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terça-feira, 17 de novembro de 2015

UM GATO NO FORMIGUEIRO

Não é segredo, todos sabem que gosto de bichanos. Encontro sempre um silêncio pouco mais afinado ao lado de alguns deles – são mestres nesse tipo de afinação. Houve um tempo em que até minhas leituras não se completavam sem ter um amigo desses por perto, acostumei-me com seus ronrons. Sem eles acabo existindo menos e ‘desengordando’ vontades maluquinhas por acontecerem maiores. Exatamente por isso resolvi pôr o nome de minha primeira ‘afinadora’, de Sofia (sabedoria, em grego). Preciso explicar o motivo? Enfim, aprendi com ela a ser eterno, pois, ignorante à brevidade da vida, andava pelo mundo como se pudesse viver para sempre, e podia mesmo. Diferente de outros animais (os que chamamos tão orgulhosamente de irracionais), nós é que gastamos boa parte dos dias pensando e nos preparando para o fim: à morte.
Nesse caso, chutar a bola sempre para frente nos coloca em uma posição delicada, se comparado aos ‘de-sete-vidas’. Acreditamos em platonismos, ‘depois’ e ‘aléns’. Acabamos, de maneira inevitável, nos esquecendo dos ‘agoras’ e de que o hoje é que é o futuro de ontem. Em outras palavras, estarmos cientes de que nossos corpos têm prazos de validade vai nos tornando breves e incapazes de aproveitarmos integralmente um belo carpe diem. É isso: saber que vai morrer não é o mesmo que saber que precisa viver. Observe os felinos, os cães, os pássaros...
Visto isso, preciso contar sobre o dia em que, pela primeira vez, vi um gato implorar por sua própria vida. Estávamos eu e minha filha, a Caroline. Do carro ela avistou um montinho amarelo sobre um formigueiro. Andei pouco mais devagar e constatamos ser um gatinho debatendo-se, ao mesmo tempo em que era devorado pelas formigas. Na calçada, perto do filhote, um homem mais velho ria daquele desespero – havíamos encontrado o culpado. Paramos e pegamos o bicho (não o velho, refiro-me ao gato). Levamos para casa, demos banho e colocamos remédio em suas ‘carnes-vivas’. Era fêmea, recém-nascida e estava bem fraca. Sendo assim, fomos alimentando-a com a ajuda de mamadeiras e improvisos, enfim. E isso faz uns dois anos. Como ela se chama? Ah! Maria de Lurdes (a Malu). O nome provém de uma personagem criada pela escritora Talita Rebolças, obra que minha outra filha estava lendo naquele momento.
Bom, o tempo passou. Hoje, de tão faceira, a chamamos, também, de Maluca, uma vez que não se preocupa mais com os sadismos de ‘bons cristãos’. Reaprendeu a se eternizar, mesmo que alguns hematomas nos lembrem do contrário.  Quanto a ela? Deve nem saber daquela pequena morte, acho que esqueceu! É o que espero!

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