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sábado, 10 de setembro de 2016

CITAÇÕES, POEMAS E 'FACEIRAÇÕES' COLETADAS DE MINHAS LEITURAS (Momento 2)

"Não me parece que no passado o tempo fosse tão veloz. Agora, a sua rapidez me parece incrível, seja porque percebo que o fim se aproxima, seja porque comecei a observar e fazer as contas das minhas perdas."

(SÊNECA, A, L. Aprendendo a viver. Trad. Lúcia Sá Rebello. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 45).

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No mistério do Sem-Fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;

no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

(MEIRELES, Cecília. In: ALVES, Rubem. Educação dos sentidos e mais... 9. ed. Campinas, SP: Verus, 2012, p. 18.)
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"Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se o autor entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço."

(KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 14).
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"Cada um se compraz com suas próprias ideias, é a natureza que decidiu assim. O corvo acha seus filhotes maravilhosos, e a visão do macaquinho encanta seus pais."

(MORUS, Tomás. A Utopia. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 1997, p. 25).
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“O homem é um ser que a tudo se habitua, e essa é, a meu ver, a melhor das suas qualidades.”

(DOSTOIÉVSKI, F. Memórias das casas dos mortos. Trad. Natália de Nunes e Oscar Mendes. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 15).
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"O que se pode prometer. – Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demostrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. – Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor quando, sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno."

(NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. Trad. Paulo César de Souza. 5. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 56).
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"[...] Mas esta manhã a mulher da Câmara desceu do camião munida de uma vassoura comprida e varreu tudo o que encontrou à sua frente para dentro de um carrinho de lata. No momento em que nos cruzávamos, eu ouvia o som das suas passadas dando uma explicação ao mundo – Esquecimento, esquecimento."

(JORGE, Lídia. A noite das mulheres cantoras. São Paulo: Leya, 2012, p. 11).
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"A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une."

(PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 15).
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"É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas."

(SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe: com aquarelas do autor. Trad. Dom Marcos Barbosa. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2009, p. 34).
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"Medo, eu? O tigre não tem medo de ninguém... O tigre invisível. A minha alma."

(Francisco Macías Ngueme. Ditador deposto da Guiné Equatorial. In: SCLIAR, Moacyr. Max e os felinos. Porto Alegre: L&PM, 2001, p. 9).
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 “Ninguém nasce ruim ou bom, o destino é que entorta a gente...”.

(AMADO, Jorge. Terra do sem-fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 25).
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"O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo."

(ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 96).
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"O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto."

(ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 95).
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"Desses, o realmente apavorante era o Ministério do Amor. O edifício não tinha nenhuma janela."

(ORWELL, George. "1984". Trad. Alexandre Hubner e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 15).
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“As próprias ideias nem sempre conservam o nome do pai; muitas aparecem órfãs, nascidas de nada e de ninguém. Cada um pega delas, veste-se como pode, e vai levá-las à feira, onde todos as têm por suas.”

(ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 121). 
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"O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio."

(ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 129).
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“A palavra ler vem do latim legere e queria dizer escolher. Era isso que faziam os antigos romanos quando, por exemplo, selecionavam entre os grãos de cereais. A raiz etimológica está bem patente no nosso termo eleger.”

(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 97).
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“[...] a leitura de todos os bons livros é como uma conversação com os melhores homens dos séculos passados, que foram seus autores, e até mesmo uma conversação estudada, na qual eles nos revelam apenas os melhores de seus pensamentos.”

(DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 40-41).
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“Em realidade, o ato de escrever não é de modo algum inconsciente, é uma estrutura atual de minha consciência. Só que ele não é consciente de si mesmo. Escrever é tomar uma consciência ativa das palavras enquanto elas surgem de minha pena.”

(SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2012, p. 58).
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"[...] rico só é o homem que aprendeu, piedosa e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira."

(NASSAR, Raduan. Lavoura arcaica. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 52).
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“[...] ninguém pensa que alguém lhes deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou.”

(SÊNECA. Aprendendo a viver. Trad. Lúcio Sá Rebello. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009, p. 16). 
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 “[...] nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. O que aconteceu, meu filho, é que quase todos estão cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam.”

(COUTO, Mia. Nas águas do tempo. In:___. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 13).
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“Escuta, meu irmão, escuta este silêncio. O erro da pessoa é pensar que os silêncios são todos iguais. Enquanto não: há distintas qualidades de silêncio.”

(COUTO, Mia. O cego Estrelinho. In:___. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 23).
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"E o ar. Dizia que o ar estava com cheiro de lembranças. – 'A gente não vê quando o vento se acaba...'".

(ROSA, João Guimarães. A menina de lá. In:___. Primeiras Estórias. 46. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 23).
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“O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente.”

