Uma boneca antiga e um
fabricante de brinquedos. Ele era apaixonado. Sonhava em vê-la viva, queria
ser retribuído no amor. Dia desses uma fada passou por ali. Sentiu pena do
velho e enquanto ele cantava, ouviu a voz do manequim o acompanhar. Ah, aquele
lugar esquecido logo se iluminou. Mas ela tinha uma queixa. Não era mais
lembrada. Ninguém a procurou. Estava triste por viver. O sentimento do senhor
parecia não suprir tamanho sofrimento. O cenho fechou-se. Ambos afastaram-se. Foi
cada um para seu cantinho da oficina.
“Sou apenas uma boneca.
Já fui amada por alguém que me deixou.” “Eu estou aqui, bela! Ame a mim, sonhe,
mas olhe pra mim.” “Meus olhos parados só viam o tempo passando. Minhas pernas eram
a menina que moviam. Ela me abandonou.” “Fique comigo. O tempo me fez te amar.
Morri. Voltei. Estou aqui, boneca.” “Quero voltar.” “Voltar a ser imóvel?” “Sim,
ser humana me aflige. Assim que me transformei, o mundo me cobrou tudo o que me
deixaram.” “E eu, querida?” “Tu sempre estarás comigo, cuide de mim.” “Mas vou
morrer, não posso!” “Daí estaremos juntos, dois mortos.”
E a fada, assim que
eles se aproximaram para um beijo, transformou os dois em estátuas, dois amores
fotografados pela eternidade. E assim o amor pôde ser visto. Ninguém mais
sofreu, além da fadinha. Ela definhou assistindo para sempre aqueles amantes
que nunca mais encontrariam lábio nenhum. Quando aquele corpinho caiu sobre a
terra, uma rosa bem vermelha brotou no lugar. Rosa que carregava pétalas que
pareciam lábios estendidos a tentar beijar o céu.
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