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sábado, 10 de setembro de 2016

CITAÇÕES, POEMAS E 'FACEIRAÇÕES' COLETADAS DE MINHAS LEITURAS (Momento 1)

A UM PASSARINHO

Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 147).

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"O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria."

(QUINTANA, Mario. A arte de ler. In___. Caderno H. 2. ed. São Paulo: Globo, 2006, p. 333).

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"SE O POETA FALAR NUM GATO

Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade...
se falar numa esquina mal e mal iluminada...
numa antiga sacada... num jogo de dominó...
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade...
se na mão decepada no meio de uma escada
de caracol...
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poemas são de amor!"

(QUINTANA, Mario. Antologia poética. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, p. 120).

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"Mas o que sou eu, portanto? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente. Certamente não é pouco se todas essas coisas pertencem à minha natureza. Mas por que não lhe pertenceriam?"

(DESCARTES, René. Meditações. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Nova Cultura, 1991, p. 173).

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"Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer."
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(PESSOA, Fernando. Ficção do interlúdio\Poesia de Álvaro de Campos. In: GALHOZ, Maria Aliete (Org.). Fernando Pessoa": obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1999, p. 356).

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"Encheram a terra de fronteiras carregaram o céu de bandeiras. Mas só há duas nações - a dos vivos e a dos mortos."

(COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 13).

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"Os remos batem nas águas:
têm de ferir, para andar.
As águas vão consentindo -
esse é o destino do mar."

(MEIRELES, Cecília. Quadras. In:___. Cecília de bolso: uma antologia poética. Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 40).

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"O gato é preguiçoso como uma segunda-feira."

(QUINTANA, Mario. Imagem. In___. Caderno H. 2. ed. São Paulo: Globo, 2006, p. 255).

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“Eu te invento, ó realidade.”

(LISPECTOR, Clarice. In: BARROS, Manoel de. Poesia completa. 5. ed. São Paulo: Leya, 2010, p. 389).

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"Que bom que é estar triste e não dizer coisa nenhuma!"

(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 55).

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"Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: "nunca" e "sempre"."

(QUINTANA, Mario. Sinônimo. In___. Caderno H. 2. ed. São Paulo: Globo, 2006, p. 190).

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"– Está direito. Você é mesmo maluco, mas mais o mundo não é exato. Se veja...".

(ROSA, João Guimarães. Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou a volta do marido pródigo. In:___. Sagarana. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p. 83).

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"Só se sabe do vento no balanço dos ramos extremos do eucalipto."

(ROSA, João Guimarães. Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou a volta do marido pródigo. In:___. Sagarana. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p. 70).

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"Talvez que ela não fosse a moça mais bonita do arraial... E não era mesmo. Mas o amor é assim..."

(ROSA, João Guimarães. Sarapalha. In:___. Sagarana. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p. 139).

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"Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai...
Não cantes fora de hora, ai, ai, ai...
A barra do dia aí vem, ai, ai, ai...
Coitado de quem namora!..."

(ROSA, João Guimarães. Sarapalha. In:___. Sagarana. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p. 119).

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"Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

(CAMÕES, Luís Vaz de. In: RODRIGUES, Antonio Medina. Roteiro de leitura: Sonetos de Luís Vaz de Camões. São Paulo: Ática, 1998, p. 96).

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"– A poesia aprende-se sendo feliz. Mas só sabemos que sabemos quando somos infelizes."

(COUTO, Mia. Olhos nus: olhos. In: BRESSANE, Ronaldo (Org.). Essa história está diferente: dez contos para canções de Chico Buarque. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 198).

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NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açucar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

(GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz. In:___. Toda poesia. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p.162).

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"O peão puxou da faca e dum golpe enterrou-a até o cabo, no sangradouro do boi manso; quando retirou a mão, já veio nela a golfada espumenta do sangue do coração...
Houve um silenciozito em toda aquela gente.
O boi velho sentiu-se ferido, doendo o talho, quem sabe se entendeu que aquilo seria um castigo, algum pregaço de picana, mal dado por não estar ainda arrumado... - pois vancê creia! - soprando o sangue em borbotões, já meio roncando na respiração, meio cambaleando, o boi velho deu uns passos mais, encostou o corpo ao comprido no cabeçalho do carretão, e meteu a cabeça, certinha, no lugar da canga... e ficou arrumado, esperando... (...)
E ajoelhou... e caiu... e morreu...".

