Através
de setas e dedilhar de teclados, vamos fazendo do mundo um lugar onde o
trânsito de universos acaba por encontrar e refazer-se em um ambiente novo,
único e artificial. O animado local de todos e de ninguém, acaba por garantir
espaços e tempos privilegiados em nosso dia-a-dia. E isso não há como negar. Assim,
a vida se tornou uma festa dentro de casa, de quartos, de monitores. Circulamos
à toa, parados, mas por lá. Perdemo-nos e achamo-nos um pouco mais e um pouco menos. Compartilhamos.
Cutucamos. Desabafamos. Enfim, desafinamos. No início achamos que o mundo se
importa conosco. Durante, acabamos entendendo que nem nós mesmos pensamos isso
do outro do outro que pinta um outro que está do outro lado escondendo um outro
outro que no final das contas pode ser ainda outro.
Há
pouco tempo nem imaginávamos que um dia estaríamos tão próximos. Cruzávamos na
rua. Nem um cumprimento. Nem um mísero bom dia. Nada. Hoje entramos diretamente
no âmago das casas só para dizer: “Olá! Como vai... Estou triste... Estou
alegre... O sol está lindo... Está chovendo...”. É! São tempos sem campainha, porém, vamos
lembrando que as janelas estão abertas e tem sempre um cabeção espiando.
Nesse
lugar, inclusive, novas mentalidades vêm se formando. Novos grupos. Novas
verdades. Um mundo onde a expressão não está mais na primitiva equação entre
lábios e olhos, mas entre links, emoticons
e frases geralmente curtas. Poucos leem textos maiores por lá. Este último
elemento, infelizmente, não é mera coincidência com as particularidades reais que já conhecemos. Contudo (como um desses navegadores e,
volta e meia, protagonista também dos mesmos destemperos que cito), sei que se
a convivência já é difícil. Penso também que é um verdadeiro milagre que
pessoas (que são essencialmente únicas) consigam conviver por tanto tempo em um
mesmo local, uma vez que tomamos nossa casa como um castelo e, como reis, queremos
sempre a última palavra. O problema é que
há uma só coroa e muitas cabeças “reais”. Explico: Quando apareço pela tela do
outro, sou como um súdito, ao mesmo tempo em que sou o imperador, pois a fala
saiu de meus domínios. Complicado.
Acho
que no futuro – quem sabe – o garimpo cultural humano, feito geralmente por
antropólogos, acontecerá de dentro do facebook. Um ambiente perfeito para se
estudar a complexidade da convivência e de uma vida social que não tem nada de
exatidão. Ainda bem!
E
como já escreveu uma vez Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é
preciso.”.
Amigo Dilso,
ResponderExcluirEssas novidades tecnológicas têm a capacidade de encurtar a distância e até o tempo entre as pessoas, o que possibilita a aproximação (ainda que virtual)e encontro onde quer que estejam.
No entanto, como em qualquer grupo humano, há muita vaidade, ufania, egoísmo e capciosidade.
Tu tens uma visão da realidade mais profunda.
Abraços.
Dilso, ótima crônica, e lógico que essas ferramentas têm seus prós e contras, é um ambiente onde interagimos, ampliamos nosso leque de amizades, explicitamos nossas alegrias e prazeres, desabafamos nossos azedumes, mas a amizade e os relacionamentos não podem se concentrar somente neste mundo virtual, temos que exercitar isto em nosso dia dia, com os nossos amigos reais, assim não correremos o risco de nos desumanizar-mos, pois as redes sociais tendem a nos robotizar.
ResponderExcluirAbração e parabéns pelo texto.