(COUTO, Mia. O cego Estrelinho. In:___. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 21).
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“O pouco se fazia tudo e o instante transbordava eternidades.”

(COUTO, Mia. O cego Estrelinho. In:___. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 25).
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"[...] deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais importantes da juventude. Se os livros permaneceram os mesmos (mas também eles mudam, à luz de uma perspectiva histórica diferente), nós com certeza mudamos, e o encontro é um acontecimento totalmente novo."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 11).
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"Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 11).
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"A escola e a universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão; mas fazem de tudo para que se acredite no contrário."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 12).
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"Se a centelha não se dá, nada feito: os clássicos não são lidos por dever ou por respeito mas só por amor."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 12-13).
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"A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 16).
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"Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', perguntaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer'."

(CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 16).
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“No achamento do chão também foram descobertas as origens do voo.”

(BARROS, Manoel de. O guardador de águas. In:___. Poesia completa. 5. ed. São Paulo: Leya, 2010, p. 241).
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"[...] os espelhos e a cópula são abomináveis porque multiplicam o número dos homens."

(BORGES, Jorge Luis. Tlön, upbar, orgis tertius. In:___. Ficções. Trad. Davi Arrigucci Jr. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 13).
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"A velha enrugadinha se sentiu toda faceira ao ver a linda criança a quem todos faziam festa, a quem todo o mundo queria agradar; aquele lindo ser tão frágil, como ela, a velhinha, e, também como ela, sem dentes e sem cabelo.
E aproximando-se, querendo fazer-lhe gracinhas e trejeitos simpáticos.
Mas a criança apavorada se debatia sob as carícias da boa mulher decrépita, e enchia a casa com seus ganidos.
Então a boa velha retirou-se em sua solidão eterna, e chorava num canto, pensando, 'Ah! para nós, infelizes velhas fêmeas, passou a idade de agradar, mesmo aos inocentes; e horrorizamos as criancinhas que queremos amar!'"

(BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Hedra, 2007, p. 37-39).
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“PASSA UMA BORBOLETA por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor."

(PESSOA, Fernando. Os melhores poemas. Seleção de Teresa Rita Lopes. 4. ed. São Paulo: Global, 1988, p. 162).
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OS POEMAS
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabem de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles estava em ti...

(QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM, 1980).
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"Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 11).
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"As coisas estavam de algum modo tão boas que podiam se tornar muito ruins porque o que amadurece plenamente pode apodrecer."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 11).
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"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 18).
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"[...] a eternidade é o estado das coisas neste momento."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 18).
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"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 21).
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"Eu gosto tanto de ouvir os pingos de minutos do tempo assim: tic-tac-tic-tac-tic-tac."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 50).
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"Eu vou ter tanta saudade de mim quando morrer."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 53).
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"Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 63).
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"[...] ela já era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro."

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 79).
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Entrevista de Guimarães Rosa à jornalista Christina Autran:
"Escrever, pra mim, é uma necessidade. Às vezes fico com uma história anos e anos na minha cabeça, sem encontrar uma forma de expressão. Até que um dia sai. Se fosse escrever mais cinquenta anos, não escreveria tudo que está na minha cabeça. Sou muito lento. Muitas vezes engano a consciência, invento um trabalho pra fazer na hora que me havia decidido escrever."

(AUTRAN, Christina. Eu já declinava para nãoezas. In:___. Por que a mulher gosta de apanhar: e outras reportagens dos anos 1960 e 1970. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, p. 42).
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"Já faz anos que os cursinhos publicam as fotografias dos seus alunos que passaram em primeiro lugar nos exames vestibulares. Tais alunos bem que merecem, pois se trata de um feito extraordinário. Mas eu gostaria mesmo é que alguém fizesse uma pesquisa sobre o destino profissional desses gênios de memória. É preciso não confundir memória com inteligência."

(ALVES, Rubem. Os primeiros colocados nos vestibulares. In:___. Ostra feliz não faz pérola. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2014. p. 68).
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"O honesto é um amador que atrapalha fundamentalmente o trabalho dos canalhas, todos profissionais."
(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 276).
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"Feliz é o que você vai perceber que era, algum tempo depois."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 230).
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"No Brasil, ainda com centenas de milhares de babás de cor, o recém-nascido de classe média, assim que vê uma sombra escura se curvar sobre ele, sabe que aquilo é uma empregada-escrava a seu serviço, e se torna racista para todo o sempre."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 183).
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"O dinheiro não traz felicidade. Mas pobre não tem autoridade pra afirmar isso."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 168).
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"A diferença entre existir e viver é mais ou menos dez salários mínimos."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 165).
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"Democracia é eu mandar em você. Ditadura é você mandar em mim."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 145).
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"Não há nada mais equivocado do que ter certeza."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 88).
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"Só uma coisa preenche tudo - o nada."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 11).
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"- Poeta, o que devo ler para entender Shakespeare? [...]
- Shakespeare, minha filha!"

