Em sala de aula a vida parece multiplica-se, pois – do ponto de vista do professor – os olhares são muitos e as perspectivas variadas no desenho de cada rosto em particular. Assim, partindo do princípio de que cada indivíduo tem por detrás dos olhos um mundo inteiro de complexidade e que a janela para esses universos escapam involuntariamente na expressão de cada um desses semblantes, concluímos que nossas verdades só se validarão se o foco entre esses universos (dos alunos) somados aos nossos (dos professores) estiverem afinados e comprometidos em um mesmo objetivo, esse nem sempre tão simples de se cumprir: o equilíbrio entre as individualidades como parte de um mesmo grupo.
Contudo, os universos às vezes não conspiram a um mesmo fim, porque, como disse acima, são complexos e, ainda, a cada dia, mutáveis em suas organizações temperadas ou apimentadas entre si. O dosador/professor é quem deve (mesmo em um mau dia, pois ele também é humano) tentar reorganizar-se para tais ânimos, visto ser o responsável por essa gama de espíritos que muitas vezes se perdem a vagar por aí. Sendo assim, seria interessante se todos se encontrassem no todo e não se perdessem ao tornarem-se todos. O que nem sempre acontece...
Enfim, dentro da fala do amigo e professor Cassionei (jornal Gazeta do Sul, coluna opinião do dia 29/09/2011, p. 6), algumas aulas chatas são de fato essenciais, tendo em vista que não preparamos meninos e meninas para serem figuras maniqueístas e/ou estereotipadas do que se entende por legal (na ingênua e fantasiosa cópia ociosa de personagens que desfilam pela mídia), mas para um mundo real, igualmente, chato e que a cada dia exige mais e mais de cada um de nós, tornando-se assim ainda mais chato e difícil de entender e entender-se. Ou seja, o objetivo é sempre tentar formar futuros homens e mulheres com capacidade crítica suficiente para sentir os mundos com mais potência e avaliá-los segundo suas medições de interesses, necessidades sociais e existenciais na convivência equilibrada com o “outro”.
Mas o que não entendo é como uma profissão que tenta fazer a leitura das pessoas em seus universos, formar homens para o mundo e ainda mobilizar-se a uma constante (re)fabricação de si para gerir ainda mais outros, tem se tornado dia após dia tão desmerecida e desrespeitada pelo olhar inescrupuloso de alguns "filhos da escola".
Etimologicamente, skhole, significou lazer, uma espécie de lugar para o ócio, pois, na época, precisava-se produzir o palpável e essa busca pelo conhecimento, naturalmente, era visto como um ato fora da materialidade.
Confesso que até entendo os homens da antiguidade com seus fatos e atos, mas não consigo compreender meus próprios contemporâneos com seu descaso...
** Ao amigo Cassionei!!!
Opa, obrigado pela dedicatória e pela citação. Abraço.
ResponderExcluirDilso,
ResponderExcluirmeu amigo.
Creio que uma pergunta frequente que alguns professores devem fazer ao ver muitos dos descasos de políticos e governantes ao magistério é: "Por que foi que te ensinei?". Isso, direcionado a eles.
Outra coisa que fiquei pensando, como nunca fui professora, e apenas dei um curso de cartaz certa vez e a Oficina Poética para a gurizada de 4 anos, é que..., como deve ser complicado buscar uma certa unidade de compreensão em mundos tão diferentes, onde cada aluno é um, com seu mundo, suas facilidades e dificuldades pessoais.
Ótimo texto!
Grande abraço para ti e a família.
Amigo, a vida do professor e o universo de pessoas de várias classes sociais e tipos de educação é realmente uma prova muito dura que o professir tem e que, assim como o Mané Garrincha fazia, driblar e partir para o gol!
ResponderExcluirMas infelismente muitos professores não estão nem aí e só se formaram nessa profissão porque era a mais ascessível... Fazer o que né?
Dilso querido, somos desvalorizados amigo, e eu tbm num consigo entender. Afinal professor tem papel muito importante na construção do ser humano. E vai entender todas as cabeças!
ResponderExcluirbjokitas mil!
É realmente uma lástima para nosso país que a profissão de professor seja tão maltratada e desmoralizada, Dilso.
ResponderExcluirAcho que isso acontece porque, no dia em que tivermos uma escola pública de qualidade exemplar em todo o país, a corja de políticos que está no poder e nada faz de bom irá cair por terra em definitivo.
A educação é o caminho para o futuro, indubitavelmente.
Parabéns pelo belo texto.
Abraço.
Dilso, seu texto é sábio e lúcido sobre a realidade do professor brasileiro.
ResponderExcluirAlém de trabalhar com realidades diversas em cada aluno, o mestre tem de ser desde o psicólogo a pai para suprir as necessidades dos discentes sem aporte por parte dos pais nem dos governantes.
Sabemos que um boa educação não se faz só com o esforço do docente, mas também do aluno, família, autoridades e sociedade.
Não é à toa que nossa educação nos envergonha nas avaliações nacionais e internacionais.
