Sou
incapaz de dizer algo para além da fala, a alma precisa saber braile, deixar-se
invadir pelos ‘falos’, que são os dedos. Por isso escrevo.
‘A língua portuguesa é
minha pátria’, já escreveu certa vez Fernando Pessoa. Só que não escrevemos em
uma única língua. A escrita, em qualquer idioma, é um modo de organizar os
pensamentos. Trata-se de uma leitura fina que fazemos de nós mesmos, por isso nosso
país não ESTÁ, ele É aquela linguagem que usamos para pensar o mundo. Logo, –
cuidado! – nela também somos pensados. Os ventos (independente da nau) podem
dizer muito mais sobre o navegador do que o porto em que ele pretende chegar. Portanto,
devemos tecer nossas velas com os instrumentos que temos. Não é necessário
furá-las com agulhas difíceis e intransponíveis à grossura dos panos. Ela
precisa ser leve e bem feita. Em outras palavras: use expressões simples e que
lhes sejam familiares. Brinque com elas, fabrique um mundo organizado com o que
tem. Termos obscuros não clareiam nenhuma ideia. São como furos responsáveis
pelo vazamento do vento. Isso desacelera o barco e incomoda os passageiros que
pretende levar. Eles têm pressa e esperam que você os conduza bem.
Repetições de palavras
também são nódulos que precisamos tirar. Um texto não é como a fala, ele
precisa estar limpo – problemas recorrentes nas peles que os mastros seguram. E
que feia fica uma vela cheia de fios soltos. O que me faz lembrar às velhas
bordadeiras. Observem-nas e aprendam. Elas não têm pena de destruir uma coberta
inteira, tudo porque no meio dela há um fio solto. Quando (des)cobrem isso, puxam
a linha até a parte que não se alinhou. E prosseguem dali. Como são sábias as
velhinhas. Velhas capazes de tecer lenções perfeitos para grandes veleiros.
Sim, quero dizer com
isso que produzir um texto requer um grande trabalho de releitura e desconstrução.
Jamais terminamos uma tessitura. Escrevemos por meia hora, mas precisamos
relê-la por duas. Segredinho para quem pensa que há “dom” para isso. “Aprendemos
a fazer, fazendo.” Faça, e não tenha medo de ter que refazer, pois se não o
fizer, não será capaz de atravessar nem sequer um riozinho. O tema que escolheu
é um mar inteiro, não o subestime. A jornada é longa e um furo, seja no casco,
seja na vela pode sim te afundar, ou se tiver sorte, só te atrasar. Cuidemos
com isso.
Podem acreditar – todos
nós vivemos um caos. Saibam que é muito difícil ser simples, complexo todos já
somos. Eis o motivo pelo qual os novelos devem ser desenrolados devagar. Se
achar complicado desenrolá-lo todo, enrole novamente, desfie o que já fez e
recomece. É necessário estar preparado para quando ventar, pois quando o ar se
movimentar, carecemos dar direção ao destino desejado. Ele é que levará nosso
barco para além do oceano exigido.
Enfim, quer ser o
capitão dessa caravela chamada Redação do Enem? Então afaste este texto, pegue
uma folha e uma caneta e comece já a construir sua própria embarcação. Firme o
mastro. O papel será sua vela.
Vamos trabalhar,
marujos!
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