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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ESCREVER É SAIR PARA DENTRO DE SI MESMO...

Quem escreve costura vozes, amarra imagens e tece com elas uma grande coberta que nos (des)cobre.

As palavras nos sondam, nos trazem para fora, nos expõem e nos desarmam. Tudo nos escapa. Nada sabe ser silêncio, tudo se vai – mesmo quando não queremos que vá. As palavras nos tornaram incompetentes para existir: elas é que nos existem. São anjos atletas, usam as próprias auréolas para treinar arremessos com nossas cabeças. Nenhuma deve ficar presa. Contidas, vão se tornando vozes que te acompanharão até os infernos. Quanto mais demorar a libertá-las, mais forte ficarão quando saírem – cedo ou tarde elas sempre saem, viram monstros. É certo, uns possuem o dom (mesmo que não acreditemos em dons) de organizar todos os sons em cores; outros, menos populares, em silêncios. Acho que pertencemos ao último. Por isso escrevemos, mesmo sabendo que cada palavra precisa ganhar tom em alguma voz, mesmo que se perca pelos cantos.
Quando escrever? Ora! Sempre começamos na hora certa, porque a hora começa agora, não deixa cauda, não mostra fim. Os relógios não sabem de nada. Os tempos, para fora deles, estão sempre prontos para novas multidões, para crescer. O mundo não diminui quando crescemos. Ele encolhe quando a poesia (que é elástica) cansa sua borracha e dá lugar à rotina, que, por sua vez, aperta nossas crianças. Sim, a escrita é que mantém organizadas as vozes de nossos pensamentos. A caneta deve ser como uma artéria. Quando o coração bombeia, suas tintas nos (ex)pulsam para o papel.
 Claro que nem sempre somos entendidos. A comunicação não pode ser entendida apenas como participação. Fazer parte de algo nem sempre quer dizer estar comungando com o todo. Contudo, o participante/leitor – se bem afiando – é quem ajuda a harmonizar a canção, pois temos muitas vozes, somos muitos, mesmo que só um dos de nós é que segure a pena, mergulhe-a nas tintas para sangrar no papel.
Por fim, acho que o mundo promoveu os escrevinhadores a arisco, medrosos que se escondem nas próprias entranhas. Ainda bem que, volta e meia, seus espíritos se vazam pelos dedos, desafiam-se para além das carnes e se reescrevem em abismos forasteiros. O que lês são meros cacos, limalhas caídas daqui, dali. Junte-as todas, se possível, e refaça todos eles com um pouco de ti. Não permita que alguma ‘escrevinhação’ siga quebrada neste escuro interior: leia!
É, acho que escrevemos para tentar existir, para existirmos um pouco em você... 

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