“Sein Blick ist
vom Vorübergehn der Stäbe
so müd
geworden,dass er nichts mehr hält.”
(Rainer
Maria Rilke)
Hoje pensei meu próprio
corpo como uma prisão. Não uma prisão qualquer. Pensei no que seria se ele
estivesse imóvel e surdo para meus comandos. Daí, envolvido por um filme que
passava na televisão, parei para acompanhar um personagem enquanto recitava um
poema de Rilke, Der Panther ("A
pantera"), para ser exato. “Quanta delicadeza!” – pensei. “Será que as
coisas se organizam para que possamos pensar melhor sobre elas?” “Improvável!”
– atendeu um lado mais racional de mim. “Na certa já estavam por ali, eu é que
não tinha olhos para tanta reunião.”
Sei que o leitor está
curioso para saber que filme é esse. Confie nos sentidos, o nome é o mesmo que
dá título a este texto, meu caro! A obra trata da história de um médico (interpretado
por Robin Willians) que é contratado para trabalhar em uma clínica psiquiátrica.
Em determinado momento, para sua surpresa, se depara com uma realidade nova – ele
nunca havia clinicado. Perdido na vida (era tímido e antissocial) encontra,
entre os pacientes, o Sr. Leonard (Robert de Niro) que, carregando uma doença
misteriosa, passou trinta anos da vida em estado de vegetação. Enfim, quando
conseguiu se comunicar, soletrou em um tabuleiro “ouija”, não o seu nome, preferiu
um poema, “A pantera”. O espirito humano é realmente muito mais forte do que as
grades.
Através da tradução de
Augusto de Campos, deixo vazar dois versos do poema que expus acima. Eis a
Pantera:
De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu
e nada mais aferra.
Não foi a única via que
já me fez pensar na existência. Há muito que reflito sobre. Quando deixo de
brincar com minhas filhas, penso nisso. Ao furtar um tempo maior com a família,
mais outro. E assim vamos ficando para dentro. Não é à toa que o nome do
paciente do filme se chamava Leonard (lembra lion, leão, só que aprisionado). Quantos felinos a rotina ainda vai
aprisionar? Quantos jardins precisaremos ainda matar para que possamos desacelerar
e refletir sobre o que deixamos para o lado de fora da grade?
Sugiro que pare de ler
este escrito e vá imediatamente até o gramado. Solte os pés e ande descalço
sobre ele, porque não, os olhos não concordam com os espíritos. Ignoram todos.
Conversam de longe, ali, cada par por detrás de seu próprio vitral. Essas são
as nossas gaiolas.
Carpe
diem!
Agora vai! Ainda dá tempo de despertar.
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