade. Acordada para fora, Dona Nadica só adoecia. Aos poucos, abriam-se outros olhos, foi se acalmando como se esperasse os devidos co-lírios – medicação necessária para se ver melhor nas flores...
Os horizontes foram crescendo e outras cores faceirando às distâncias. Mas tudo aquilo não mais importava. Nadica nunca mais teve coragem de contemplar nenhum dia. Ficou ali, acendendo-se sozinha...
Dona Nadica morreu assim: muito antes de ter nascido outro daqueles sóis lá de fora. E é tudo o que se sabe dessa mulher, Dona Nadica de Nada.