Gosto do Facebook, às vezes ele me parece uma versão
atualizada da Ágora grega; em outras, não. Bem democrático, mas como em tudo na
vida, é preciso que nos afinemos para este instrumento. Confesso que já toquei
canções bem tristes nele, algumas belas, até. Produzi acordes ruidosos,
destoantes; outros, pouco mais sensíveis e harmoniosos. Tudo depende – como eu
já disse – de nossa afinação. Bom que somos humanos, agora contando com uma
janela aberta para toda e qualquer emoção. Com ele fica difícil se esconder de
nós mesmos.
Por outro lado, ele (o Facebook) tornou-se uma maneira
moderna de solidão: nele estamos todos juntos e ao mesmo tempo sozinhos. Medida
que, dependendo da circunstância, não parece ser tão ruim. Sempre nos povoamos
por lá. Cada um com a sua vida, e todas elas à deriva na terceira margem de um
mesmo rio. Sim, estamos cheios de lonjuras, as mais distantes sempre estarão
dentro da gente. Com isso a felicidade ganhou cara nova, ela é uma saudade do
que foi sem ter partido: é uma rede social, porque dentro dela ninguém parte,
mesmo tendo que ir.
Entretanto, sabemos que o mundo lá de fora acontece
diferente dentro de cada um de nós... Tudo está no plural. Nas redes,
inclusive, ‘sozinhamos’ em coro, em centenas de vozes. O que é perigoso, já que
as palavras se esticam nos arcos e, quando projetadas por arames tortos, acabam
perdendo o rumo e atingindo um passante qualquer naquela multidão virtual. Natural,
a escrita tem vontade de se reconstruir pelas vozes dos outros. Local onde as
bocas são os dedos e os olhos têm ouvidos. E aí é, justamente, que mora o
perigo. Uma
verdade confusa de ouvidos fica bêbada de si mesma. Os pensamentos afogam as
vozearias e a nós mesmos, se não soubermos nadar entre as correntes do
vai-e-vem de tantas diferenças.
Mas também há a interação positiva, politizada,
poética... há tudo, uma vez que as linhas de uma boa postagem constroem tecidos
bonitos para os que gostam de andar bem vestidos por dentro. É a melhor maneira
de encontrar-se com todos sem precisar estar com ninguém. O mundo corre muito,
hoje em dia. Contudo, cuidado! Somos escravos do que dizemos e reféns do que
não falamos: o afogamento é iminente.
Enfim, sem mais delongas, nem sempre importa o que
os olhos pensam que sabem – competência instantânea e insípida do tipo Nescafé.
Às vezes, desacelerar é preciso. Isso dá até certa saudade do cafezinho que
minha avó demorava a passar. Valia o tempo, o cheiro e o gosto, pois sabor e
saber são cores impossíveis quando damos exclusividade à visão. Nem todos os
sentidos sabem se completar à distância. Mas isso foi no tempo em que a
realidade prevalecia e os dedos sentiam outras mãos, além do teclado. Já foi.