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sábado, 26 de março de 2016

O CONTRÁRIO DO AMOR NÃO É O ÓDIO; É A INDIFERENÇA

Se não gosto. Não me ocupo. Não me gasto. Evito ao máximo.
Esses são os principais fundamentos para que algumas úlceras se mantenham distantes de nós. Porém, mesmo correndo riscos, devemos sim (quando necessário) interferir, inferir. Gostar é outra coisa, temos esse direito. Refiro-me à política. Ao comprometimento com o trabalho. À sociedade. Evitar o que é de nossa responsabilidade é a maneira mais hipócrita de assumir uma culpa que, ironicamente, vamos sempre negar, jogar aos outros.
Pois é. Em curto prazo, conservar-se sossegado parece até bom, isso qualquer um admite. Mas esse conforto esconde algo muito perverso. Quando não fazemos nada (mesmo podendo fazer) jogamos para o colo dos outros todo peso que, de nossa parte, nos cabe aliviar. Perceba que nesse caso a indiferença é sim o contrário do amor (veja bem! Aqui o ódio é até inocente), pois quando não queremos nos incomodar/ desassossegar é inevitável que alguém pague sozinho pelo prejuízo – estrago que em alguns casos chega a ser irreparável e – por que não dizer? – cruel. Verdade, somos responsáveis por muitas úlceras alheias quando cruzamos os braços. Pense nisso.
Também venho reparando que as pessoas não se dão conta disso. Politicar quando na verdade se deveria trabalhar, nem sempre é a melhor solução para o conjunto do qual fazemos parte. Isso só é bom para o politiqueiro (e não estou falando somente dos partidaristas). Posso estar enganado, mas política boa é aquela na qual o todo faz parte, beneficia-se. Afagos vazios não passam de patifarias exercitadas através de muitos engodos. Fique atento.
Imagine, por exemplo, se tu me mostrares um chapéu enorme e ridículo e eu, por agrado, te disser que ele é bonito e adequado para ir ao cinema. Na certa que vais adorar saber de minha aprovação. Contudo, quando chegar ao destino, as pessoas irão te maltratar, rir de ti. Percebeste? Minha indiferença te faria um palhaço estorvador de sessão. Confesso que no caso do chapéu, o ódio parece até ameno, se formos pensar. Por outro lado – e esse é o melhor de tudo –, vais me amar pela minha falta de consideração. Ainda bem, os condenados serão os que estavam no cinema, claro, nunca eu. Entendeste a relação?
Sim, estou chateado por conta de tudo isso, pois quando a falha no caráter torna-se uma verdade; a verdade é que se torna uma falha – rachaduras no plural. Não sou Cassandra, mas prevejo mais 500 anos de 'involução', malandragem, 'deseducação', pouca criticidade, comprometimento e 'terceiromundicíces'. Continue ouvindo a quem te é indiferente, e regrida. Na certa que ele nunca terá úlceras, tu sim.  


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