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sábado, 16 de maio de 2015

O VELHO E O MAR

Outro dia peguei um peixão daqueles. Fascinado com a literatura de Hemingway, após ter lido “O sol também se levanta”, busquei me informar, naveguei pelos seus mares e descobri esse “espadarte”. O mundo nos prepara para coisas grandes assim, o auge de uma vida inteira. Auge que, dependendo dos olhos, é pequeno, menor. Como disse o poeta: “menor, menor, menor, Enorme.” Pois é, faço trinta e seis anos nos próximos dias. Confesso que já pesquei muito peixe bonito e grande. Contudo, me parece, os outros serviram foi de isca para esse monumental espadachim que encontrei por acaso neste meu oceano. Precisei envelhecer para entender, maturar esta ocasião.
Falo da obra “O velho e o mar”, de Ernets Hemingway, tal como citei acima. Parece uma história de pescador, mas só que não. Ela esconde em suas entranhas uma vida inteira que nos vaza exatamente a linha que escorreu pelas mãos calejadas e já cansadas de um senhor que recebeu a fama de azarão – pobre, ele não havia pescado nada durante muitas idas ao mar. Sendo assim, paro e reflito como ele refletiu. Acompanhem:
"As aves têm uma vida mais dura do que a nossa, excetuando as aves de rapina e as mais fortes. Por que existiriam aves tão delicadas e tão frágeis, como as andorinhas-do-mar, se o mar pode ser tão violento e cruel? O mar é generoso e belo. Mas pode tornar-se tão cruel e tão rapidamente, que aves assim, que voam mergulhando no mar e caçando com suas fracas e tristes vozes, são demasiado frágeis para enfrentá-lo."
Para mim, caro leitor, este é o resumo de toda uma jornada. O mar é a vida, a fragilidade e a necessidade nos faz buscar peixes em suas águas conturbadas – profundezas perigosas para pássaros mais frágeis. Tubarões sempre se aproximarão pelo cheiro de sangue de uma bela luta. Tudo para nos abocanhar um pouco do pescado. Aves de rapina também se sobressairão dando mordiscadas e nos espantando dos melhores cardumes. Quando isso acontece, é bom que estejamos – pelo menos em sonho – navegando pela costa da África. Ali, seguros, poderemos observar os leões na praia, seres magníficos e distantes. Sorte não ser preciso travar nenhuma luta com a lua e com os leões. Olhamos à distância e nos alimentamos sem enfrentá-los.
Discordando um pouco, não, nem todo o velho sabe pescar. Alguns se deslumbram tanto que sua sabedoria acaba idolatrando, não o que pescou, mas os tubarões que atraiu.
Explico melhor: ontem à noite minha filha veio tristonha com a seguinte informação: “Pai, a avó de uma amiga minha não quer mais que eu converse com ela. Disse que agora minha ex-colega estuda em escola particular e que não deve manter amizade com gente como nós, os da pública”. “Filha, sonhe com seus próprios leões, use os peixinhos para se alimentar e para servir de iscas para peixes maiores. O mar é grande dentro de ti, navegue. Observe a sabedoria dos pássaros menores e repudie o egoísmo de uma ave maior, ou de algum tubarão sedento de poder. Saiba que o oceano que carrega nas entranhas é maior que tudo isso. Ele pode os afundar ou se revoltar contra ti mesma. Não o deixe nervoso. Esqueça isso. Ainda encontrará outras ‘rapinações’ nesse marzão. Mantenha as linhas firmes, mesmo que te rasguem as mãos. Pegue seu peixão. Boa noite!”

E fomos dormir. Ambos sonhamos com nossos próprios leões... 

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