A Madame de Juarre
Brasil, agosto.
Brasil, agosto.
Minha extraordinária madrinha.
Eis que me encontro aqui neste outro continente. Parece-me que a tal ponto e distância, como em degredo, as imagens de uma terra familiar às vezes me tornam e atormentam os pensamentos: saudades dos gentílicos lisboetas.
Ontem – como forma a restituir imagens deixadas em Portugal – resolvi tomar sol em uma praça próxima onde minha tão silenciosa existência não alterava nada. Esse, sem dúvida, seria o lugar ideal para que o mais culpado dos homens pudesse descansar de seus tormentos e repousar em bancos de certa maneira confortáveis. Decidi então me acomodar por alí mesmo, aqueles ares pareciam me fazer bem. O fato resume-se apenas em querer gozar daquele dia pensando estar novamente em minha terra.
Doravante, deixando para trás saudades e queixumes, - veja o que me trouxe à realidade! - encontrei ao largo de um logradouro paralelo a tal praça, duas figuras extremamente interessantes: uma palestrando para poucas almas; a outra calada fielmente ao seu lado apenas deixando escapar olhares quase humanos: era um cão. Ao inserir-me em meio ao pequeno grupo de ouvintes, deleitei-me com a sabedoria da tal personagem que mais tarde apresentou-se a mim como Senhor Borba.
Veja só, minha senhora, que a estranha filosofia de tal criatura me fez condoer-me à situação humanitária, pois sabes bem que não estou preso a nada e muito menos a valores eleitos ou distribuídos por alguém, contudo não me considero filantropo e menos ainda um misantropo, estou entre um e outro; um pecador talvez. Aliás, após o nosso último encontro (de Sr. Borba e eu) não me preocupei com o tempo, deveras o deixei discorrer à vontade. Dialogamos sobre tudo, inclusive a respeito de sua - dita por ele mesmo – “Filosofia Humanita”, disposta em parábola interessante. Um dia lhe conto pessoalmente sobre essa história que relata a luta pela sobrevivência e a situação em que se fez das batatas prêmio maior aos vencedores... Por hora é isso. Seu afilhado do coração,
Fradique Mendes.
** Esse texto tem como pretensão ser um apócrifo (uma carta que não está publicada entre as tantas que Fradique Mendes escreveu). Como Eça de Queiroz e Machado de Assis viveram na mesma época, porém um em Portugal e outro no Brasil, pensamos em aproximar, se não os criadores, pelo menos as criaturas: Fradique e Quincas.
Ofereço essa produção ao amigo e poeta português (que é de fato português/lusitano), JORGE PIMENTA. Com o desejo que tenha feito uma leitura proveitosa, deixo aqui meu abraço!
Oi Dilso, meu amigo!
ResponderExcluirTudo bem, e a família?
Espero que eu consiga postar este comentário, hoje também o Dr. Blogger!!! Está nos causando emoções inesperadas rsrsrs
Que maravilha de intenção!
O reflexo no reflexo, os personagens,e uma aproximação. O mar na geografia a separar fisicamente tantas almas, e ao mesmo tempo, nossa divina literatura a juntá-las como se uníssonas fossem!
Grande abraço, volto sempre!
Ah! Que bom que gostaste do trabalho do Jorge Pimenta, tua dedicatória a ele me deixa feliz, de verdade!!!
Ei Dilsão, que idéia legal hein amigo! Hahahahaha o que será que o Machado de Assis e o Eça de Queiroz iriam achar disso né? Hahahahaha gostei, vc é maluco, e isso é bom!!
ResponderExcluirDilso, te reproduzo o comentário do Jorge Pimenta lá no blog dele:
ResponderExcluir"já tenho procurado entrar no cronutopia, mas sem sucesso. tento e volto a tentar, mas sucessivamente vejo o acesso barrado. os problemas do bloguer continuam por solucionar, aparentemente.
fico antecipadamente muito honrado com a dedicatória do dilso, sendo seguro que por lá passarei para ler, comentar e deixar um sincero e profundo abraço. entretanto, faz-lhe chegar esta minha pretensão, por favor."
caro dilso,
ResponderExcluirfinalmente parece que estou em condições de cá chegar. depois de umas quantas tentativas goradas para entrar e de outras tantas em que escrevia, mas o rebelde blogger me aniquilava as intenções, eis que, por fim, tudo parece solucionado. e o que estava a perder, meu caro amigo. a nossa querida amiga cecília já me tinha advertido para esta maravilha que agora ganhou as dimensões do oceano para nela assim poder tocar.
eça e machado sempre foram meio irmãos e nem a geografia pôde, na verdade afastá-los. mas não é apenas a fina ironia que os caracteriza que tu recuperas por aqui, caro amigo; igualmente a geografia típica das pequenas aldeias alentejanas do pré-abril e tantas vezes cantadas por manuel da fonseca e demais neo-realistas, onde o largo se adiantava a tudo o mais como coração da cidade; até as fábulas com esse cão que fala, canta e encanta. quase encontro, ainda, laivos de impressões mornas sobre a pele, ao jeito de cesário verde e demais impressionistas.
imenso o teu texto e ainda maior o teu talento! filantropia? misantropia? talvez nada mais do que pecado... :)
um forte abraço!
Eis o Dilso, alinhavando textos, alinhavando personagens, alinhavando continentes, com agulha e pena afinadas.
ResponderExcluirQuerido Dilso,
ResponderExcluirEstá DIVINOOOOOOOO!
Que maravilha!
Isto é obra prima.
Eu conheço mal a obra de Machado de Assis, confesso, mas vou pesquisar sobre ele, logo que tenha tempo.
Parabéns!
Beijos da sua amada Lusitana