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sexta-feira, 24 de julho de 2015

PAIS E FILHOS


Tente entender o leste do horizonte, se conseguir se emocionar ao nascer do Sol, saberá o que um homem sente ao ser iluminado pai.

Não me pergunte o que é ser (pai), há coisas que precisamos sentir. Tal como um compositor ao ouvir a orquestra que ama, dando voz a sua obra pela primeira vez. Quando isso acontece, tudo fica bem ali, escondido no paladar que lambe sutilmente aquele chorinho instalado para sempre em nossos ouvidos. O problema é que sentimos as músicas de maneiras diferentes, é impossível precisar uma verdade tão plural quanto esta. Pois é. Difícil entender. Assim como há muitas canções, há também sentimentos que ‘infinitamos’ a partir de cada uma delas. Ou seja: o que parece comum para uns; é um universo inteiro para outros. As línguas de nossos corações degustam o mundo, separando-o, inexplicavelmente, em outros que (antes de provarmos) nem sabíamos que habitavam dentro de nós.
“Cara, quando eu a vi nascendo, chorei!” Eis o desabafo de um amigo ao ver sua filha (a Sofia) enquanto entrava no mundo. As emoções se confundiam, as lágrimas se misturaram em uma vontade gigantesca de existir. Sua voz, inclusive, estava rouca de tanto dizer para si mesmo: “Foi o que fiz de melhor nesta vida!”.
 Saiba amigo, a música dá ouvidos à Vida. Dá voz a todos os silêncios. Desregra o estômago do Tempo com suas tintas. Por isso é que faço ideia de seu estado, estado de pai, daquele ser que se “amorosa” ao ter contato com aquelas mãozinhas que julga melhor do que as suas. E é. Ninguém poderá dizer o contrário, porque ela é uma pintura que ajudou a fazer: é a repercussão impecável de seu pequeno concerto, maestro! Sim, o amor é estranho, não sabemos direito de onde vem. Se do corpo, se da alma, ou se de uma criança que nasce... Mas sabemos sobre a cura – e o pensamento sobre a cura, quanto mais profundo, nos ‘enfebra’ ainda mais. Deixe-se febril, pois o amor não é preciso (no sentido de precisão, exatidão). Contemple, chore... Não tente entender, só sinta a quentura.
Enfim, invisto em uma metáfora para concluir, para tentar ler a ocasião. Aí vai:
O dia parece brotar em pequenos concertos. Primeiro a lua, devagarzinho, se ‘desilumina’ para que outras luzes possam se horizontar. Depois o latejo de alguma vida vai dando cor e forma aos silêncios que engravidam o leste das distâncias. E um a um, os pássaros parecem entender tudo em um grandioso coro que se esvoaça em um grandiloquente parto do Sol. E então a pequena chega, seu pai chora, dando vida a um dia inesquecível e de pura sabedoria. Porque eis que surge o dia de Sofia.


Voilà!

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