Não sei bem os talentos
que carregam as mãos. Toda vez que penso nelas vejo clarinho este verso de
Augusto dos Anjos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja.” Difícil sair dessa
dicotomia, já que somos a soma de benes
e males relativos, abusados e, por
que não dizer, necessários.
Enfim, pediram-me para
escrever a respeito de um filme homônimo ao título desta croniquinha. E é óbvio
que ela recebeu o nome por conta disso – pouco criativo, eu sei. Desculpem-me!
Contudo, tratando-se de uma história bonita (assisti) e sendo (de minha parte),
também, franco, vejo rebarbas romantizadas bem no miolo de algumas cenas – se
comparadas à vida, ao tempo e à Escola real, lógico!
Resumo um pouco para
que fiquem a par do que digo: baseada na vida do Dr. Benjamin Carson, o filme
relata as agruras e lutas de um homem afro-americano para chegar ao tão sonhado
cargo: o de neurocirurgião. Carreira que se desenha já na infância, a partir do
momento em que sua mãe firma regras para com os seus (há coisas que só elas
podem e percebem). Dentro disso, como em
toda verdade hollywoodiana, é bem difícil não se inspirar e se emocionar, pois
no cinema, diferente da vida, as arestas são todas cortadas. A realidade é
imprecisa, o cinema positivo não. Se não cortassem algumas coisas, obviamente,
não suportaríamos, além de nossas cargas, carregar as “não-precisanças” de cada
detalhe dos personagens. Seria chato. Somos chatos.
Mas não se enganem, não
estou denegrindo a obra, pelo menos não enquanto obra (gosto dela). Apenas deixo
claro que o professor em sala de aula, carregando apenas um par de mãos,
precisa lidar com alguns pares de realidade. Pares que nem sempre podem ser
ímpares, uma vez que é difícil dar conta de problemas extraclasses (existem
coisas que nos fogem e não nos são permitidas). Lutar é importante, sabemos.
Ler, como o personagem do filme, mais ainda. O problema é que o mundo é feito
de chão e mãos, por isso não é tão simples assim, não é possível tirar partes
para ser projetada em uma grande tela bonita de cinema. Ele vem inteiro.
O caso do Doutor é
bacana, sem dúvidas, até muito triste, só que atemporal. Salvaríamos outros ‘Carsons’
se tivéssemos a chance? Claro que sim, entretanto daí não seríamos mais professores,
seríamos pais. E duvido que alguém se habilite ao cargo. Isso seria impossível.
Por isso a grande protagonista foi a mãe. E desse modo, só desse modo (repito)
seus professores puderam ajudá-lo a mudar o mundo. Pois é. Mãos de professores
só servem para abanar as brasas, não tento brasa, não há fogo e nem talento, só
mãos abertas para um afago e fechadas para si mesmas.
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