Através
de algumas vozes que lembram monólogos – diríamos – intimistas, Dostoiévski, em
suas “Notas do Subsolo”, nos proporciona questionamentos que vão muito além do
que queremos ouvir. Ele nos faz existir sob suas ideias por saber bem
arranjar-se sob as nossas e sob todos os tempos. Indigesto, no sentido sofrível
da percepção de nossas próprias falhas, Fiódor Dostoiévski (1821- 1881) vai
sendo provocativo em cada página virada.
Assim,
saindo do campo demagógico de dizer só o que agrada, o autor liberta-se em sua
ficção para dizer o que a neblina da sociedade tenta até hoje esconder pela
multidão: o indivíduo, o sujeito falho e mesclado de posturas intermitentes de
moral e amoralidades. Mesmo assim, como um leitor poderoso da alma humana, ele
consegue ir além. Consegue chegar até nossos dias, nossas nações, vai até
nossas casas e se farta pelo empréstimo de nossas vozes, já que hoje sua pátria
seria a Rússia, mesmo que os espaços transgridam – como dissemos – aos tempos e
às geografias. Sim, atestamos: ele ainda permanece aqui, basta abrirmos o livro.
Nessa obra (‘Notas do Subsolo’), O autor ultrapassa tudo isso, claro, pois vê o
humano nas linhas de suas atitudes e, como, obviamente, fazia parte dessa
humanidade, desalinhou-se nas linhas de sua escrita para deflagrar-se e fazer
com que percebamos algumas das nossas hipocrisias sociais. É certo, Dostoiévski
está aqui, porque todos somos objetos de seus olhares apurados, mesmo antes de
termos nascido. Uma previsão do que nos tornamos/tornaremos. Sim, somos homens
e homens podem ser lidos.
Quero
lembrar também que, entre muitas obras, esta da qual falamos, foi confiada a
mim por um amigo. Ele insistia em dizer tratar-se de um presente, mas considero
o ato de dar um Dostoiévsky mais do que isso, considero uma ponte que pode
ligar outros mundos, inclusive, fabricar novos.
Ainda
não esqueço à advertência que fez o colega e amigo Prof. Rodrigo Bartz ao
legar-me à obra. Reproduzo:
“Se
estiver deprimido, ele pode te deprimir ainda mais ao fazer de ti o próprio
inferno existencial. Sem solo, ficas tu sofrendo no subsolo das reflexões
dostoiévskianas.”
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