Minha filha perguntou-me se ler demais prejudicava a visão. Respondi
que sim, porque nunca mais o mundo é visto da mesma forma, ele deforma-se, estica,
abre-se e depois clareia. Tudo isso por conta de me ver sempre lendo com
o auxílio de óculos incômodos e feios. Não disse, mas sei que teve medo de no
futuro ter a prisão decretada por um par dessas lunetas. Pensando nisso, ao ver
a disposição com a qual se debruçava sobre determinada obra, logo pensei que deveria
pôr mais luz sobre as folhas para que não sofresse com os efeitos do tempo que eu
sofro, já que também, felizmente, anda gastando-o com livros. Contudo,
respeitando as limitações do corpo, achei por bem tomar a atitude de reajustar literalmente
o abajur. Claro, para não perder o conforto, o foco e a razão que a movia a
folhear tão deliciosas páginas. Coisas de pai!
Ultimamente ando observando uma maior vontade de
ler por parte de minha menina. Compreendi que antes, perguntando-me sobre o que
era melhor ou não, eu acabava inevitavelmente vendendo um gosto particular e
que, apesar de termos o mesmo sangue, naturalmente, como todos no mundo o são,
somos diferentes. Digo mais, temos idades e anseios distintos. Acordei para
isso após perceber que dormia para seus sonhos e perspectivas adolescentes.
Como o abajur, clareei também. Subestimei o poder das palavras ditas e
concebidas para seu gênero de gostos e inquietações, já que sem um início não
pode haver meio e muito menos fim. Comecei pelo fim, eis o meu erro.
Confesso que não gosto de livros muito
populares, penso que eles extrapolam e reduzem elementos que deveriam abarcar o
todo e, ao mesmo tempo, atingir a todos individualmente. Chamam isso de ontologia.
Penso que tudo o que é feito para agradar o maior número de pessoas, não pode
ser bom, uma vez que, como dito acima, ninguém é igual, não pensam igual e,
sendo assim, não poderia existir fórmula que pusesse na mesma dimensão tantas
diferenças. Então me pego aqui, vislumbrando a exclusão que fiz ao negar por
tanto tempo o que as palavras poderiam dar no passeio imagético em que apenas
uma única visão faminta poderia perceber e escolher por si só: a do simples
prazer despreocupado de uma leitura.
Dito isso, exponho a obra (“Crepúsculo”, de Stephenie
Meyer), ressaltando, inclusive – indiferentes às minhas vontades, verdades e
gostos –, meu prazer em ter visto mais de cem páginas sendo devoradas ao meu
lado em apenas um final de semana por minha garotinha de treze anos.
Do início vai-se ao meio e ao meio vai-se ao
fim. Assim, um dia ela entenderá os caminhos que lhe aguardam pelo mundo e
pelas prateleiras da “bibliotequinha” cheia de palavras e inquietações do
papai.
Amigo Dilso,
ResponderExcluirRealmente a leitura prejudica a visão vigente, mas permite abrir outras visões sobre o mundo e a vida.
Essas leituras populares, muitas vezes, não nos acrescentam muitas coisas, mas servem para os leitores neófitos adquirem o hábito da leitura. Depois, tenho certeza de que serão mais exigentes e seletivos.
Texto que nos proporciona prazer e sageza, amigo.
Abraços!
OI!
ResponderExcluirProfessor Dilso,
Meu tempo está escasso, e nessas voltas pela internet visitei seu blog que ha tempo não visitava. Deparei-me com seu belo texto, gostei muito dele.Lembrei de mim quando tinha 13 anos e devorei o mesmo livro que sua filha. Encontrei na sua resposta à pergunta dela algo que começei a perceber a medida que minhas leituras mudaram.
Um abraço!!
Nestas linhas pixeladas vislumbro meu futuro, pois terei também uma filha. E concordo com a Lucia, que corrobora contigo ao dizer que as leituras "pop" servem de primeiros passos às leituras mais elaboradas. Abraços, caro novo amigo!
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