Toda
vez que penso estar livre. Lá vem ele. Não sei o que fazer para evitá-lo. Ele
habita este lugar e a pouco atestou sua residência fixa. Importuno é o que é.
Mora, mas não respeita a rotina dos demais moradores – geralmente vai dormir
tarde. Contudo, quando cai no sono, ronca alto. O resultado disso? Previsível:
no outro dia, todos com olheiras. Como foi aparecer-me um inquilino desses. No
início, na apresentação de si, parecia educado, menos hostil. Seu sorriso não
representava de todo mal – agora lembro. Não, não, não era confiável coisa
nenhuma! Tinha uma simpatia perversa no sorriso, tal qual como um demônio sádico
seria se fosse posto no exato centro onde pudesse transitar livremente entre o
céu e o inferno. Sim, o ponto fez-se aqui nesta casa: o inferno do faceiro
diabinho que passou a assombrar este antigo paraíso. Enquanto isso os outros
espíritos seguem a ranger os dentes.
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sexta-feira, 10 de agosto de 2012
terça-feira, 7 de agosto de 2012
UM LUGAR CHAMADO FACEBOOK
Através
de setas e dedilhar de teclados, vamos fazendo do mundo um lugar onde o
trânsito de universos acaba por encontrar e refazer-se em um ambiente novo,
único e artificial. O animado local de todos e de ninguém, acaba por garantir
espaços e tempos privilegiados em nosso dia-a-dia. E isso não há como negar. Assim,
a vida se tornou uma festa dentro de casa, de quartos, de monitores. Circulamos
à toa, parados, mas por lá. Perdemo-nos e achamo-nos um pouco mais e um pouco menos. Compartilhamos.
Cutucamos. Desabafamos. Enfim, desafinamos. No início achamos que o mundo se
importa conosco. Durante, acabamos entendendo que nem nós mesmos pensamos isso
do outro do outro que pinta um outro que está do outro lado escondendo um outro
outro que no final das contas pode ser ainda outro.
Há
pouco tempo nem imaginávamos que um dia estaríamos tão próximos. Cruzávamos na
rua. Nem um cumprimento. Nem um mísero bom dia. Nada. Hoje entramos diretamente
no âmago das casas só para dizer: “Olá! Como vai... Estou triste... Estou
alegre... O sol está lindo... Está chovendo...”. É! São tempos sem campainha, porém, vamos
lembrando que as janelas estão abertas e tem sempre um cabeção espiando.
Nesse
lugar, inclusive, novas mentalidades vêm se formando. Novos grupos. Novas
verdades. Um mundo onde a expressão não está mais na primitiva equação entre
lábios e olhos, mas entre links, emoticons
e frases geralmente curtas. Poucos leem textos maiores por lá. Este último
elemento, infelizmente, não é mera coincidência com as particularidades reais que já conhecemos. Contudo (como um desses navegadores e,
volta e meia, protagonista também dos mesmos destemperos que cito), sei que se
a convivência já é difícil. Penso também que é um verdadeiro milagre que
pessoas (que são essencialmente únicas) consigam conviver por tanto tempo em um
mesmo local, uma vez que tomamos nossa casa como um castelo e, como reis, queremos
sempre a última palavra. O problema é que
há uma só coroa e muitas cabeças “reais”. Explico: Quando apareço pela tela do
outro, sou como um súdito, ao mesmo tempo em que sou o imperador, pois a fala
saiu de meus domínios. Complicado.
Acho
que no futuro – quem sabe – o garimpo cultural humano, feito geralmente por
antropólogos, acontecerá de dentro do facebook. Um ambiente perfeito para se
estudar a complexidade da convivência e de uma vida social que não tem nada de
exatidão. Ainda bem!
E
como já escreveu uma vez Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é
preciso.”.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
PAI, LER DEMAIS PREJUDICA A VISÃO?
