Todos são tocados pelos próprios
tambores.
Outro dia, esperando
minha filha enquanto consultava o médico, ouvi algumas pessoas em uma prosa
feliz – não tenho culpa, os ouvidos não funcionam como os olhos, eles não podem
ser fechados, vivem de forma autônoma. Enfim,
precisei ‘desacontecer’ um pouco para poder entender e acompanhar a animação
que acontecia por ali, bem atrás de mim. Falavam sobre histórias cheias de
lonjuras e outras, aparentemente, pouco mais próximas. “Doentes mais faceiros!”
– pensei. Quando se aproximou uma senhora. Parecia tímida e perdida. Entregou
alguma coisa, um papel. “Será que podem me dizer o que está escrito aqui? Eu
não sei ler.” Todos pararam e a atenderam, penso que se tratava de um exame.
Fiquei feliz que o bom humor era realmente bom. Ajudaram e a aconselharam.
Inclusive, para minha surpresa, uma se ofereceu para ir com ela resolver o
probleminha. Sim, havia motivos para sorrir. Os corpos estavam doentes, imagino
(já que aguardavam consulta), só que as almas não, todas intactas e livres para
outro nível de afinação: a do respeito.
... e minha moça
apareceu. No caminho, depois de perguntar sobre sua saúde, claro, contei o que
havia acontecido. Nada disse. Preferiu sorrir. Acho que era um de meus espíritos
que não estava muito afinado mesmo – na certa a corda SOL. Minha filha pareceu
ter entendido bem. Quanto a mim, através daquelas frestas, pude abrir a janela
que nem sabia que estava fechada pelo lado de dentro. Abriram-me pelos ouvidos
e pelo amor, ops, humor.
Espero que minha menina
perdoe tanta surpresa, como se não pudesse existir atitudes assim. “Pequena.” –
diriam alguns. “Elas não são sempre assim.” – mais outros. Pois então. E quem
de nós pode ser? Somos tantos por debaixo das peles! Hoje tive sorte, até. Fui
testemunha de um daqueles momentos bonitos que acontecem para fora. Por isso
resolvi contar aqui. Medo que se perca.
Desassombrar, enfim,
eis a lição. Livrar o mundo daqueles 'eus' que amam desmedidamente a si
próprios e que afastam outros tantos espíritos que, logicamente, não podem ser
cópias suas. Ensaiar os humores é preciso, pois mesmo sendo impossível ver-se como
um outro, acabamos sendo outro outros para outros também. Exorcizemos nossos
Narcisos antes que eles nos prendam nos espelhos de alguma lagoa triste e
solitária por ali, em algum cantinho de dentro de nós mesmos.
Agora compreendo por
que sorriam tanto. Na próxima quero ouvir cantores...
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