Se não gosto. Não me ocupo. Não me gasto. Evito ao
máximo.
Esses são os principais fundamentos para que algumas
úlceras se mantenham distantes de nós. Porém, mesmo correndo riscos, devemos
sim (quando necessário) interferir, inferir. Gostar é outra coisa, temos esse
direito. Refiro-me à política. Ao comprometimento com o trabalho. À sociedade. Evitar
o que é de nossa responsabilidade é a maneira mais hipócrita de assumir uma
culpa que, ironicamente, vamos sempre negar, jogar aos outros.
Pois é. Em curto prazo, conservar-se sossegado
parece até bom, isso qualquer um admite. Mas esse conforto esconde algo muito
perverso. Quando não fazemos nada (mesmo podendo fazer) jogamos para o colo dos
outros todo peso que, de nossa parte, nos cabe aliviar. Perceba que nesse caso
a indiferença é sim o contrário do amor (veja bem! Aqui o ódio é até inocente),
pois quando não queremos nos incomodar/ desassossegar é inevitável que alguém
pague sozinho pelo prejuízo – estrago que em alguns casos chega a ser
irreparável e – por que não dizer? – cruel. Verdade, somos responsáveis por
muitas úlceras alheias quando cruzamos os braços. Pense nisso.
Também venho reparando que as pessoas não se dão
conta disso. Politicar quando na verdade se deveria trabalhar, nem sempre é a
melhor solução para o conjunto do qual fazemos parte. Isso só é bom para o
politiqueiro (e não estou falando somente dos partidaristas). Posso estar
enganado, mas política boa é aquela na qual o todo faz parte, beneficia-se.
Afagos vazios não passam de patifarias exercitadas através de muitos engodos.
Fique atento.
Imagine, por exemplo, se tu me mostrares um chapéu
enorme e ridículo e eu, por agrado, te disser que ele é bonito e adequado para
ir ao cinema. Na certa que vais adorar saber de minha aprovação. Contudo,
quando chegar ao destino, as pessoas irão te maltratar, rir de ti. Percebeste? Minha
indiferença te faria um palhaço estorvador de sessão. Confesso que no caso do
chapéu, o ódio parece até ameno, se formos pensar. Por outro lado – e esse é o
melhor de tudo –, vais me amar pela minha falta de consideração. Ainda bem, os
condenados serão os que estavam no cinema, claro, nunca eu. Entendeste a
relação?
Sim, estou chateado por conta de tudo isso, pois quando
a falha no caráter torna-se uma verdade; a verdade é que se torna uma falha –
rachaduras no plural. Não sou Cassandra, mas prevejo mais 500 anos de
'involução', malandragem, 'deseducação', pouca criticidade, comprometimento e
'terceiromundicíces'. Continue ouvindo a quem te é indiferente, e regrida. Na certa
que ele nunca terá úlceras, tu sim.
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