“Tudo o que não invento é falso.”
(Manoel de Barros).
Não passo de um
'estoriador' de memórias inventadas. Um coletor de imagens perdidas e
‘amanoeladas’. Um vagabundo ‘passarinhador’ de coisa nenhuma. Mestre do nada e
doutor na engenharia de encher vazios. Sei também que o que uma criança vê você
já esqueceu. Deixou guardado demais os olhos daqueles meninos. Quais meninos?
Ora! Aqueles que você foi.
Quanto as minhas
vagabundagens, elas só vieram à tona quando descobri a "Palavra
Criança", desde então fico brincando e me esqueço de horizontar o tempo
dos adultos, deixo explodir aqueles que te acusei de esquecer (os meninos, os
nadas). Acho até que todas as palavras deveriam ser 'encriançadas', explodidas.
Palavra não é coisa que se engarrafe:
"Pedrada no vidro.
O vidro quebrou. Garrafa quebrada. Desculpe, sinhô!'"
Ah, não consigo
parar... virei guri, sô!
Nunca consegui, fora da
palavra (música eu não sei fazer), unir determinado tempo a um dos de mim.
Difícil escolher um daqueles – em um só ano podemos ser tantos! Bem diferente da
matemática. Nela sobram dedos, um mais um sempre dará dois. A escrita, a poesia, nos ajuda a não dizer
'coisa que vivi'. 'Coisa' é o nu, o pelado que ainda não se 'empalavrou'.
Beija-flor! Pronto. Já vesti dois. Parece um, não parece? Próximo!
Se estou mentindo? Nunca.
Quando escrevo, toda a história que invento é a mais pura verdade. Outro dia
mesmo, ao passar em frente de uma casa, recordei que ali morava um antigo
amigo. Foi por acaso. Mesmo assim, olhei e logo senti sobre os ombros uma
cachoeira repleta de imagens – estávamos na primeira série. E embebido naqueles
"ontens", subi para respirar. Foi quando a lucidez me encheu de
presentes: "Não sabe dele. O amigo não é mais o que anda cheio de barbas
aí pelo mundo. Aquele que foste é que sabia daquele que ele foi. Ali é que se
conheciam. No mais são estranhos." Só que o reencontrei aqui, nestas
linhas. Onde também o deixo.
Pois é, o poeta tinha
razão: “Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.”
Escrevendo sinto-me até um maestro de cada um dos de “mins”. Afinar todos é que
é difícil. Os meninos não param de meter os dedinhos neste texto (não sei se
repararam), desconhecem a doença da razão e da coerência textual. Deixo que
brinquem. Aqui foram eles que me dedilharam, inventaram coisas, estes arteiros.
Por isso, perdão aos adultos que clamavam por um texto bom. ‘Vagamundei’, desrespeitei a
lei. Aqui foram os garotos que trabalharam por mim.
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