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sábado, 28 de maio de 2011

QUANDO AS CRIATURAS DE EÇA DE QUEIROZ E DE MACHADO DE ASSIS SE ENCONTRARAM...**

A Madame de Juarre
  
Brasil, agosto.

Minha extraordinária madrinha.

  Eis que me encontro aqui neste outro continente. Parece-me que a tal ponto e distância, como em degredo, as imagens de uma terra familiar às vezes me tornam e atormentam os pensamentos: saudades dos gentílicos lisboetas.
  Ontem – como forma a restituir imagens deixadas em Portugal – resolvi tomar sol em uma praça próxima onde minha tão silenciosa existência não alterava nada. Esse, sem dúvida, seria o lugar ideal para que o mais culpado dos homens pudesse descansar de seus tormentos e repousar em bancos de certa maneira confortáveis. Decidi então me acomodar por alí mesmo, aqueles ares pareciam me fazer bem. O fato resume-se apenas em querer gozar daquele dia pensando estar novamente em minha terra.

  Doravante, deixando para trás saudades e queixumes, - veja o que me trouxe à realidade! - encontrei ao largo de um logradouro paralelo a tal praça, duas figuras extremamente interessantes: uma palestrando para poucas almas; a outra calada fielmente ao seu lado apenas deixando escapar olhares quase humanos: era um cão. Ao inserir-me em meio ao pequeno grupo de ouvintes, deleitei-me com a sabedoria da tal personagem que mais tarde apresentou-se a mim como Senhor Borba.
  Veja só, minha senhora, que a estranha filosofia de tal criatura me fez condoer-me à situação humanitária, pois sabes bem que não estou preso a nada e muito menos a valores eleitos ou distribuídos por alguém, contudo não me considero filantropo e menos ainda um misantropo, estou entre um e outro; um pecador talvez. Aliás, após o nosso último encontro (de Sr. Borba e eu) não me preocupei com o tempo, deveras o deixei discorrer à vontade. Dialogamos sobre tudo, inclusive a respeito de sua - dita por ele mesmo – “Filosofia Humanita”, disposta em parábola interessante. Um dia lhe conto pessoalmente sobre essa história que relata a luta pela sobrevivência e a situação em que se fez das batatas prêmio maior aos vencedores... Por hora é isso. Seu afilhado do coração,
                                                                                                                                                                                            Fradique Mendes.

** Esse texto tem como pretensão ser um apócrifo (uma carta que não está publicada entre as tantas que Fradique Mendes escreveu). Como Eça de Queiroz e Machado de Assis viveram na mesma época, porém um em Portugal e outro no Brasil, pensamos em aproximar, se não os criadores, pelo menos as criaturas: Fradique e Quincas.
Ofereço essa produção ao amigo e poeta português (que é de fato português/lusitano), JORGE PIMENTA. Com o desejo que tenha feito uma leitura proveitosa, deixo aqui meu abraço!

sábado, 7 de maio de 2011

NÃO PERDEMOS... TORNAMOS-NOS ALBATROZES!

  Hoje percebi que não há grilhões densos o bastante para conter o espírito de um povo sabedor de seus direitos e indignado por ter que usar a força para, minimamente, garanti-los. A intensidade dos desafios ultrapassados – falo da greve dos funcionários público-municipais santa-cruzenses – e das lutas diárias cujo objetivo foi o de (re) encontrar a dignidade, teve, momentaneamente, suas asas aparadas; contudo não há quem possa ou tenha o poder suficiente para amputá-las definitivamente: elas voltarão a crescer... Semelhante ao albatroz baudelaireano preso ao convés da nau de seus algozes (onde tinha de respeitar o limite de apenas andar e, por conta disso, ser atormentado com risos e deboches por ser desajeitado no chão), também não suportamos mais o assoalho desse navio imundo, já que conhecemos juntos o CÉU e a envergadura das asas que temos para ganhá-lo. Abramo-las imponentes, pois o azul celeste nos provoca a alçar voos ainda mais altos; celebramos por, agora, sabermos disso e deixemos de ser humilhados por esses piratas que nos saqueiam e roubam-nos as “penas”...
  Enfim, confesso ao mundo que chorei, mas de orgulho dos albatrozes que voaram alto e resistiram comigo... Obrigado!

** Dedico esse pequeno texto a todos os colegas que tiveram a coragem e a sabedoria de unirem forças contra a arrogância ditatorial de nossos administradores munícipes. Cito também, em especial, – e é justo que o faça! – alguns amigos de luta: Rodrigo, pelo equilíbrio que nos uniu em um ambiente tomado por emoções e razões variadas; ao Mauro, detentor de uma sensibilidade rara em perceber a energia contida nos ritmos inflamados dos discursos; ao Adriano, o mais sóbrio e um dos mais sábios entre nós; ao Rafael, estudante de História e colega de trabalho (primeiro por ter vaiado o Dep. “To me lixando...”, em momento oportuno; segundo por ter me presenteado com um raro volume de Marcel Proust – magnífico!); e por último, mas não menos importante, ao nosso líder sindical, Almada, por ser o grande mestre dos discursos e nosso mais importante membro da causa.