Cada homem é uma raça.
(Mia Couto)
Não é raro alguém se
surpreender quando se depara com um tipo baixinho, mestiço, vestindo roupas
fora de moda e ainda por cima desenvolvendo diálogos pouco mais afinados para
sua aparência. Nestes momentos, confesso, sempre me lembro de Machado de Assis
e de Sócrates. O primeiro, igualmente, baixinho; igualmente, mestiço... talvez
não encontrasse público para estes dias, nem ao menos como professor de
literatura (pelo menos não em determinados lugares: olhos escuros demais não
passam credibilidade). Já o segundo, se lhe fosse negado a voz (e negariam), na
certa, também morreria em si mesmo. Ficaria ali, como um mendigo barbudo e
faminto de “querer dizer”. Enfim, nenhum deles conseguiria espaço por não
atenderem a nenhuma exigência “modelo”. Pois então.
Não exagero, já que são
exatamente os elementos que tanto negamos, mas que andam presentes nas
estrelinhas que só aparecem quando alguma nuvem ‘desengorda’ um pedacinho de
céu. Pareço meio maluco escrevendo isso. Só que não. Observem a sua volta.
Deixem de lado os lados que te querem parciais. Estamos ficando cegos de tanto
olharmos paredes, meus amigos. Sempre é bom observar melhor o que existe além
do que podemos ver. Ou melhor: é bom sairmos dos redondinhos dos olhos, há um comércio
que nos vende esse tipo de redoma fumê...
Vejamos. Todos já devem
ter ouvido falar em Alexandre Dumas. Está bem, vou facilitar. Ele escreveu “Os
três mosqueteiros”. Ah, viram?! Não ficou mais claro? Errado! Dumas foi mulato,
era filho de uma escrava liberta. Surpresos? Não se surpreendam, Senhores. Ele
não foi o único, outro dia conto sobre outros... Contudo, continuando, por
conta do preconceito, seu corpo só foi transferido para o “Panteão Francês” há
pouco tempo, em 2002 (lembrando que faleceu em 1870). Bom, pelo menos hoje já
pode apodrecer em paz junto a outros gênios, já que foi (re)enterrado ao lado
de Victor Hugo e Voltaire.
Enfim (só para provocar!),
vocês deixariam seus filhos terem aulas de poesia com um Cruz e Sousa? Ele era
negro, se não sabem. Sei que diriam que sim, mesmo que na prática digam sempre não. E censurar como? Poesia parece estar tão fora de moda. O que vale? Não
respondam. As repostas conhecemos bem.
Sigamos a vida...
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