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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A CULPA É DOS PROFESSORES?

Assim como tudo que existe vai encontrando seu final, o ano também se fecha. Ópera longa e, para alguns críticos, pouco afinada. Nas escolas, lugar do ócio para alguns, os poetas redigiram seus conCertos, e os conSertos também. Só que o dito popular, neste caso, às vezes é imposto como razão de ser: “dança-se conforme a música.” Será? Bom, coincidência ou não, acabei recordando uma citação de Machado de Assis. O mestre escreveu o seguinte: “A vida é uma ópera, e uma grande ópera. Deus é o poeta; a música é de satanás.”. Leia-se assim: a escola busca organizar o poema para tentar acertar aquele ritmo torto e (des)harmônico que volta e meia vem de fora, de uma sociedade viciada pela lei do menor esforço. O que não nos surpreende quando, dias antes da formatura dos filhos, mães nervosas aparecem para tentar afinar a melodia que elas próprias deixaram de ajudar a calibrar ao decorrer dos ensaios de seu músico – e é preciso exercitar cada partitura antes de executá-la em público.  
Por outro lado – enquanto pai –, tenho medo de estar cometendo pecado ao tentar formar filhas que carregam a educação, a palavra e a inquietação intelectual como pauta a ser seguida pelas teclas de algum piano velho. Se o mundo não mudar, elas serão devoradas por uma plateia surda e cuja cultura é a da esperteza em repassar suas culpas para outros afinadores. Espero não estar preparando comida para Quimeras famintas. O que me faz lembrar um fragmento de uma das crônicas de Nelson Rodrigues: "Durante 40 mil anos, o pateta sabia-se pateta e como tal se comportava. Os melhores pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Mas em nosso tempo, e só em nosso tempo, os idiotas descobrem que estão em maior número. E, então, investidos da onipotência numérica, querem derrubar tudo. Diz o bom dr. Alceu que o grande acontecimento do século XX foi a Revolução Russa. Errou. Houve e continua uma outra muito maior, sim, muito mais profunda: – a Revolução dos Idiotas."
Infelizmente a citação é atualíssima, lamento muito, pois sou de um tempo em que passar de ano era sinônimo de trabalho e dedicação. Tempo em que (se reprovássemos) nossos pais cobravam de nós, não do professor. Passar ou não passar? Passarão? Passarinho? Bom, o que sei é que o gato sempre espera pelo jantar, assim como os bons ouvidos gostam de esperar uma sinfonia bonita. Exatamente como a Nona, elaborada a partir de um poema de Schiller e mestiçada à música de Beethoven. O que aconteceu nessa mistura? A ode à alegria, meus amigos!
Putz! Acho que estou ficando velho. Devia aceitar que a culpa é só do maestro, mais fácil. O que acham disso? A boca do gato, ou a Ode à alegria? Canta passarinho.

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