Não acredito que ainda
associamos cerveja com mulheres. E pensar que tudo acontece naturalmente ali no
fundo de nossas cavernas. Basta uma poltrona, uma televisão e algumas sombras
manipuladas por seres de espíritos suínos. Assim é. Toda vez que um comercial
de bebidas interrompe uma programação, ali estão elas a desabilitar uma luta
que acontece já tem muito tempo. Quando uma pessoa se prontifica a se expor
desse jeito, ainda mais associando seu corpo ao prazer de uma bebedeira, é como
se a vida e a morte de tantas lutadoras ao longo dos últimos séculos não
tivesse sentido algum – como dizemos popularmente: Simone de Beauvoir teria se
revirado no túmulo.
08 de Março de 1857,
Nova Iorque. Mulheres do setor têxtil, cansadas de tanta exploração, resolveram
reivindicar. Indignados, os contrários à igualdade, decidem atear fogo na
fábrica matando uma enorme quantidade de pessoas. Ou seja, houve muitas mortes
e sofrimento para que meninas, hoje, pudessem nascer livres desse embaraço, uma
vez que a superioridade do homem era consenso na época.
Tudo bem, isso
aconteceu no século 19, não quero cometer atemporalidades, porém, pensando na
trajetória, não há como tolerar essa malandragem mercadológica que, a custos
altos, trazem de volta o barbarismo machista da exploração.
Desde meninos fomos
educados dentro de uma sociedade patriarcal. Ninguém, pelo menos os de meu
tempo, tinha a menor noção do desgaste que já ocorria nessas barras onde
mantínhamos encarceradas nossas próprias mães. Sim, indiretamente, como
homenzinhos, nos sentíamos os donos do mundo. Tanto que ao contrairmos o
matrimônio, até hoje, a tradição manda que elas devam “herdar” os nossos
sobrenomes. Comparem a situação: ao adquirirmos uma propriedade, a primeira
coisa a ser feita é passar o bem para o nosso nome. Ele nos pertence. Mas será
que é justo que isso se aplique às mulheres?
Bem, a esta altura do
texto muitos devem estar se perguntando: “Verdade, não tinha pensado nisso!”.
Contudo, logo esquecerão e continuarão a dar ibope a esses comerciaizinhos
pouco criativos e de péssimo gosto. Se continuarmos com isso, temo por minhas
filhas, elas não são babas para estarem nas bocas de bêbados que ainda pensam
estar no século passado. É preciso olhares mais atentos e críticos para isso!
Estamos no século 21, já. Não podemos regredir.
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