Comuns, próprios, concretos, abstratos, simples,
compostos, primitivos, derivados e coletivos. Enfim, eis os substantivos.
Pois então. Na grama da gramática o grilo é visto
como COMUM. Só que no meu quintal, de preferência à noite, eles (os próprios
grilos) não acham isso não. Acreditam que – pela força de sua música – a Lua só
aparece mesmo é para vê-los ‘violoncelar’. Não sabem que as serras que levam
nas perninhas servem é para repartir o tempo em dois: o dia e a noite. Mas e se
eu nomeasse cada um deles e chamasse um de Zé, outro de Joseph – que é José em
alemão – e continuasse o batismo até o infinito de meu gramado? Eles seriam
PRÓPRIOS, então? Não fariam mais parte daquele conjunto comum “de-chama-Lua”?
Daquela orquestra de violoncelos da tardezinha? Ah, sim! Na certa que teriam
habilitação para existirem sozinhos. Será que seguiriam carreiras solo? Bom, e
por que não?
Outro dia um menino desses (vou chamá-lo aqui de
Bach) pulou sobre minha janela. Rápido, concentrei a mão em concha e o prendi
entre o vão e a palma. Fazia cócegas. Parecia tão CONCRETO... “Sim, eles sempre
me tocam com suas melodias.” – pensei – “Hoje fui eu que toquei um.” Sei bem que
suas “nãoezas” comuns precisavam partir. Não queria que se transformasse em
completa “saudade” de seus irmãos, daí viraria ABSTRATO, como suas canções. Sabe,
acho que não deveria ter-lhe dado nome! Soltei-o. Vai Bach, volte a tocar com teus
companheiros.
Atente a isso. Os grilos, quando o céu está arejado
por estrelas, também fazem o papel de “chuva”, que é um substantivo SIMPLES, “e
é preciso ser muito bom para ser simples, guri!” – já dizia meu pai. E eles são
mesmo. Inclusive, na falta daquele chuvisqueiro que nos ajuda a pegar no sono,
nos vêm como suprimento e continuam conjugando o que ninguém mais pode conjugar,
ou muito menos guardar: o verbo chover. Sim, eles chovem para acariciar nossos
ouvidos. Nossa! E para isso nem se importam em tornarem-se COMPOSTOS. De grilos
passam a “guarda-chuvas”, “guarda-noites”, “guarda-sonhos”... “Maestros”
DERIVADOS do PRIMITIVO “mestre” que, em algum canto, deve morar em meu gramado.
Sabendo de tudo isso, difícil é concluir o que seria
o exato COLETIVO de grilo. Não, não encontrei, mas como os considero estrelas
da boa música posso chamá-los tranquilamente de “constelação” ou “rebanho”. Por
que rebanho? Ora, nem tudo são flores e concertos, há dias em que dá para ouvir
quando a Noite resolve pastoreá-los – rebanho bem difícil de organizar. Mas
como não sou pastor concentro-me nos dias bons.
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