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terça-feira, 18 de agosto de 2015

SOBRE O QUE PRECISAMOS PARECER...

Cada homem é uma raça.
 (Mia Couto)

Não é raro alguém se surpreender quando se depara com um tipo baixinho, mestiço, vestindo roupas fora de moda e ainda por cima desenvolvendo diálogos pouco mais afinados para sua aparência. Nestes momentos, confesso, sempre me lembro de Machado de Assis e de Sócrates. O primeiro, igualmente, baixinho; igualmente, mestiço... talvez não encontrasse público para estes dias, nem ao menos como professor de literatura (pelo menos não em determinados lugares: olhos escuros demais não passam credibilidade). Já o segundo, se lhe fosse negado a voz (e negariam), na certa, também morreria em si mesmo. Ficaria ali, como um mendigo barbudo e faminto de “querer dizer”. Enfim, nenhum deles conseguiria espaço por não atenderem a nenhuma exigência “modelo”. Pois então.
Não exagero, já que são exatamente os elementos que tanto negamos, mas que andam presentes nas estrelinhas que só aparecem quando alguma nuvem ‘desengorda’ um pedacinho de céu. Pareço meio maluco escrevendo isso. Só que não. Observem a sua volta. Deixem de lado os lados que te querem parciais. Estamos ficando cegos de tanto olharmos paredes, meus amigos. Sempre é bom observar melhor o que existe além do que podemos ver. Ou melhor: é bom sairmos dos redondinhos dos olhos, há um comércio que nos vende esse tipo de redoma fumê...
Vejamos. Todos já devem ter ouvido falar em Alexandre Dumas. Está bem, vou facilitar. Ele escreveu “Os três mosqueteiros”. Ah, viram?! Não ficou mais claro? Errado! Dumas foi mulato, era filho de uma escrava liberta. Surpresos? Não se surpreendam, Senhores. Ele não foi o único, outro dia conto sobre outros... Contudo, continuando, por conta do preconceito, seu corpo só foi transferido para o “Panteão Francês” há pouco tempo, em 2002 (lembrando que faleceu em 1870). Bom, pelo menos hoje já pode apodrecer em paz junto a outros gênios, já que foi (re)enterrado ao lado de Victor Hugo e Voltaire.
Enfim (só para provocar!), vocês deixariam seus filhos terem aulas de poesia com um Cruz e Sousa? Ele era negro, se não sabem. Sei que diriam que sim, mesmo que na prática digam sempre não. E censurar como? Poesia parece estar tão fora de moda. O que vale? Não respondam. As repostas conhecemos bem.
Sigamos a vida...


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