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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NA LITERATURA TEM QUE HAVER MOSCAS


Sabem aquelas vozearias que vão timidamente latejando em nossos ouvidos? Estas são as que produzem os melhores e os piores sons já sentidos, pois, ao invés de nos confortar com uma melodia agradável e de poucas notas, acabam por nos tirar quase toda a tranquilidade através de zumbidos quase inaudíveis, mas que ficam na volta só para incomodar, enlouquecer e estorvar. Espantá-las? Isso é inútil. Elas são ligeiras demais e de tão rápidas, mesmo que se resolva fechar o livro rapidamente para esmagá-las, voam para fora e mais tarde retornam todas refesteladas para continuar a nos provocar com seus zum, zum, zuns.  Delas, não há como escapar, uma vez que os olhos já foram conduzidos a acompanhar todo movimento dessas moscas malvadas ao sentarem-se sobre as palavras e fecundá-las, acabando, enfim, por proliferar o que deveria permanecer puro e parado assim que fechássemos a obra. Não há o que fazer. Basta apenas assistir ao parto dessas palavras grávidas de mosquinhas incômodas que vão aos poucos saindo, enegrecendo, criando asinhas e voando para longe, bem longe... Até que, quando nos pensamos livres, elas retornam ainda mais gulosas por fecundar as outras inocentes que se encontravam relaxadas e quietinhas, apenas querendo  manter o sossego e a virgindade.    

Um comentário:

  1. Amigo Dilso,
    Para exterminar as moscas, somente um batráquio, porque devora centenas de uma só vez.
    Como diz Raul Seixas: "Se matar uma, vem outra em seu lugar".
    Apesar de todos quererem, quando têm um alvo, acertar na "mosca", elas sobrevivem e se multiplicam.
    O que mais me tristeza é saber que seremos devorados por elas em seu estado larvar ("operários das ruínas").

    Texto bem criativo, amigo.

    Abraços.

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