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domingo, 28 de junho de 2015

"MAIORINTERIORIDADE"

Os silêncios ficam mais bonitos no escuro.

Ontem à noite olhei para minha filha, a moça já está com dezesseis anos. Ela estava dormindo. Não sei se sonhava. Sou ignorante para sonhos – o sonho é um livro que ainda está por escrever-se. Sentei ao lado da cama e senti pesar ao refletir sobre as estradas que ainda não se fizeram. Baixei a cabeça, fechei os olhos e então desisti da ideia de pensá-la maior, desisti de tentar ‘futurar’ seus caminhos. Arrazoei, centrei-me nas pernas, na força que minha menina precisava concentrar nas pernas. Sim, sua grandeza precisa ser outra (pelo menos neste momento!), não aquela da tão falada maioridade, mas uma mais bela, a da “maiorinterioridade”.
‘Definitivamente, se ela não der certo’ – pensei – ‘a culpa será minha. Toda minha. Seus pés são meus pés. Meus passos devem ser medidos por conta das pegadas que ela, um dia, terá que dar. Sei que mais tarde seguirá sozinha, não de onde parei. Sua medida estará na profundidade das passadas que deixarei de herança’.
Pois é, a noite clareia alguns escuros que temos. Este foi um. Desse modo, resolvi movimentar os espíritos em direção ao escuro mais assombrado da atualidade: o da “maioridade penal”. Algumas pessoas, pouco mais indignadas, soltavam-se severamente em pequenos gritos perdidos pelas redes sociais, desejavam punição imediata aos menores infratores. ‘Dessabiam’ (exatamente como eu ‘dessei’) de sonhos. A diferença estava nos tons, nas linhas difíceis. Àquelas em que a cegueira nos impede de percorrer. Havia muito que se pensar nelas, porque ali moravam histórias bem maiores. Histórias tristes e cheias de raiva. Paixões que se perdiam em seus próprios riscados e se configurava novo em pisadas que, ao invés de esclarecer, confundia-os ainda mais pela ruela pouco iluminada da formação. Sim, social e intelectualmente, eles ainda estão se formando.
Não tomem meu raciocínio como se eu não soubesse dos crimes cometidos, das atrocidades... Disso tudo sabemos. Só quero que exijam mais de nossos ‘grandes’ (dos governantes), assim como podem cobrar de mim – caso minha pequena cometa alguma infração. Contudo, ainda antes de cobrar, sugiro que leiam atentamente o “Estatuto da Criança e do Adolescente”, também. Reflitam sobre a parte que compete a você, a mim. Precisamos primeiro alimentar nossas interioridades para darmos chance à mudança, do entorno, dos exteriores. Meninos precisam sonhar. Acordemos para isso.

Agora silêncio, os menores ainda dormem!  

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