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quarta-feira, 29 de julho de 2015

TEMPO DE DESPERTAR

“Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden,dass er nichts mehr hält.”
                                    (Rainer Maria Rilke)

Hoje pensei meu próprio corpo como uma prisão. Não uma prisão qualquer. Pensei no que seria se ele estivesse imóvel e surdo para meus comandos. Daí, envolvido por um filme que passava na televisão, parei para acompanhar um personagem enquanto recitava um poema de Rilke, Der Panther ("A pantera"), para ser exato. “Quanta delicadeza!” – pensei. “Será que as coisas se organizam para que possamos pensar melhor sobre elas?” “Improvável!” – atendeu um lado mais racional de mim. “Na certa já estavam por ali, eu é que não tinha olhos para tanta reunião.”
Sei que o leitor está curioso para saber que filme é esse. Confie nos sentidos, o nome é o mesmo que dá título a este texto, meu caro! A obra trata da história de um médico (interpretado por Robin Willians) que é contratado para trabalhar em uma clínica psiquiátrica. Em determinado momento, para sua surpresa, se depara com uma realidade nova – ele nunca havia clinicado. Perdido na vida (era tímido e antissocial) encontra, entre os pacientes, o Sr. Leonard (Robert de Niro) que, carregando uma doença misteriosa, passou trinta anos da vida em estado de vegetação. Enfim, quando conseguiu se comunicar, soletrou em um tabuleiro “ouija”, não o seu nome, preferiu um poema, “A pantera”. O espirito humano é realmente muito mais forte do que as grades.
Através da tradução de Augusto de Campos, deixo vazar dois versos do poema que expus acima. Eis a Pantera:
 De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Não foi a única via que já me fez pensar na existência. Há muito que reflito sobre. Quando deixo de brincar com minhas filhas, penso nisso. Ao furtar um tempo maior com a família, mais outro. E assim vamos ficando para dentro. Não é à toa que o nome do paciente do filme se chamava Leonard (lembra lion, leão, só que aprisionado). Quantos felinos a rotina ainda vai aprisionar? Quantos jardins precisaremos ainda matar para que possamos desacelerar e refletir sobre o que deixamos para o lado de fora da grade?
Sugiro que pare de ler este escrito e vá imediatamente até o gramado. Solte os pés e ande descalço sobre ele, porque não, os olhos não concordam com os espíritos. Ignoram todos. Conversam de longe, ali, cada par por detrás de seu próprio vitral. Essas são as nossas gaiolas.

Carpe diem! Agora vai! Ainda dá tempo de despertar. 

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