Não, ninguém é culpado pela riqueza econômica
engordada à custa do racismo de nossos ancestrais, mas alguns dos de nós ainda
usufruem dele. Continuam marcando ponto na história para conservarem-se no luxo
do que começou a sangrar lá atrás. Hoje, por exemplo, sendo em média 51% de
cidadãos negros no Brasil, só uma minoria dessa maioria consegue colorir cargos
importantes ou mesmo bancos particulares de ensino, sobretudo em nossa região
(para um bom observador, percebe-se um pequeno apartheid, sempre veementemente
negado, claro). Estou mentindo? Observem. Percebam, sintam os motivos de minha
inquietação.
Explico mais: historicamente estamos às margens, na
periferia da sociedade autoproclamada “bem-de-vida”. Mas os ventos tortos que
nos censuram os caminhos – acreditem! – não podem desnortear nossos espíritos,
eles são como velas altas e confeccionadas para serem resistentes e coloridas.
Ah, e sim! Não se preocupem, sabemos muito bem ajustá-las para seguirmos
‘marujando’ por este marzão turbulento junto com vocês, os deuses da sociedade
pequeno-burguesa. Netuno não subestimou Ulisses? Polifemo não ousou prendê-lo
numa caverna? Pois o gigante ciclope enfrentado por nós (o que é engraçado)
cega-se diariamente no pensamento pontiagudo de que somos “Ninguéns”. Digo bem,
no plural mesmo, já que há muitos Ulisses dentro desta nau: além dos
professores, alunos e comunidade, temos mais “Alguns” – os heróis do Pibid e
outros de seus irmãos. Pois é. Acho que logo chegaremos a Ítaca (aqui
representada como dignidade!).
Ingênuo, eu? Ah, meus caros! Ingenuidade é perceber
uma capa de chuva que se descobre no outro, e na ânsia de ajeitá-la,
encharcar-se todo, já que ambos pensam ser este o nosso dever. Depois é só
curtir uma gripe solitária e oblíqua! Doença que causa conforto a quem ficou
seco. Pena. Em lugares pouco mais civilizados isso ganharia o nome de educação,
lonjuras onde as vias são todas de mão dupla. E garanto que todos os
profissionais do ensino, juntamente a outros movimentos importantes, como o
Pibid, fazem com que nos lembremos de que já ficamos tempo demais na chuva, ou
nas abas do mundo. É hora de nos levantarmos, irmãos. Chega de aguardar até que
o tempo melhore, ajustemos nossas capas e sigamos a vida sem precisar nos
molhar tanto. A educação existe para que sejamos iguais. Basta de
determinismos. Na dúvida, vá nos ajudar nas escolas públicas e melhore o mundo,
ponha cor nele, assim como fazem cada um de nossos ‘pibidianos’... Morrendo? Não,
não podemos permitir que morram, pois o sinônimo de Pibid é esperança. Deixe-os
sair da caixa, Pandora. Deixa...
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