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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

(A)CORDA SOL...

                                                                                                  Todos são tocados pelos próprios tambores.

Outro dia, esperando minha filha enquanto consultava o médico, ouvi algumas pessoas em uma prosa feliz – não tenho culpa, os ouvidos não funcionam como os olhos, eles não podem ser fechados, vivem de forma autônoma.  Enfim, precisei ‘desacontecer’ um pouco para poder entender e acompanhar a animação que acontecia por ali, bem atrás de mim. Falavam sobre histórias cheias de lonjuras e outras, aparentemente, pouco mais próximas. “Doentes mais faceiros!” – pensei. Quando se aproximou uma senhora. Parecia tímida e perdida. Entregou alguma coisa, um papel. “Será que podem me dizer o que está escrito aqui? Eu não sei ler.” Todos pararam e a atenderam, penso que se tratava de um exame. Fiquei feliz que o bom humor era realmente bom. Ajudaram e a aconselharam. Inclusive, para minha surpresa, uma se ofereceu para ir com ela resolver o probleminha. Sim, havia motivos para sorrir. Os corpos estavam doentes, imagino (já que aguardavam consulta), só que as almas não, todas intactas e livres para outro nível de afinação: a do respeito.  
... e minha moça apareceu. No caminho, depois de perguntar sobre sua saúde, claro, contei o que havia acontecido. Nada disse. Preferiu sorrir. Acho que era um de meus espíritos que não estava muito afinado mesmo – na certa a corda SOL. Minha filha pareceu ter entendido bem. Quanto a mim, através daquelas frestas, pude abrir a janela que nem sabia que estava fechada pelo lado de dentro. Abriram-me pelos ouvidos e pelo amor, ops, humor.
Espero que minha menina perdoe tanta surpresa, como se não pudesse existir atitudes assim. “Pequena.” – diriam alguns. “Elas não são sempre assim.” – mais outros. Pois então. E quem de nós pode ser? Somos tantos por debaixo das peles! Hoje tive sorte, até. Fui testemunha de um daqueles momentos bonitos que acontecem para fora. Por isso resolvi contar aqui. Medo que se perca.
Desassombrar, enfim, eis a lição. Livrar o mundo daqueles 'eus' que amam desmedidamente a si próprios e que afastam outros tantos espíritos que, logicamente, não podem ser cópias suas. Ensaiar os humores é preciso, pois mesmo sendo impossível ver-se como um outro, acabamos sendo outro outros para outros também. Exorcizemos nossos Narcisos antes que eles nos prendam nos espelhos de alguma lagoa triste e solitária por ali, em algum cantinho de dentro de nós mesmos.
Agora compreendo por que sorriam tanto. Na próxima quero ouvir cantores...

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