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sábado, 9 de abril de 2016

OS PELADOS SERÃO CASTIGADOS...

Há dias em que o mundo parece inspirado pra nós. Momentinhos que nos dão até aquela vontade de existir mais um pouco em determinados lugares. Sim, acho bem difícil a existência para fora. Ah! já dá um trabalho danado pensar-se a si mesmo. Mais ainda quando temos que balancear as nossas (existências) com as dos outros. Bom, talvez seja por essa razão que eu não goste tanto de sair de casa. O mundo parece complicado demais para fora de meu portão. Prefiro os livros, a escrita. Eles me jogam para aqueles momentinhos dos quais falei. Neles o trabalho se reduz em pensar sobre o que sou e quase nunca em como preciso ser para ser aceito por quem, geralmente, mal sabe quem é – eu disse geralmente.
Em minha percepção escrevinhada, uma só pessoa parece bacana, infinitamente interessante, inclusive. Em grupo (não estou falando de escola, por lá sou um vivente feliz) a luz enfraquece, um lume vai escurecendo pelo outro até que tudo se torne escuridão, ‘blackout’. Nesses escuros não nos vestimos mais por conta do frio, mas para deixar de sermos nós. Afinal de contas, mesmo usando as roupas que nos deixam invisíveis, precisamos socializar com outros vestuários escondedores de gente.
Contudo, como eu estava dizendo. Há momentos que nos são bonitos e bem vestidinhos por estarem nus. Exatamente por isso, às vezes, meus dedos me fazem sentir falta das pequenas coisas. Das ‘bolitas’ perdidas no quintal. Dos segredos confiados aos meus amigos inventados. Da infância gordinha de criança... Saudosismo? Talvez. E quem nunca parou diante do horizonte e sentiu carência de alguns de seus ‘ontens’? Se já, sabe bem que nesses momentos nos esquecemos, inclusive, do relógio, é uma nudez total. Cria-se um tempo ligeiro ali. Um que se estica e logo morre pequeno, tal como um cuspe que seca muito antes de cair ao chão. Ai! quando esses instantes se congelam no ar, abrem-se brechas que nos espiam: suspiros de uma saudade morrendo de vontade de entrar, de se partir em duas – numa que vai; noutra que fica!
Por fim as peles... Sim elas mesmas, as peles. Elas são os únicos tecidos que importam. Por baixo delas estamos todos pelados e sozinhos, mesmo achando que não. Por isso preciso ficar tricotando um monte de textos cheios de cuspes parados no ar. Teço muito para que os espíritos (esses ninguéns) não passem tanto frio nas vezes em que resolvem partir – acho justo que estejam bem agasalhados antes de pegarem a estrada. Verdade, minha escrita serve mesmo é para cobri-los bem. Os fios? Todos eles são puxados do novelo da preocupação, ora! Sabemos que o mundo não tolera nenhum tipo de nudez, elas são castigadas por serem visíveis demais.