Quando esquecemos um espelho de frente para outro,
eis que temos dois abismos – infinitas repetições de labirintos que se devoram
o dia inteiro.
A situação do
magistério sempre andou pelas margens. Margens de um rio que viaja torto e que
vai causando erosão nessas beiradas que segura a correria da vida. Estas águas
(as da vida) são importantes – ninguém pode negar – são elas que molham a História,
fazendo com que cada um de nós maruje nesta única via de navegação. O problema
é que não há tráfego sem rota. Não há um “chegar lá” sem as marginais que
seguram as curvas para que possamos passar, para que o rio possa continuar, já
que, ao ter que seguir, também causa destruição.
Quero dizer que os
professores são como raízes bem firmes e que não permitem que a rota se acabe
pela própria força em que cruzamos o mundo. Corrida perdida naquela ânsia que
vai corroendo ao passar. Eles (os professores) são os que mantêm este curso, o
trânsito que nos leva aos portos que precisamos atracar. Marginais? Pode ser.
Toda margem precisa ser conservada firme para que a terra não condene a
passagem ao erodir. Firmeza que anda se dissipando em um fenômeno chamado ‘guerra
de raiz’, epidemia perigosa na qual uma sufoca a outra ao tramarem-se.
Como podemos perceber,
temos dois perigos: a do rio que passa nervoso diante de nós; mais a doença que
chamarei aqui de “guerraiz”. Situação confusa e que prossegue cheia de razões.
Razões tão ‘desrazoadas’ a ponto de deixar muitas raízes doentes e fracas para
segurarem, junto com as outras, a força da natureza e daquela correnteza que nos
empurra a vida. Se as próprias margens mantêm marginais suas aliadas, o que
dirá da ansiedade que tanto nos exige o mundo do “quero passar”?
Pois é. Cada um de nós,
professores, é como uma margem cheia de curvas que quer, sozinha, dar rumo ao
rio. Só que desse modo ele não encontra rumo.
É preciso de um outro lado para conter a força das águas, pois não há
corrente sem as duas partes, não há vazão.
Deixemos de vaidades. A
vaidade é uma máscara arquitetada para o lado de dentro do rosto. Ela é tão
inútil quanto ridícula, uma vez que deixa os lábios à deriva, vulneráveis para
quem quiser ler: este é o pecado favorito do mais íntimo de nossos demônios. É
o que nos deixa sozinhos e enfraquece nossos sonhos. Uma árvore na barranca não tem profundidade suficiente para segurar a erosão. É necessário que se
interrompa a ‘guerraiz’ para que possamos, sim, potencializar o que (a)segura o
futuro.
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