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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

PAI, LER DEMAIS PREJUDICA A VISÃO?

Minha filha perguntou-me se ler demais prejudicava a visão. Respondi que sim, porque nunca mais o mundo é visto da mesma forma, ele deforma-se, estica, abre-se e depois clareia. Tudo isso por conta de me ver sempre lendo com o auxílio de óculos incômodos e feios. Não disse, mas sei que teve medo de no futuro ter a prisão decretada por um par dessas lunetas. Pensando nisso, ao ver a disposição com a qual se debruçava sobre determinada obra, logo pensei que deveria pôr mais luz sobre as folhas para que não sofresse com os efeitos do tempo que eu sofro, já que também, felizmente, anda gastando-o com livros. Contudo, respeitando as limitações do corpo, achei por bem tomar a atitude de reajustar literalmente o abajur. Claro, para não perder o conforto, o foco e a razão que a movia a folhear tão deliciosas páginas. Coisas de pai!
Ultimamente ando observando uma maior vontade de ler por parte de minha menina. Compreendi que antes, perguntando-me sobre o que era melhor ou não, eu acabava inevitavelmente vendendo um gosto particular e que, apesar de termos o mesmo sangue, naturalmente, como todos no mundo o são, somos diferentes. Digo mais, temos idades e anseios distintos. Acordei para isso após perceber que dormia para seus sonhos e perspectivas adolescentes. Como o abajur, clareei também. Subestimei o poder das palavras ditas e concebidas para seu gênero de gostos e inquietações, já que sem um início não pode haver meio e muito menos fim. Comecei pelo fim, eis o meu erro.
Confesso que não gosto de livros muito populares, penso que eles extrapolam e reduzem elementos que deveriam abarcar o todo e, ao mesmo tempo, atingir a todos individualmente. Chamam isso de ontologia. Penso que tudo o que é feito para agradar o maior número de pessoas, não pode ser bom, uma vez que, como dito acima, ninguém é igual, não pensam igual e, sendo assim, não poderia existir fórmula que pusesse na mesma dimensão tantas diferenças. Então me pego aqui, vislumbrando a exclusão que fiz ao negar por tanto tempo o que as palavras poderiam dar no passeio imagético em que apenas uma única visão faminta poderia perceber e escolher por si só: a do simples prazer despreocupado de uma leitura.
Dito isso, exponho a obra (“Crepúsculo”, de Stephenie Meyer), ressaltando, inclusive – indiferentes às minhas vontades, verdades e gostos –, meu prazer em ter visto mais de cem páginas sendo devoradas ao meu lado em apenas um final de semana por minha garotinha de treze anos.
Do início vai-se ao meio e ao meio vai-se ao fim. Assim, um dia ela entenderá os caminhos que lhe aguardam pelo mundo e pelas prateleiras da “bibliotequinha” cheia de palavras e inquietações do papai.  

3 comentários:

  1. Amigo Dilso,
    Realmente a leitura prejudica a visão vigente, mas permite abrir outras visões sobre o mundo e a vida.
    Essas leituras populares, muitas vezes, não nos acrescentam muitas coisas, mas servem para os leitores neófitos adquirem o hábito da leitura. Depois, tenho certeza de que serão mais exigentes e seletivos.
    Texto que nos proporciona prazer e sageza, amigo.

    Abraços!

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  2. Lucia Carolina Raenke Ertel14 de agosto de 2012 às 17:15

    OI!

    Professor Dilso,
    Meu tempo está escasso, e nessas voltas pela internet visitei seu blog que ha tempo não visitava. Deparei-me com seu belo texto, gostei muito dele.Lembrei de mim quando tinha 13 anos e devorei o mesmo livro que sua filha. Encontrei na sua resposta à pergunta dela algo que começei a perceber a medida que minhas leituras mudaram.

    Um abraço!!

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  3. Nestas linhas pixeladas vislumbro meu futuro, pois terei também uma filha. E concordo com a Lucia, que corrobora contigo ao dizer que as leituras "pop" servem de primeiros passos às leituras mais elaboradas. Abraços, caro novo amigo!

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