Quando
comecei a frequentar a escola, não sabia ao certo o que realmente ela
representava. Falo em um diálogo comigo mesmo, uma releitura de minhas memórias
que admito estarem fragmentadas em pequenos flashes. Porém, hoje, – penso –
tendo condições mais claras e próximas, venho ponderar o início dessa construção.
O
fato é que tudo começou pelo gosto tardio pelas palavras, não por imposições ou
obrigações, mas com exemplos de leitores de verdade, leitoras reais que foram
algumas de minhas inspirações. Certamente, sendo a Literatura uma espécie de
arte, nenhum argumento justificaria – acredito – a possibilidade de ela nos
orientar para caminhos comuns e conhecidos como bons ou maus. Tenho para mim
que na verdade ela nos desorienta, nos colocando, inclusive, em territórios de
desconfortos, inquietudes e desestabilidades. Essa Senhora de voz silenciosa, nos
instiga também ao desconserto dos pensamentos prontos e nos instiga a reinventarmos
aqueles outros que já estavam em nós. Tal como faço aqui ao revisitar o garoto
que fui e que agora estranho ao recordar.
Confesso,
em meio às limalhas que vão caindo aqui neste texto, que não saberia dizer o
quanto sinto ao perceber a hipocrisia do “pulo”, já que como disse, tive
inspirações. Explico: Só posso pedir que alguém salte se eu tiver saltado antes.
Deste modo, de pulo em pulo, vamos resumindo pensamentos que vão ficando sempre
no escanteio e na superfície das hipóteses. Pois todos já sabem que ler é “bom”
e que enriquece blá, blá, blá... Mas não vejo mais aqueles exemplos de carnes,
ossos e espíritos. Àqueles em que falei lá em cima e que tive o prazer de
revisitar sobre outras carnes durante a graduação, desde colegas até
professores.
Sei
também que não sirvo de exemplo para nada. Na verdade ninguém é integralmente
exemplar. Mas tenho os meus espaços no tempo aonde vou costurando e dando forma
aos tecidos que vão sendo puxados das linhas coloridas de alguns leitores vivos
e percebidos ao longo de meus tempos.
Assim,
a autocrítica me vem para tapar o rosto de vergonha com o mesmo tecido que
acabei de criar por aqui, uma vez que, desde que percebi os olhares da leitura,
vi também as falhas que estavam impressas em meus pontos de vistas. Contudo, percebi
que era, também, humano e que como tal, é natural que tenha vícios ou falhas,
na qual aponto todas, menos a de pregar em “pulos” uma leitura exata do que
nunca conseguirei fazer: a de mim mesmo.
Obs: Texto publicado também no Jornal Diário Popular de Pelotas (24/07/2012): http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=8¬icia=55080
Obs: Texto publicado também no Jornal Diário Popular de Pelotas (24/07/2012): http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=8¬icia=55080
Dilso,
ResponderExcluirTudo bem? Boa tarde!
Gostei do texto e parabenizo-o. O interesse por leitura tem um maior aspecto no lado cultural, antropológico do que biológico. O despertar sempre deve ser um esforço do entorno pela ação educacional escolar e familiar.
E aí entendo o que você fala de território de desconforto e dessabores. Vou colocar umas experiência que tive como meu filho.
Como comecei a gosta de leitura por meio de gibis, em especial, Turma da Monica, usei esse processo para o meu filho se interessar. O que aconteceu? Desastre e total rejeição a leitura. O que fiz? Como ele gostava de novelas, comecei a falar de livros que as originaram e ele aos sete anos começou a escrever novelas. Hoje escrever sobre filmes e ler muitos blogs. Ler livros, mas com enfoques do que gosta.
Moral da historia, penso que a motivação deve ser pensada, interpretada ou simbolizada, para permitir o encontro.
Boa semana!
Lu
Amigo Dilso,
ResponderExcluirOs incentivos e os bons exemplos de leitores são realmente exíguos, mas posso te asseverar que hoje tu tens tais qualidades.
Os antípodas da boa leitura são infinitos, por isso, a luta é árdua e inglória.
No meu caso, sempre tive vontade de ler, porém, não tinha oportunidade e, quando tive, faltou-me tempo. O homem sem leitura é um mero símio; a leitura sem o entendimento é ouvir uma música observando apenas a melodia.
A leitura de nós mesmos é mais impérvia e inglória.
Forte abraço!