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segunda-feira, 16 de julho de 2012

A NARRATIVA NÃO ACABA, RENOVA-SE NAS VOZES.


Motivados por algumas aulas de Narrativas Midiáticas Contemporâneas, surgiram algumas questões que exponho aqui como forma de compartilhar as inquietações. Assim, como aluno, leitor e ouvinte, ocorreram-me verdades que não sei bem se são de fato respondíveis ou ao menos relevantes, pois como disse, ainda estou inquieto. O que sei é que nelas ando encontrando caminhos novos para conversar com outros veículos de informação, além das obras de valor literário construídas por jornalistas e nas quais venho tomando conhecimento nestes últimos meses.  
Como nosso foco tem se destinado a um estudo sobre o Jornalismo em diálogo com a Literatura, tivemos, meus colegas e eu, discussões bastante ricas, sobretudo durante as aulas, no que diz respeito a essa afinação de sentidos. Penso que como meio de informação, ou manifestações de ideias, tais áreas estão sim, – porque não? – em constantes movimentos e reencontros, uma vez que as duas tendem a tecer um pacto, digamos assim, com seus possíveis leitores. Assim, em busca de um setor que me fornecesse subsídios para fazer conexões, ou analogias, com as duas (Jornalismo e Literatura), resolvi abranger os caminhos e alargar os espaços com reflexões bastante pessoais, ainda sendo amadurecidas no momento, mas latentes durante as leituras que ainda fazemos para a disciplina e presentes nas conversações que ainda temos em aula. O motivo seria o de tentar entender o trânsito e o ponto em comum que acaba pertencendo aos dois lados: o de narrar. Uma vez que ambas tem em seu cerne a mesma tentativa de informar algo se utilizando do mesmo veículo, a linguagem.  
Entrando, então, para uma possibilidade que extrapola para a filosofia, lembremos a conhecida máxima de Heráclito de Éfeso: “Não te banharás duas vezes no mesmo rio”. Valendo-se disso, pensemos agora em um jornalista que tem como missão repassar um acontecimento. Certamente ele o fará da forma mais aproximada que encontrar. Apesar do esforço, notemos que o fato acaba se distanciando, – mesmo que o profissional não tencione isso – pois, enquanto recontado, ele (o fato), inevitavelmente, passará a acontecer novamente e encontrará caminhos novos, até mesmo sutis, sob a versão, agora, de seu narrador. Na mesma linha seguirão os leitores (imaginemos aqui o jornal como exemplo), cada qual receberá a notícia obedecendo a valores de ordens pessoais, frutos de suas construções locais/sociais e até mesmo individuais. Ocorre aí mais um enxugamento da primeira impressão da notícia. Mas o que sobra dela, afinal?
Este espaço de “entre-lugar” pode nos fazer entender o porquê de alguns jornalistas acabarem caindo nas graças da literatura e vice-versa. O mote inicial talvez esteja na tentativa de buscar maior universalidade ao repassar as imagens, agora, autenticamente reconhecíveis na predisposição de uma nova possibilidade de reinvenção. Visto encontrar-se com a verossimilhança ao invés de tentar resgatar fatos puros que se contagiam a cada novo reconte. Mas o que vem a ser um fato puro?
Como já vimos, os pontos podem variar, logicamente. Nisso, na posição de sempre estar tentando amarrar as duas partes, do fato e do (re) leitor do fato, o narrador acaba por criar mecanismos que acabam por afastar ou aproximar o receptor do lugar descrito, mas o alcance acaba sempre por fugir, uma vez que ele já aconteceu sob os vários olhares únicos que o flagraram.
Desta forma, vamos recriando e organizando nossas ideias, estas agarradas por esse fio tênue que faz com que os leitores acabem encontrando ou, se a linha partir, perdendo-se em suas próprias versões. Tendo, inclusive, que reencontrar-se no labirinto das vozes que ouve, lê ou recria.
Assim, concluímos que o ato da narrativa nunca acaba. Ela apenas se renova sob todas as vozes e cores que encontra. E é nessa refacção de elementos que vamos dando partida ao entendimento das informações literárias em conjunto com as narrativas midiáticas, tendo como obrigação complexificar um pouco sim, uma vez que não há como inferir se não houver o combustível das inquietações. Contudo, abastecido pelas aulas, acabei, acho, fazendo algumas ponderações longínquas, no que vou relembrando se tratar de uma reflexão pessoal, portanto, como qualquer opinião não profissional (não sou jornalista), é totalmente discutível. 


Obs: Texto publicado também no Jornal do Comércio de Porto Alegre (24/07/2012): http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=99191   

3 comentários:

  1. Dilso, querido amigo!
    O fato é fato, porém se estende, não só na narrativa, como na própria sequência do fato: uma catástrofe ocorrida hoje, no próximo dia tem a sequência do resgate, vitimas, etc... depoimentos. Fazer um texto jornalístico, é fazer um texto pautado nos fatos, em testemunhas, fontes, mas quem o escreve, óbvio, de uma forma ou de outra, estará fazendo a (re)leitura dele, mas aí que entra uma coisa chamada: fotojornalismo. Para imprimir o verídico. E creio esta a grande diferença, pois até numa crônica de opinião, que não necessariamente é jornalística, existe a opinião, que exprime o ponto de vista do escritor ou jornalista. E o artigo jornalístico, por si só, não deve exprimir a opinião, e sim, o fato.
    Mas tanto textos, jornalísticos, opinativos (que são os que fizemos), se estendem em significado, pois os fatos têm sequência, inferindo neles uma opinião ou não, e assim, a narrativa se cumpre, ainda na ótica do leitor.
    Concluindo: esse é o admirável mundo das letras.

    Abração e ótimos dias!

    Obrigada pelo comentário por lá, em razão da minha parceria com a Luciana!

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    1. Não, Cisa, aqui em meu raciocínio, fato não é só fato. Quero saber onde fica o fato puro e único, não repetível.

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  2. Amigo Dilso,

    As narrativas informativa e histórica têm compromisso com a verossimilhança dos fatos, no entanto, há muita interpretação conforme a cultura e conhecimento do autor; ao passo que a narrativa literária é descomprometida com a verdade, mas com a ficção, mesmo partindo de eventos verídicos. Sendo assim, sua subjetividade está implícita na obra. Entretanto, há exímios ficcionistas que foram jornalistas, em que as linguagem se assemelham e até se cruzam em dadas circunstâncias.
    Cada linguagem tem sua idiossincrasia e similitude.

    Texto muito bem escrito e relevante.

    Abraços!

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