(FONSECA, Juarez. Shakespeare. In:___. Ora bolas: o humor de Mario Quintana. 4. ed. Porto Alegre: L&PM, 2006, p. 94).
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"Ela sabia que os anjos da guarda estão a preços que os pobres nem ousam."

(COUTO, Mia. O menino no sapatinho. In:___. Na Berma de Nenhuma Estrada. 2. ed. Lisboa: Caminha, 2001, p. 15).
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"Único culpado dessa pequena morte: o tempo, esse animal que defeca memórias."

(COUTO, Mia. Ofélia e a eternidade. In:___. Na Berma de Nenhuma Estrada. 2. ed. Lisboa: Caminha, 2001, p. 17).
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"– Só quero viajar quando for completamente cega. [...] – É que eu vivi tudo tão bonito que só quero visitar lugares que já estejam dentro de mim."

(COUTO, Mia. Bartolomina e o pelicano. In:___. Na Berma de Nenhuma Estrada. 2. ed. Lisboa: Caminha, 2001, p. 23).
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"[...] ninguém tem ombro para suportar sozinho o peso de existir."

(COUTO, Mia. As lágrimas de Diamantinha. In:___. Na Berma de Nenhuma Estrada. 2. ed. Lisboa: Caminha, 2001, p. 33).
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"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias."
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(PESSOA, Fernando. Poesias. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 108).
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"Viver é desenhar sem borracha."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 586).
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"Livro não enguiça."

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 343).
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"Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem!"

(FERNANDES, Millôr. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p. 297).
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"Encheram a terra de fronteiras carregaram o céu de bandeiras. Mas só há duas nações - a dos vivos e a dos mortos."

(COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 13).
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"Também os defeitos dos outros são horríveis espelhos."

(ROSA, João Guimarães. Ave, palavra. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações de Lazer e Cultura, 2009, p. 337).
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"A gata ingressou no Comitê de Reeducação e por algum tempo militou muito ativa. Um dia foi vista, sentada num telhado, a doutrinar alguns pardais pousados pouco além do seu alcance. Dizia-lhes que todos os animais agora eram camaradas, e qualquer pardal que o desejasse poderia vir pousar na sua mão; mas os pardais preferiram ficar de longe."

(ORWELL, George. A revolução dos bichos. Trad. Heitor Ferreira. Porto Alegre: RBS, 2004, p. 24).
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"Só as pessoas não morrem: tornam a ficar encantadas."

(ROSA, João Guimarães. Ave, palavra. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009, p. 340).
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ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
'coitado, até essa hora no serviço pesado'.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

(PRADO, Adélia. Poesia reunida. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2016, p. 84).
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"Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?"

(PESSOA, Fernando. A quintessência do desassossego: seleção de pensamentos do Livro do Desassossego. FRANCHINI. A.S; SEGANFREDO, Carmen. (Org.). 2. ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009, p. 14).
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"Amigos, nenhum. Só uns conhecidos que julgam que simpatizam comigo e teriam talvez pena se um comboio me passasse por cima e o enterro fosse em dia de chuva."

(PESSOA, Fernando. A quintessência do desassossego: seleção de pensamentos do Livro do Desassossego. FRANCHINI. A.S; SEGANFREDO, Carmen. (Org.). 2. ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009, p. 17).
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"Amar é a gente querer se abraçar com um pássaro que voa."

(ROSA, João Guimarães. Ave, palavra. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009, p. 121).
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"Acredite apenas no que seus olhos veem e seus ouvidos ouvem!
Também não acredite no que seus olhos veem e seus ouvidos ouvem!
Saiba também que não crer algo significa algo crer!"

(BRECHT, Bertolt. Apenas acredite. In:___. Poemas: 1913-1956. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: 34, 2000, p. 80).
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"A Rosa Vermelha desapareceu.
Para onde foi, é um mistério.
Porque ao lado dos pobres combateu
Os ricos a expulsaram de seu império."

(BRECHT, Bertolt. Epitáfio 1919. In:___. Poemas: 1913-1956. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: 34, 2000, p. 107).
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"O céu estrelado
vale a dor do mundo."

(PRADO, Adélia. Mitigação da pena. In:___. Poesia reunida. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2016, p. 366).
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"O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos veem com amor o que não é, tem ser."

(VIEIRA, Padre Antônio. Paixões humanas. In: BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 337).

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