Minha filha perguntou-me se ler demais prejudicava a visão. Respondi
que sim, porque nunca mais o mundo é visto da mesma forma, ele deforma-se, estica,
abre-se e depois clareia. Tudo isso por conta de me ver sempre lendo com
o auxílio de óculos incômodos e feios. Não disse, mas sei que teve medo de no
futuro ter a prisão decretada por um par dessas lunetas. Pensando nisso, ao ver
a disposição com a qual se debruçava sobre determinada obra, logo pensei que deveria
pôr mais luz sobre as folhas para que não sofresse com os efeitos do tempo que eu
sofro, já que também, felizmente, anda gastando-o com livros. Contudo,
respeitando as limitações do corpo, achei por bem tomar a atitude de reajustar literalmente
o abajur. Claro, para não perder o conforto, o foco e a razão que a movia a
folhear tão deliciosas páginas. Coisas de pai!
Ultimamente ando observando uma maior vontade de
ler por parte de minha menina. Compreendi que antes, perguntando-me sobre o que
era melhor ou não, eu acabava inevitavelmente vendendo um gosto particular e
que, apesar de termos o mesmo sangue, naturalmente, como todos no mundo o são,
somos diferentes. Digo mais, temos idades e anseios distintos. Acordei para
isso após perceber que dormia para seus sonhos e perspectivas adolescentes.
Como o abajur, clareei também. Subestimei o poder das palavras ditas e
concebidas para seu gênero de gostos e inquietações, já que sem um início não
pode haver meio e muito menos fim. Comecei pelo fim, eis o meu erro.
Confesso que não gosto de livros muito
populares, penso que eles extrapolam e reduzem elementos que deveriam abarcar o
todo e, ao mesmo tempo, atingir a todos individualmente. Chamam isso de ontologia.
Penso que tudo o que é feito para agradar o maior número de pessoas, não pode
ser bom, uma vez que, como dito acima, ninguém é igual, não pensam igual e,
sendo assim, não poderia existir fórmula que pusesse na mesma dimensão tantas
diferenças. Então me pego aqui, vislumbrando a exclusão que fiz ao negar por
tanto tempo o que as palavras poderiam dar no passeio imagético em que apenas
uma única visão faminta poderia perceber e escolher por si só: a do simples
prazer despreocupado de uma leitura.
Dito isso, exponho a obra (“Crepúsculo”, de Stephenie
Meyer), ressaltando, inclusive – indiferentes às minhas vontades, verdades e
gostos –, meu prazer em ter visto mais de cem páginas sendo devoradas ao meu
lado em apenas um final de semana por minha garotinha de treze anos.
Do início vai-se ao meio e ao meio vai-se ao
fim. Assim, um dia ela entenderá os caminhos que lhe aguardam pelo mundo e
pelas prateleiras da “bibliotequinha” cheia de palavras e inquietações do
papai.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
NA LITERATURA TEM QUE HAVER MOSCAS
Sabem
aquelas vozearias que vão timidamente latejando em nossos ouvidos? Estas são as
que produzem os melhores e os piores sons já sentidos, pois, ao invés de nos confortar
com uma melodia agradável e de poucas notas, acabam por nos tirar quase toda a
tranquilidade através de zumbidos quase inaudíveis, mas que ficam na volta só
para incomodar, enlouquecer e estorvar. Espantá-las? Isso é inútil. Elas são
ligeiras demais e de tão rápidas, mesmo que se resolva fechar o livro
rapidamente para esmagá-las, voam para fora e mais tarde retornam todas
refesteladas para continuar a nos provocar com seus zum, zum, zuns. Delas, não há como escapar, uma vez que os olhos
já foram conduzidos a acompanhar todo movimento dessas moscas malvadas ao
sentarem-se sobre as palavras e fecundá-las, acabando, enfim, por proliferar o
que deveria permanecer puro e parado assim que fechássemos a obra. Não há o que
fazer. Basta apenas assistir ao parto dessas palavras grávidas
de mosquinhas incômodas que vão aos poucos saindo, enegrecendo, criando asinhas
e voando para longe, bem longe... Até que, quando nos pensamos livres, elas
retornam ainda mais gulosas por fecundar as outras inocentes que se encontravam
relaxadas e quietinhas, apenas querendo manter o sossego e a virgindade.
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