Vivemos numa repetição
constante de valores que já deveriam ter se colorido. É certo, de um lado pessoas
de cor ainda pagam as contas das vidas roubadas que, historicamente, assolaram
a existência de seus antepassados; de outro, os herdeiros (dos donos dos
primeiros) que usufruem de suas raízes ‘aceitáveis’ pela ‘invenção de padrões’
que eles mesmos estabeleceram. Não acredita? Visite as fotos de alguma página
social, ou averigue setores entendidos como “elites”, em nossa região. Contrário
a esse tipo de atraso, confesso que não sei se há necessidade de reconstruirmos
outras bandeiras por aqui, pois não somos Alemanha, não somos África, não somos
Itália... Nascendo no Brasil, o que somos então?
Acompanhem comigo. Imagine
que se ao invés de decorarmos nossas cidades com manifestações “neogermânicas”
e saudosistas, fizéssemos o mesmo com as da Angola? Chato, não? Saiba você que
mais da metade de nosso país é constituído por pessoas negras. É preciso
encarar seriamente este fato. Estamos na América, e para a vergonha geral, no
último país do mundo que aboliu a escravidão. Pensando nisso, é bem triste dar
de cara com tanta divisão. Penoso constatar, no auge de um tempo “bem
informado”, que a coloração da pele ainda importa por aqui. Um bom exemplo
disso são as Escolas: em um extremo, o arco-íris étnico (as públicas); no
outro, uma pequena Europa (as particulares), ambas congeladas em prol de
atrasos, bem como desenvolvimentos pensados para contribuem a um eterno retorno
social, ou seja: “eu serei tua mão-de-obra”; “tu serás o meu chefe, o meu Sinhozinho!”
– eis a hegemonia que mais parece uma moderna versão de Casa Grande & Senzala.
Ah! como é difícil ter
que ouvir de alguém. “Fiz Senai, estou me puxando nos estudos, mas parece que, ao me verem, tudo vai por água a baixo, me
é negado o emprego.” Olho para a pessoa e constato o que o leitor já previu:
trata-se de um ser negro ou mestiço. E como dói ter que responder sempre a
mesma coisa: “Amigo, sabe por que pedem sua foto anexada ao currículo? Nossa
mentalidade congelou no século 19”.
O que me faz recordar
de uma bela reportagem escrita pela excelente jornalista Heloisa Corrêa, no
jornal Gazeta do Sul (quarta-feira 10/11/2015, p. 4). Era sobre uma menina que
ganhou um concurso de beleza e que sofreu com comentários, no mínimo, criminoso
por conta de sua cor. Mais uma prova de que devemos ler muito, sobretudo às
lavras de jornalistas bem informados e que nos presenteiam com denúncias lúcidas
e equilibradas. Precisamos evoluir, gente! Vamos tirar os véus. Abramos os
olhos. Leiam.
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