(ESCRE)VER-ME
nunca
escrevi
sou
apenas
um tradutor de silêncios
a
vida
tatuou-me
nos olhos
janelas
em
que me transcrevo e apago
sou
um
soldado
que
se apaixona
pelo
inimigo que vai matar
(COUTO, Mia. Poemas
escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 111).
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MULHER
Solteira,
chorei.
Casada,
já nem lágrimas tive.
Viúva,
perdi olhos
para
tristezas.
O
destino da mulher
é
esquecer-se de ser.
(COUTO, Mia. Poemas
escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 66).
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AVESSO BÍBLICO
No
início,
já
havia tudo.
Mas
Deus era cego
e,
perante tanto tudo,
o
que ele viu foi o Nada.
Deus
tocou a água
e
acreditou ter criado o oceano.
Tocou
o chão
e
pensou que a terra nascia sob seus pés.
E
quando a si mesmo se tocou
ele
se achou o centro do Universo.
E
se julgou divino.
Estava
criado o Homem.
(COUTO, Mia. Poemas
escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 72).
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"Cego
é quem só abre os olhos
quando
a si mesmo se contempla."
(COUTO, Mia. Cego. In:___. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 73
(fragmento)).
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"Preciso
ser um outro
para
ser eu mesmo"
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(COUTO, Mia. Identidade. In:___. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016, p. 86 (fragmento)).
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"Fui
sabendo de mim
por
aquilo que perdia"
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(COUTO, Mia.Fui sabendo de mim. In:___. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016, p. 118 (fragmento)).
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"Aquele
que acredita ter visto o mundo,
não
aprendeu a escutar-se no vento."
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(COUTO, Mia. Danos e enganos. In:___. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016, p. 158 (fragmento)).
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"– Viver, para muitos, às vezes parece até uma
espécie de cacoete."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.
250).
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–
Ontem de noite uns meninos me agarraram à força e me levaram para um terreno
baldio. Uns cinco ou seis... Primeiro me tiraram toda a roupa, até me rasgaram
um vestido quase novo. Me derrubaram, se puseram em mim, não houve porcaria que
não fizessem comigo. Depois foram embora dando risadas e não me deram um mísero
vintém.
–
Conhecidos?
–
Alguns acho que conheço de vista. Meninos de boas famílias.
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 294).
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"Às vezes neste
mundo é preciso mais coragem para continuar vivendo do que para morrer."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 307).
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"Meu pai me
ensinou que a pergunta 'Quem me fez?' não pode ser respondida, já que
imediatamente sugere a pergunta seguinte 'Quem fez Deus?'"
(MILL, John Stuart. In: RUSSELL,
Bertrand. Por que não sou cristão: e
outros ensaios a respeito de religião e assuntos afins. Trad. Ana Ban. Porto
Alegre: L&PM, 2016, p. 30).
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"[...] parece
surpreendente que as pessoas possam acreditar que este mundo, com todas as
coisas que ele contém, com todos os seus defeitos, deve ser o melhor que a
onipotência e a onisciência conseguiram produzir em milhões de anos. Eu
realmente não consigo acreditar nisso. Os senhores acham que, se tivessem a
onipotência e a onisciência e milhões de anos para aperfeiçoar seu mundo, não
seriam capazes de produzir nada melhor do que a Ku-Klux-Klan ou os
fascistas?"
(RUSSELL, Bertrand. Por que não sou cristão: e outros
ensaios a respeito de religião e assuntos afins. Trad. Ana Ban. Porto Alegre:
L&PM, 2016, p. 33).
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"Minha visão
pessoal a respeito da religião é a mesma de Lucrécio. Vejo-a como uma doença
derivada do medo e como fonte de tristeza incalculável para a raça
humana."
(RUSSELL, Bertrand.
Será que a religião fez contribuições úteis para a civilização? In:___. Por que não sou cristão: e outros
ensaios a respeito de religião e assuntos afins. Trad. Ana Ban. Porto Alegre:
L&PM, 2016, p. 46).
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"– Prenda Jesus,
delegado, prenda-o o quanto antes! Interrogue-o. Faça-o confessar tudo, dizer o
nome de todos os seus discípulos e cúmplices... Se ele não falar, torture-o em
nome da Civilização Cristã Ocidental!"
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 328).
