Outro dia, enquanto
passeava os dedos pela linha do tempo do Facebook, acabei cavando um buraco tão
fundo que quase não consegui retornar – nem eu sabia que tinha unhas tão
fortes. Tratava-se de algumas vozes indignadas, mais do que isso, horrorizadas
por conta de um beijo dado na estreia de uma novela das oito. As falas
transitavam entre “velhas malditas”, até o cúmulo do “vão para o inferno, deviam
estar em uma cadeira de rodas, como vou explicar isso para meus filhos?” Para a
primeira observação, posso garantir, são excelentes atrizes, a Fernanda
Montenegro, inclusive, recitando Simone de Beauvoir (uma revolucionária
escritora) é “bendita”, velha sim, é idosa, portanto sábia e cheia de vozes que
usa para nos encantar. Quanto à segunda parte, não, não acho que deveriam ir
para o inferno ou vegetar em uma cadeira de rodas, elas precisam fazer Arte,
sua missão é nos inquietar com a beleza que só elas podem produzir, precisam
andar, ainda existe muita estrada. Sorte terão nossos filhos se elas tiverem
força para continuar nos palcos a nos provocar algumas catarses.
Acho impressionante
quando um homem passa a agredir outra pessoa por conta de verdades tão primitivas
e medievais. Contudo, claro, o barbarismo sempre é mais fácil de ler, a História
está cheia disso. Sei que para reafirmar minha “macheza” e moral judaico-cristã
(vontade de poder ocidental), preciso negar o outro, repreendê-lo, humilhá-lo,
assim todos saberão que eu não sou como ele. Não, meus amigos, estão indignados
com as coisas erradas! Guerra, miséria, fome, isso sim são elementos tristes e
que merecem a nossa força e atitude máxima para sanar, mas condições sexuais?
Tenham dó. (notem que não uso a palavra “orientação”, pois não se orienta o que
é natural. Não somos orientados a beber água, temos sede e bebemos, é uma condição
para estarmos vivos, simples assim).
Vejam bem, pode ser cristão, budista,
espírita, ateu, só não pode ser chato nas críticas por conta de um beijo, seja
homo, seja heterossexual (beijo é beijo). Beijar não é ruim. Ruim é ocupar a
bancada do plenário e querer que voltemos diretinho para a escuridão da Idade
Média. Política partidária é uma coisa; política religiosa é outra. Isso já
deveria estar bem claro em um país dito laico. Enfim, posso até estar enganado,
mas duvido que o amor ofenda a algum deus.
Cuidemos com o que
estamos passando para nossos filhos. Terrorismo não parece ser uma boa ideia,
pelo menos não no século 21. Retroceder nunca!
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