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terça-feira, 22 de março de 2016

O AMOR NÃO RESPEITA A MORTE...

Amei uma gata. Digo no sentido literal, uma gata mesmo. Pode até ser que algumas pessoas leiam estas linhas com olhos esquivos e zombeteiros. Entendo todas, só não me peçam para compreender. Para isso preciso me esquecer do que vivi e ser um pouco frio ao enxergar como piada esta situação. Ando cego para esse tipo de visão. As memórias não me deixam te acompanhar nisso. Desculpem!
Como posso? Basta que eu levante a cabeça para dar de cara com uma fotografia. Ela não esconde somente um momento, o desenho implode-se até um “não-mais-ser” que só volta a ser nos pensamentos de quem ficou aqui a explodir tanta saudades redondas. É como se jogássemos uma pedrinha num lago calminho. Os círculos vão crescendo e fazendo florescer boa parte do que estava quieto. Quando isso acontece conosco, inevitavelmente, o peito se esvazia de tanto estar cheio, mesmo que dentro da gente ele aconteça ao contrário: ao invés das ondas arredondarem-se para longe, elas vêm abraçando o coração até sufocá-lo todinho naquele silêncio de “pedra-jogada-no-lago”.
Enquanto escrevo, meus amigos, os dedos é que enxergam por mim. Acompanham o que dito num dedilhar de pouca música, mas de muita tristeza. Faz dois anos que congelei naquela foto uma amiga que veio ao mundo só para ler Mia Couto comigo. Pretensão? Não. Só quem esteve perto pode confirmar isso. Contar sobre as longas noites em que passamos nos clareando nas leituras desse autor que carrega o Mia de gato. Coincidência gostarmos tanto dele. Por isso não explico o gosto que nos fez existir. Acho que só existimos, e pronto. Tinha que ser.
Ah! quando ela morreu, logo após ter me deixado seguro em minha defesa de Mestrado, passei umas duas semanas sem conseguir decifrar ao menos uma linha. Havia desaprendido a ler sozinho, esqueci um pouco da vida para também morrer um pouquinho. Entretanto, intencionando trapacear a morte (Sísifo foi o primeiro), mandei imprimir uma fotografia dela. No início rolei uma pedrona para o alto de uma montanha. Contudo, o tempo foi fazendo com que o fardo fosse se tornando mais leve, até finalmente poder retomar minhas leituras. Sarei, mesmo que às vezes a saudade me aperte um pouco as costelas. Mestre eu? Não, amigos, a Mestre foi embora quando sentiu que os espíritos haviam se afinado em mim. Eu disse Mestre? Quis dizer Maestrina, aquela que soube reger uma orquestra inteira num conserto bem concertado.
Enfim, agora já podem rir, pois sim, amo uma gata (a Sofia). No presente mesmo, uma vez que esse amor não respeita nem mesmo a morte. Engraçado, não é?! 

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