Olá! Neste momento eu deveria estar descansando.
Sim, às vezes sossegamos dos desassossegos. Só que não sei mais fazer isso, ao
menos não com tanta frequência. O que sempre me tira do que preciso ser são
coisas que não são coisas por serem essenciais. Te conto se tiver paciência para
mim. Senta aí! Sentou? Então tá!
Bom, antes de resolver conversar contigo (observe
como sou pretensioso), estive corrigindo um texto belíssimo de uma aluna que
anda me procurando para se encontrar dentro de seus escritos. Depois,
satisfeito e revirando meu armário de livros, encontrei o velho Machado de
Assis. Pois é, normalmente, não dá para ignorá-lo – eu falei ‘normalmente’?
Enfim, se for um leitor atento, perceberá que uso do mesmo recurso dele, a
metalinguagem, ou como dizem hoje em dia: quebrando a quarta parede.
Influenciado, claro, decidi sair um pouco de mim para poder ter uma conversa
franca e pouco mais próxima de ti. Espero não estar te chateando. Culpa da
menina e do Machado, cobrem deles. Contudo, como uma coisa leva a outra, ao
olhar um pouco para o passado, pensei no seguinte: “Por que a vida não obedece
à mesma lógica da literatura? Tudo nela é tão certinha, menos a kafkiana, não
mesmo. Talvez o mundo seja tão absurdo quanto. Será isso?”
Enfim, esse pensamento me veio ainda agorinha pela
janela (perceba, a vida é um pouco como este desabafo, um pouco lá, um pouco
aqui, um pouco fugido). Mia Couto tinha mesmo razão, além de ela (a janela)
sentir vontade de ser mundo, ainda quer explorar os meus, escapar com eles. Nesse
embaraço ‘enjanelado’, juro ter ouvido nitidamente ali de fora as vozes da
infância: “Quico, vem cá!” – uma dizia. “Quico, sua mãe está? – outra.” Fechei
a janela, isso dá um pouco de medo, confesso.
Amigo de meus vazios, mesmo que não saiba de mim, conto
um pouco sobre a razão pelo qual a janela e o tempo nos fazem esquecer às bolas
redondas. Fique atento, pois explicarei tudinho a você e aos que nem sabem que
sabem sobre suas próprias criações. Arredondemos estas bolas:
Desconheço pessoas que nunca assistiram ao programa
do ‘Chaves’. A série de televisão é antiga e teve uma bela repercussão em meus
anos de criança. No entanto, para que entenda, trago à tona um personagem, o
Quico. Já conjugou o verbo quicar? Eu quico a bola. Tu quicas a bola. Ele quica
a bola. Nós quicamos a bola. Ele quicou a bola... Pois então. Quando menino,
por conta de receber atenções especiais de minha mãe – digamos assim. Recebi o
apelido de Quico. No início era para ironizar o que elas deixavam faltar aos
seus próprios filhos (carinho); depois, esquecido por todos, o epíteto acabou
se instalando e, quadrado, foi fazendo parte de minha molequice. Inclusive, há
pessoas mais velhas (algumas já mortas) que acho que nem sabiam que me chamo Dilso.
Porém – ainda bem –, a crueldade de alguns foi dividida. Havia a Quica também,
minha prima. Ai, amigo, como hoje isso me parece tolo, engraçado e, na mesma
proporção, triste! Sorte que estudei onomástica e, hoje, posso refletir melhor
sobre essas besteiras! (risos).
Está com pressa? Fique mais um pouco, tenho tanto
pra te contar. Não dá? Tudo bem. Dias desses mostro a você que o mundo não
gira, ele quica na ilógica falta de senso de uma bola quadrada de tantos
inventores de Quicos que já quicaram na vida por serem malvados...
Bem, já falei demais. Agora te deixo em paz. Até
mais, amigão!
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