Como sou otimista, tenho esperança de que um dia tudo irá mudar para melhor.
Somente registe à profissão quem realmente gosta do faz (e não do que ganha).
Quando nos graduamos, meu professor nos disse para não nos preocuparmos com essa passagem bíblica: "é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus" (Mt 19:22-24), pois como professor, nunca iríamos ficar ricos.
Mas essa frase me deixa um pouco animado:
"Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro".
D. Pedro II
Abraços, meu amigo e parabéns pelo lucidez!
Abraços!
querido amigo,
ResponderExcluira escola é o grande pilar de uma sociedade que se deseja estruturada, organizada, justa e civicamente participada. desde a antiguidade que assim é, razão por que estranho que, a reboque de uma qualquer crise (independentemente da sua dimensão e expressão) ou de caprichos governativos, tendencialmente o nosso tecido governativo altere as prioridades, esvaziando de sentido a escola, desvalorizando os seus atores e instigando à desconfiança de pais e alunos. ainda assim, de uma coisa tenho a certeza. o tempo, apesar de cruel, acaba invariavelmente por dar razão às grandes causas da humanidade.
um abraço!
Dilso Amigão,
ResponderExcluirAntes de mais nada,fiquei sabendo pelo Milton do seu novo ofício. Parabéns e bem vindo! Dentro das escolas temos muitos desafios, mas também coisas maravilhosas como o olhar de encantamento dos estudantes que aprendem algo novo.
Quanto ao seu texto "MEU ADEUS AOS HOMENS GIGANTESCOS...** " que li a pouco, posso dizer-te que se senti algo semelhante quando a algum tempo tive que sair de um emprego para assumir o atual e é assim mesmo: infelizmente temos que romper com o passado para assumirmos algo novo e este rompimento nem sempre é fácil.
Felicidades!!!
Oi, Dilso, voltei para saborear mais seu texto e lhe agradecer por mais um comentário sábio, inteligente e gentil no meu link.
ResponderExcluirTambém sou fascinado por mitologia, sobretudo a grega, pois está presente em nosso dia-a-dia.
Obrigado por tudo!
Um forte abraço!
"Contudo, os universos às vezes não conspiram a um mesmo fim, porque, como disse acima, são complexos e, ainda, a cada dia, mutáveis em suas organizações temperadas ou apimentadas entre si."
ResponderExcluirSó aí vc já simplificou e explicou o ser humano em toda sua plenitude.E só se chega a essa verdade tendo um alto grau de instrução e percepção como vc,ou com a maturidade e o aprendizado da vida,Dilso.
Boa semana,bjka
Um texto repleto de esperanças, mas não só, algumas possíveis, a exemplo: uma sala de aula com um tipo de professor específico - este no qual tu mais Cassionei se incluem. Pois da multiplicação da vida sabem os atentos, na disposição deste equilíbrio entre parte e grupo.
ResponderExcluirOs tempos e a relação com o saber são outros, mas ainda existem sujeitos como vocês a darem alento para aqueles que ainda vêem na escola - e no processo de educação como um todo - uma instituição de ensino séria, basta nunca enfraquecer na luta.
um abraço aos dois e força, muuuuuita força! :)
Acredito que ser professôr é mais que um DOM. è missão.
ResponderExcluirComo você bem disse na sua bela crônica, lidar com seres humanos vindos de universos tão diferentes, com experiencias unicas e conseguir a unicidade em sala de aula não deve ser nada fácil.
Ainda mais nesta sociedade em que vivemos, onde os pais delegam a escola a educação dos seus filhos.
Educar cabe aos pais.
A escola cabe o complemento disso.
Hoje familias tão desestruturadas, crianças e adolescentes muitas vezes sem ter a noção de respeito .. dificil.
E o professor tendo que ter a sabedoria de lidar com tudo isso...
Meu amigo.. é UMA MISSÃO!!
Creio que seu lugar já está garantido lá no CÈU!
Bj
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Olá professor Dilso!
ResponderExcluirAssim como você, não entendo qual a RAZÃO da falta de reconhecimento do trabalho do professor.Talvez o motivo seja a FALTA DA RAZÃO nas pessoas que não valorizam essa profissão...
Tenho a visão de aluna,sobre o empenho dos professores em sala de aula ,na tarefa de transmitir seus conhecimentos para os alunos tão heterogêneos entre si.
Por ser filha de professores sei também como é a vida desse profissional fora da sala de aula, além dos planejamentos, correçoes de provas e trabalhos, ha aquela preocupação humana com os alunos,porque geralmente problemas na família refletem-se no rendimento escolar da criança/ jovem. Posso afirmar convicta, que essa profissão deve ser vista com olhares de respeito pela sociedade, e é claro que o professor deve ser melhor remunerado pelo Estado.
Li vários textos do seu blog. Você brinca com as palavras, de forma que elas fiquem tão bem organizadas para expressar suas ideias e sentimentos. Tento brincar com as palavras , mas elas ainda relutam um pouco em aceitar meu convite e aparecer na alva folha de papel.
Abraço, Lucia Carolina