(NETO, Simões Lopes. O boi velho. In:___. Contos Gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008, p. 68-69).

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"Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o nome: Maria Metade."

(COUTO, Mia. Meia culpa, meia própria culpa. In:___. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 39).

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"– Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela. – Cozinhar é um modo de amar os outros."

(COUTO, Mia. A avó, a cidade e o semáforo. In:___. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 126).

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O ECO

O menino perguntou ao eco
onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: "Onde? Onde?"

O menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"

Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.

Pois só lhe ouve dizer:
"Migo!"

(MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 39).

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"A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada."

(ASSIS, Machado de. O espelho. In:___. Contos Reunidos. Porto Alegre: Pradense, 2008, p. 865).

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" Never, for ever!For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então a noite!"

(ASSIS, Machado de. O espelho. In:___. Contos Reunidos. Porto Alegre: Pradense, 2008, p. 866).

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“[...] escreve diante da janela aberta.”

(QUINTANA, Mario. A rua dos cata ventos. In: YOKOZAWA, S. F. C. A Memória Lírica de Mario Quintana. Porto Alegre: UFRGS, 2006, p. 34).  

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"Nos dias de felicidade, o mundo é comestível."

(BARCHELARD, Gaston. In: TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pratense, 2010, p. 105).

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"Homero é novo nesta manhã, e nada pode ser tão velho do que o jornal de hoje."

(PÉGUY, Charles. In: TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pratense, 2010, p. 118).

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"Se a televisão pode cruzar fronteiras e mares, somente o livro pode cruzar séculos."

(BOORSTIN, Daniel J. In: TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pratense, 2010, p. 90). 

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"Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida."

(PESSOA, Fernando. O livro do desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 124).

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"Os gatos, apesar de tudo o que têm de bom, jamais cometem erros. (...) Os cães são às vezes falíveis, mostrando-se capazes de encantadoras pequenas falhas, mas só o conseguem por imitarem os donos. Os peixes são impecáveis em tudo o que fazem."

(TREVISAN, Armindo. Como apreciar a arte. 2. ed. Porto Alegre: Uniprom, 1999, p. 17).

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"Se me interesso por poesia, eu que sou professor de História e Filosofia das Ciências, é justamente - não ouso empregar o termo "divertimento" pois não seria digno da poesia - por uma espécie de felicidade."

(BARCHELARD, Gaston. In: TREVISAN, Armindo. Como apreciar a arte. 2. ed. Porto Alegre: Uniprom, 1999, p. 22).

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"Se eu tivesse nascido chinês, não seria pintor, mas escritor. Escreveria meus quadros."

(PICASSO, Pablo. In: TREVISAN, Armino. Como apreciar a arte. 2. ed. Porto Alegre: Uniprom, 1999, p. 40).

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"(...) ler é pensar e amar com o coração dos outros."

(TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pradense, 2010, p. 5).

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"Reler é desconfiar que se leu apressadamente."

(TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pradense, 2010 (contracapa)).

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"Se ler é provar uma iguaria que não se tinha ainda provado, ler por dentro é ler um autor, como se ele estivesse perdido para a humanidade, e coubesse a nós salvá-lo."

(TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pradense, 2010 (contracapa)).

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"A realidade é que nós só falamos bem de coisas: de uma rosa, de um copo de vinho, de um campo. (...) Falar de pessoas é arriscar-se num mar sem margens."

(TREVISAN, Armindo. Ler por dentro. Porto Alegre: Pradense, 2010, p. 19).

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"As palavras têm sexo (...) Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo."

(ASSIS, Machado de. O cônego ou metafísica do estilo. In: AGUIAR, Luiz Antonio. Almanaque Machado de Assis: vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 190).

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"O amor não é tudo o que resulta em filhos."

(LISPECTOR, Clarice. In:___. O tempo de Clarice Lispector. Curadoria Roberto Corrêa dos Santos. Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 143).

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"O prazer do texto é esse momento em que meu corpo vai seguir suas próprias ideias – pois meu corpo não tem as mesmas ideias que eu."

(BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 24.)

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"O texto é (deveria ser) essa pessoa desenvolta que mostra o traseiro ao 'Pai Político'."

(BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 63.)

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CONTRANARCISO

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro

que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós.

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 32).

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"poema na página
mordida de criança
na fruta madura."

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 83).

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MERDA E OURO

Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 186).


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