Ainda ontem conversava
com meu espelho: “Modernismo, texto dissertativo-argumentativo, verbos dissentis,
Romantismo, objetos direto e indireto...”. Até que no processo acabei me esquecendo
de pentear os cabelos. Putz! Agora eu lembro, era isso que fui fazer. Enfim, caminhei
pela casa e – descabelado mesmo – pensei: “Vou trabalhar a linguagem num poema
de Oswald de Andrade!” Sentei e pus-me a procurar. Acabei esbarrando numa
gramática. Olhei o que havia nela. Passei para outro livro... “Ah, é este! Vem
pra cá Simões Lopes Neto!” Pronto, folhei. Reli um dos contos e, novamente, me
emocionei com ele. “Como está diferente da última vez!” Abri o computador e
escrevi (sou desses professores que gastam a vida escrevendo). ‘Boi velho’ foi
minha escolha. Pronto, pude pensar melhor nos dois – no que leu e no que releu
– ambos eu mesmo. Mas e as aulas? Precisava pensar mais. Onde foi que parei? Já
sei... Mas o Guimarães Rosa me levou para outro lado. Prorroguei. A
peregrinação me fez assim, fiquei com os dois. Pronto, devem bastar. Escrevi
mais um texto, queria provar que dava mesmo. Tomei um banho (sem tirar da
cabeça as aulas que precisava dar) e fui. Só que tive que voltar. Sim,
esqueci-me de pentear os cabelos outra vez. “Droga, nem tomei café. Deixa pra
lá! Vou pôr o chapéu.”
“Bom dia!” Nada. Quem
não ‘barulhava’ ‘barulhava-se’ com um fone de ouvidos enfeitando as orelhas. Olhei
para o lado, um menino de costas. Para o outro, uma menina braba por conta do
último sermão. “Chamada!” Esperei uns minutos. E lá se foram quinze outros até
tudo se estabilizar, pelo menos relativamente. “Guarda o celular, rapaz!” E
mais beiços. Cultivei novos ranços ao ter que elevar a voz. Prossegui. Afinal,
tinha muito a falar (Desejaria ouvir, claro! Quem dera!). Olhei para o relógio
e percebi que aquilo tudo devorou o tempo que tínhamos. Bom, até que não foi de
todo mal. O dia passou muito mais rápido do que eu havia previsto. Um novo carpe diem exigia sua vez. E lá estava
eu de fronte ao espelho novamente...
‘Não trabalha.
Professor não trabalha!’ Mínima que já virou máxima entre os clichés mais
utilizados no Brasil. Se concordo? Amigos, neste exato momento estou pensando numa
possível aula, a coisa não nos abandona! Por isso não me impressiona quando, de
outro canto, alguém afirma ser esta uma profissão de fé, de esforço. Sou feliz
nessa vida? Óbvio que sim. Contudo, o desafio diário nos envelhece. Há pouco
retorno. Dos muitos, poucos salvamos. Acho que estar aposentado é isso: passear
na rua e observar os que deram e os que não deram certo. E talvez, só talvez o
tempo possa nos dizer se aquilo tudo valeu a pena – e geralmente valem.
Acredito nisso.
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