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"Para vós o
importante é que a festa continue, que não se toque na estrutura, não se altere
os estatutos do clube onde os privilegiados se divertem. A canalha que não pode
tomar parte na festa e se amontoa lá fora no sereno, envergando a triste
fantasia e a trágica máscara de miséria, essa deve permanecer onde está, porque
vós os convivas felizes achais que pobres sempre os haverá, como disse Jesus. E
por isso pagais a vossa polícia para que ela vos defenda no dia em que a plebe
decidir invadir o salão onde vos entregais às vossas danças, libações, amores e
outros divertimentos."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 351-352).
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"– Quando foi da
última concorrência havida no município para o fortalecimento de automóveis,
caminhões e máquinas agrárias à nossa prefeitura, murmuraram por aí os
oposicionistas que houve fraude... Pois houve mesmo. E da grossa! Sei disso
porque fui eu quem engendrou a negociata. Três firmas entraram na concorrência.
A que ofereceu a melhor proposta foi logo alijada porque era uma empresa idônea
e recusou entrar no cambalacho que propus. De combinação com os meus sócios, o
honrado prefeito major Brazão e o nosso impoluto coronel Vacariano, inventei
uma tecnicalidade que pôs logo essa companhia fora de combate... Ficaram apenas
duas e foi aceita a que nos fazia a proposta mais conveniente: a que concordou
em dar-nos por baixo do poncho uma "bonificação" de trinta por cento
sobre o total do superfaturamento dessas viaturas e máquinas...".
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 356-357).
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"Pátria? A flor dos Vacarianos ama tanto a sua,
que tem passado a vida a lesar os cofres públicos e a mamar nas tetas desta
pobre república."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.
362).
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"– Não sou nenhum
moralista. Não penso como os "pilares" da sociedade burguesa que
localizam a moral entre as pernas das pessoas. Para mim existe outra moral mais
alta, que é a social, a responsabilidade do homem para com o homem. [...] Acho
que cada criatura humana pode fazer o que entender com o seu corpo e o seu sexo.
Não é da conta de ninguém."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 364-365).
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“Ninguém conhece o
outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele,
ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.”
(PESSOA, Fernando. A quintessência do desassossego: seleção
de pensamentos do Livro do Desassossego. FRANCHINI. A.S; SEGANFREDO, Carmen.
(Org.). 2. ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009, p. 111).
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"Só o que sonhamos
é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao
mundo e a toda gente."
(PESSOA, Fernando. A quintessência do desassossego: seleção
de pensamentos do Livro do Desassossego. FRANCHINI. A.S; SEGANFREDO, Carmen.
(Org.). 2. ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009, p. 136).
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"Há muito tempo
que não existo. Estou sossegadíssimo."
(PESSOA, Fernando. A quintessência do desassossego: seleção
de pensamentos do Livro do Desassossego. FRANCHINI. A.S; SEGANFREDO, Carmen.
(Org.). 2. ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009, p. 138).
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“Poesia é a descoberta
das coisas que eu nunca vi.”
(ANDRADE, Oswald de.
In: BARROS, Manoel de. Poesia completa.
São Paulo: Leya, 2010, p. 457).
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"Comunista é o pseudônimo que os
conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para
designar simplisticamente todo o sujeito que clama e luta por justiça
social."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia
das Letras, 2006, p. 390).
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"Gosto da vida. É um desafio permanente. Se ela
é absurda, sem sentido, então procuremos dar-lhe um sentido. Eu acho que a
senha é Amor."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.
394).
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"O universo (que
outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez
infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro,
cercados por balaustradas baixíssimas. (...) A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade, cujo
corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode
duvidar. (...) Em alguma estante de algum hexágono (raciocinaram os homens)
deve existir um livro que seja a cifra e o compêndio perfeito de todos os
demais: algum bibliotecário o consultou e é análogo a um deus."
(BORGES, Jorge Luís. A
biblioteca de Babel. In:___.
Ficções (1944). Trad. Davi Arrigucci
Jr. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 69-71).
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"Que é o povo? Um
monstro com muitas cabeças, mas sem miolo. E esse 'bicho' tem memória
curta."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 396).
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"Tenho o direito
de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga tal
qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como
motivação de minha briga porque, histórico, vivo a história como tempo de
possibilidade e não de determinação."
(FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 52. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2015, p. 73).
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"Na calçada, no lugar em que o rapaz caiu,
ficou uma larga mancha de sangue enegrecido, na qual a imaginação popular –
talvez sugestionada por elementos de esquerda – julgou ser a configuração do
Brasil."
(VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.
489).