Sempre quis mudar o mundo, mas não podia. Complicado. Por
isso li bastante para modificar ao menos a minha percepção sobre ele. Baixei a
cabeça por longos anos e me atrevi em inúmeras tentativas que só sabiam encher
a vida de funduras. E nada. A leitura – acreditem – me deixou ainda mais
inquieto, um cavador de buracos. Nossa! Precisava voltar, falar sobre o que se
passava ali, nas interioridades. No peito, tudo estava complexo demais. A voz
deixava de ser clara. Preocupado com isso, tive que
me reestudar. Fui investigando a mim mesmo e de como poderia ser a mudança que
tanto desejava acender. Quando notei naqueles outros da rua, um outro que não
podia mais ser eu: um ‘lonjurado’ intricado e solitário (igualzinho a este
texto). Sim, precisei mudar o foco para poder ver diferente, para permitir que
os tempos (ora mais gordos, ora mais magros, enfim) se desenhassem de maneiras
distintas dentro de mim.
Meus dias passaram a se manifestar menos duros,
desde então. Estava funcionando. Senti que poderia brincar com eles e com algumas
vontades que, por fim, acabaram me deixando grávido de uma mudança necessária.
Foi rápido, já estava passando da hora de dar à luz. Doía muito. Não dava mais
para esperar. Peguei o bisturi e decidi pela ‘auto-cesariana’...: “Preciso de
aaaaaaaaar!” – gritou aquele recém-nascido. Putz! Daí entendi perfeitamente o
que tinha que fazer: um parteiro de vozes, era isso. Bom, acho que renasci
junto com esse entendimento!
Elástico, esta é a palavra que estava
procurando. Cada um dos “dentros” espicha-se para fora. Bom, amigos, sabemos
que nem sempre dá, mas quando nos alongamos juntos, o exercício acaba por nos
levar mais longe. Aprendi com isso que o mundo pode ser esticado sim, basta
cada um fazer a sua parte e se puxar.
Sei
também que não é fácil ser um esticador, um parteiro de vozes. Por isso é que
no repuxo procuro avivar as palavras escritas, na reescrita – gosto dessa
modalidade. Outro dia até escrevi as cinco verdade coletadas ao longo de minha
experiência nas ‘escrevinhanças’, pois todo o cidadão – acredito nisso –
precisa se colocar audível perante a sociedade. Nesse aspecto a ideia escrita
recebe muito mais crédito do que a falada – espicha-se mais. Ela não se perde.
Busca o mundo. Ganha ouvidos e retorna.
Enfim, encontrei minha missão. Chato? Muito.
Crítico? Demasiado crítico. Amante desse tipo de trabalho? Profundamente, já
que aprendi a clarear os escuros dos outros dando luz aos meus. Sim, só sei
existir desse jeito, meio fora, meio dentro, um mestiço no mundo, de mundos que
se misturam e são mestiçados também.
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