Outro dia peguei um
peixão daqueles. Fascinado com a literatura de Hemingway, após ter lido “O sol
também se levanta”, busquei me informar, naveguei pelos seus mares e descobri
esse “espadarte”. O mundo nos prepara para coisas grandes assim, o auge de uma
vida inteira. Auge que, dependendo dos olhos, é pequeno, menor. Como disse o
poeta: “menor, menor, menor, Enorme.” Pois é, faço trinta e seis anos nos
próximos dias. Confesso que já pesquei muito peixe bonito e grande. Contudo, me
parece, os outros serviram foi de isca para esse monumental espadachim que
encontrei por acaso neste meu oceano. Precisei envelhecer para entender,
maturar esta ocasião.
Falo da obra “O velho e
o mar”, de Ernets Hemingway, tal como citei acima. Parece uma história de
pescador, mas só que não. Ela esconde em suas entranhas uma vida inteira que nos
vaza exatamente a linha que escorreu pelas mãos calejadas e já cansadas de um
senhor que recebeu a fama de azarão – pobre, ele não havia pescado nada durante muitas idas ao mar. Sendo assim, paro e reflito como ele
refletiu. Acompanhem:
"As aves têm uma
vida mais dura do que a nossa, excetuando as aves de rapina e as mais fortes.
Por que existiriam aves tão delicadas e tão frágeis, como as andorinhas-do-mar,
se o mar pode ser tão violento e cruel? O mar é generoso e belo. Mas pode tornar-se
tão cruel e tão rapidamente, que aves assim, que voam mergulhando no mar e
caçando com suas fracas e tristes vozes, são demasiado frágeis para
enfrentá-lo."
Para mim, caro leitor,
este é o resumo de toda uma jornada. O mar é a vida, a fragilidade e a
necessidade nos faz buscar peixes em suas águas conturbadas – profundezas
perigosas para pássaros mais frágeis. Tubarões sempre se aproximarão pelo
cheiro de sangue de uma bela luta. Tudo para nos abocanhar um pouco do pescado.
Aves de rapina também se sobressairão dando mordiscadas e nos espantando dos
melhores cardumes. Quando isso acontece, é bom que estejamos – pelo menos em
sonho – navegando pela costa da África. Ali, seguros, poderemos observar os leões
na praia, seres magníficos e distantes. Sorte não ser preciso travar nenhuma
luta com a lua e com os leões. Olhamos à distância e nos alimentamos sem enfrentá-los.
Discordando um pouco, não,
nem todo o velho sabe pescar. Alguns se deslumbram tanto que sua sabedoria
acaba idolatrando, não o que pescou, mas os tubarões que atraiu.
Explico melhor: ontem à
noite minha filha veio tristonha com a seguinte informação: “Pai, a avó de uma
amiga minha não quer mais que eu converse com ela. Disse que agora minha
ex-colega estuda em escola particular e que não deve manter amizade com gente
como nós, os da pública”. “Filha, sonhe com seus próprios leões, use os
peixinhos para se alimentar e para servir de iscas para peixes maiores. O mar é
grande dentro de ti, navegue. Observe a sabedoria dos pássaros menores e
repudie o egoísmo de uma ave maior, ou de algum tubarão sedento de poder. Saiba
que o oceano que carrega nas entranhas é maior que tudo isso. Ele pode os
afundar ou se revoltar contra ti mesma. Não o deixe nervoso. Esqueça isso.
Ainda encontrará outras ‘rapinações’ nesse marzão. Mantenha as linhas firmes,
mesmo que te rasguem as mãos. Pegue seu peixão. Boa noite!”
E fomos dormir. Ambos
sonhamos com nossos próprios leões...
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