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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Uma carta para o futuro.

Vera Cruz, 11 de novembro de 1995.
Para o outro que serei.

Olá!
Hoje, depois de muita teima (não sou muito de escrever), resolvi que deves rabiscar esta carta. O motivo eu ainda não sei, pois não me restam grandes tempos para pensar em tamanho luxo, mas como sei que podes controlar meus dedos, evoco-me dentro de ti para que, só por agora, sejamos um: eu mais você, que é este de mim no futuro. Sim, estou em tuas mãos, escrevas o que te dito...
O negócio é o seguinte – vá me guiando aí –, não sei o que seremos no futuro, aqui de dentro só ouço você dizendo que ele (o futuro) não existe e que o hoje é que é o futuro de ontem – só que adivinhe! Sou a voz do passado voltando pra ti. O que me diz disso?
Por muito tempo ando a pensar em nós. Não sei como estás, ou serás, mas te calculei com 35, esse é o tempo que quero pra ti: 35 anos. No momento, dentro do que sou neste agora, tenho 15 anos. Estudo à noite e trabalho enfurnado o dia inteiro em uma fábrica de calçados. Cara, ando cansado! Espero que tu estejas melhor do que eu. Deves estar, notei que andas a acertar as falas que te mando. Veja só, eu falando como se soubesse de conjugações, e na segunda pessoa do singular: “tu falas...”, que chique, hem?! É, meu amigo, acho que escolhi o tempo certo para me acertar conosco! Contudo, (Viu? Nem usei gíria, obrigado Jano futurado!) nem quero saber o que fazes aí para não me afetares com o que já tens, mas acho que me evocas – agora eu sei – para que eu te lembre de quem tu foste, enquanto eu te evoquei para que nos melhores por aí, em 2014.
Jano, melhor pararmos por aqui, o trabalho me chama. Penso que já temos o suficiente e não quero te confundir mais. Notou que falas com um fantasma pelas tuas próprias mãos? O que quero é que seja o que és, mesmo que eu ainda não saiba o que somos por aí. Saiba: eu sou apenas um tijolo dentro de ti, porém (e há sempre um porém) não me tome por morto. Ouça-me, estou ainda aqui bem vivo em seu peito, só peço para que deixes os outros de nós falarmos também para que atentes a nossa construção e, acima de tudo, para que sejamos sempre uma multidão, que no momento se resume em ti.
Felicidades para nós!

Atenciosamente,

Jano Dias.

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