Há dias em que o mundo parece inspirado pra nós.
Momentinhos que nos dão até aquela vontade de existir mais um pouco em
determinados lugares. Sim, acho bem difícil a existência para fora. Ah! já dá
um trabalho danado pensar-se a si mesmo. Mais ainda quando temos que balancear as
nossas (existências) com as dos outros. Bom, talvez seja por essa razão que eu
não goste tanto de sair de casa. O mundo parece complicado demais para fora de
meu portão. Prefiro os livros, a escrita. Eles me jogam para aqueles momentinhos
dos quais falei. Neles o trabalho se reduz em pensar sobre o que sou e quase nunca
em como preciso ser para ser aceito por quem, geralmente, mal sabe quem é – eu
disse geralmente.
Em minha percepção escrevinhada, uma só pessoa
parece bacana, infinitamente interessante, inclusive. Em grupo (não estou
falando de escola, por lá sou um vivente feliz) a luz enfraquece, um lume vai escurecendo
pelo outro até que tudo se torne escuridão, ‘blackout’. Nesses escuros não nos
vestimos mais por conta do frio, mas para deixar de sermos nós. Afinal de
contas, mesmo usando as roupas que nos deixam invisíveis, precisamos socializar
com outros vestuários escondedores de gente.
Contudo, como eu estava dizendo. Há momentos que nos
são bonitos e bem vestidinhos por estarem nus. Exatamente por isso, às vezes,
meus dedos me fazem sentir falta das pequenas coisas. Das ‘bolitas’ perdidas no
quintal. Dos segredos confiados aos meus amigos inventados. Da infância
gordinha de criança... Saudosismo? Talvez. E quem nunca parou diante do
horizonte e sentiu carência de alguns de seus ‘ontens’? Se já, sabe bem que
nesses momentos nos esquecemos, inclusive, do relógio, é uma nudez total. Cria-se
um tempo ligeiro ali. Um que se estica e logo morre pequeno, tal como um cuspe
que seca muito antes de cair ao chão. Ai! quando esses instantes se congelam no
ar, abrem-se brechas que nos espiam: suspiros de uma saudade morrendo de
vontade de entrar, de se partir em duas – numa que vai; noutra que fica!
Por fim as peles... Sim elas mesmas, as peles. Elas são
os únicos tecidos que importam. Por baixo delas estamos todos pelados e sozinhos,
mesmo achando que não. Por isso preciso ficar tricotando um monte de textos
cheios de cuspes parados no ar. Teço muito para que os espíritos (esses
ninguéns) não passem tanto frio nas vezes em que resolvem partir – acho justo
que estejam bem agasalhados antes de pegarem a estrada. Verdade, minha escrita
serve mesmo é para cobri-los bem. Os fios? Todos eles são puxados do novelo da
preocupação, ora! Sabemos que o mundo não tolera nenhum tipo de nudez, elas são
castigadas por serem visíveis demais.