Já
fui tantos que até perdi as contas, todos fomos, tanto os de mim quanto os que
habitam em ti. O problema é saber lidar com tamanha multidão, pois só o tolo vê
apenas uma pessoa, os que sabem (ou tentam) se ler, assustam-se por ter a
consciência de que faltam olhos para tanta gente que mora por detrás de cada sorriso.
Se há muitas verdades – ora bolas! –, também existem muitas maneiras de
sorrir. Até mesmo a tristeza sorri para
alguma coisa, mesmo não sendo nítido para a cegueira de nossa visão.
Ainda
ontem encontrei dois amigos queridos. Para dar exemplos do que falo, escrevo
sobre os dois. Foi assim. Há tempo não trocava um pensamento com eles, assim,
já que tinha que resolver algumas coisas na universidade onde estudei, resolvi
aguardar enquanto a Samara (este é o nome dela) também se resolvia com seu
projeto de Mestrado. Ali, bebendo meu café e esperando enquanto o cigarro me
fumava o tempo, aparece o Juliano, que já é bem “multidado” e cheio de um pouco
dos de si e dos de mim (quando conversamos com alguém em algum momento da vida,
acabamos nos deixando um pouco neles). Quando o vi logo pensei: “Que sorte! Vim
para ver aquela casa habitada, que é a Samara, e acabei encontrando outra
habitação.” E pronto, estávamos todos repletos. Três pessoas, aparentemente.
Magros, se olhassem de repente. Contudo, cada um carregando suas gorduras, suas
existências e uma satisfação bonita ao perceberem seus velhos amigos. Parece um
pensamento pequeno em meio a esta vida tão grande, esta gigante engolidora das
pequenas memórias.
Sobre
isso, penso assim: perceber o pequeno é saber vislumbrar o grande infinito do
ínfimo. Por exemplo, a aranha tece para afinar a corda 'sol' 'lá' com o 'si' de
'mi'(m). Os grilos 'violoncelam' concertos brilhantes de modo que iluminam a
grama toda junto às suas 'noturnações': produzem canções ‘desamarradoras’ de
'nós'. Já eu, o gigante 'poderoso', sou a desarmonia que não ata nem desata, um
ser incapaz de fiar uma música, ou acender um lume em meio ao escuro de algum
coração. Sem os amigos, sou só um estrangeiro na vida. Um alguém sem ninguém
para aguentar e carregar um pouco desses de mim, de nós. Ninguém deveria ser
como eu. Também seja você aquele que gostaria que estivesse por perto – e vai
saber se alguém desejaria de fato o queremos de nós... Estranho, ainda bem que
temos as diferenças para nos afinar: uma corda toca dó, a outra ré, mi, fá,
sol, lá, si, e seus interstícios! O que eu quero nem sempre é bom para você.
Acho que assim sai um pouco do gosto maniqueísta e amargo da "assertiva"
que se perde na solidão.
Enfim,
obrigado aos amigos por me trazerem à tona e ao tom, por me afinarem e por me
fazerem sentir novamente como uma multidão. Espero que a rotina não nos faça
rostos apagados na multidão. Se não assim, viramos memórias, flashes, resquícios,
fantasmas... É preciso, volta e meia, nos resgatar do chão. E resgatamos.
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