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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

OS SUBSTANTIVOS E SEUS GRILOS

Comuns, próprios, concretos, abstratos, simples, compostos, primitivos, derivados e coletivos. Enfim, eis os substantivos.
Pois então. Na grama da gramática o grilo é visto como COMUM. Só que no meu quintal, de preferência à noite, eles (os próprios grilos) não acham isso não. Acreditam que – pela força de sua música – a Lua só aparece mesmo é para vê-los ‘violoncelar’. Não sabem que as serras que levam nas perninhas servem é para repartir o tempo em dois: o dia e a noite. Mas e se eu nomeasse cada um deles e chamasse um de Zé, outro de Joseph – que é José em alemão – e continuasse o batismo até o infinito de meu gramado? Eles seriam PRÓPRIOS, então? Não fariam mais parte daquele conjunto comum “de-chama-Lua”? Daquela orquestra de violoncelos da tardezinha? Ah, sim! Na certa que teriam habilitação para existirem sozinhos. Será que seguiriam carreiras solo? Bom, e por que não? 
Outro dia um menino desses (vou chamá-lo aqui de Bach) pulou sobre minha janela. Rápido, concentrei a mão em concha e o prendi entre o vão e a palma. Fazia cócegas. Parecia tão CONCRETO... “Sim, eles sempre me tocam com suas melodias.” – pensei – “Hoje fui eu que toquei um.” Sei bem que suas “nãoezas” comuns precisavam partir. Não queria que se transformasse em completa “saudade” de seus irmãos, daí viraria ABSTRATO, como suas canções. Sabe, acho que não deveria ter-lhe dado nome! Soltei-o. Vai Bach, volte a tocar com teus companheiros.
Atente a isso. Os grilos, quando o céu está arejado por estrelas, também fazem o papel de “chuva”, que é um substantivo SIMPLES, “e é preciso ser muito bom para ser simples, guri!” – já dizia meu pai. E eles são mesmo. Inclusive, na falta daquele chuvisqueiro que nos ajuda a pegar no sono, nos vêm como suprimento e continuam conjugando o que ninguém mais pode conjugar, ou muito menos guardar: o verbo chover. Sim, eles chovem para acariciar nossos ouvidos. Nossa! E para isso nem se importam em tornarem-se COMPOSTOS. De grilos passam a “guarda-chuvas”, “guarda-noites”, “guarda-sonhos”... “Maestros” DERIVADOS do PRIMITIVO “mestre” que, em algum canto, deve morar em meu gramado.
Sabendo de tudo isso, difícil é concluir o que seria o exato COLETIVO de grilo. Não, não encontrei, mas como os considero estrelas da boa música posso chamá-los tranquilamente de “constelação” ou “rebanho”. Por que rebanho? Ora, nem tudo são flores e concertos, há dias em que dá para ouvir quando a Noite resolve pastoreá-los – rebanho bem difícil de organizar. Mas como não sou pastor concentro-me nos dias bons. 

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