Quando olho para essa gente
toda, difícil é não pensar nesses todos de cada um que se construiu e ajudou
também a refazer esta multidão aqui de dentro. Porque, sim, somos muitos. Não
digo muitos no sentido literal. Refiro-me às vozes que nos povoam por debaixo
das peles. Ah, essas peles! Eis as verdadeiras roupas que importam e que só não
são imunes para aquela velha e contagiosa doença: a doença de sonhar!
Contudo – não querendo
desgastar mais os ouvidos engravidados de olhos aí da plateia –, deixo aqui a
última de minhas lições: “Não sejam de papel!” Sigam apenas os papiros que lhes
recobrem a vida. Escrevam-se pelo lado interno das peles e as tornem poesias,
poesias diplomadas em reconhecer cada cantinho de suas interioridades. Para quê
isso? Ora, pra quê! Para que tenhamos a chance de sabermos o quê nos tornamos.
E com isso estarmos alfabetizados para a mais difícil e poderosa de todas as
leituras: a de nós mesmos.
Enfim, a leitura desses habitantes
particulares de cada um de vocês, de cada um de nós e de todos esses moradores
que fomos, somos e vamos tendo que ser, precisa ser feita. Do contrário não há
verdade algum em estar aqui. Pois não devemos nos tornar estrangeiros de nós
mesmos. Precisamos ser indígenas. Pois os únicos elementos que vêm
“estrangeirados” são as vozes, os cheiros, as músicas e as lembranças. E se não
entenderem isso. Lamento. Mas terão apenas um papel estranho nas mãos. O mesmo
tipo de papel que se fez este discurso. Que se fazem cadernos. Diplomas. E papeis
higiênicos. E para lembramos desse compromisso, eternizei seus olhares em
alguns poucos versos que deixo escapar por aqui.
Vejamos:
Não vê que entoas
Que em tudo mestiças
Vozeia nas cores
Canções tão bonitas?
Só sei de silêncios
Não sei bonitar
Se ama estas vozes
Não sou eu quem faz.
Não falo do ouvido
Te ouço nos olhos
Canção que se afina
Puxando as beirinhas
Dos lábios cantores.
OBRIGADO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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